POVO HAITIANO EXIGE SAÍDA DO PRESIDENTE MOISE

Protestos no Haití exigem a saída do presidente Moise

Abaixo qualquer tentativa de intervenção imperialista!

Por Johan Madriz, 14/02/2019
Desde 7 de fevereiro, as principais cidades do Haiti estão paralisadas pelos protestos em massa que exigem a saída do presidente Jovenel Moise, diante da situação econômica precária do país e dos recentes casos de corrupção. Foi precisamente nesta data que se cumpriu o mandato de dois anos do presidente que prometera “comida em cada prato e dinheiro em cada bolso”, mas é também o 33º aniversário do fim da ditadura de Duvalier.

As ruas permanecem desertas, não há trânsito, instituições públicas e a maior parte do comércio fechou as portas. As barricadas apareceram ao longo das estradas principais. Centenas de jovens marcham para Petionville, a área mais rica e exclusiva da capital, atirando pedras nas luxuosas residências, incluindo a casa do presidente. Há saques, a polícia frustrou uma tentativa de assalto a um banco e deteve uma tentativa de incendiar a sede do canal estatal. Segundo alguns meios de comunicação, o número de pessoas mortas em confrontos com a polícia é estimado em sete.

O descontentamento é causado pela espiral do aumento dos preços e pela falta de emprego. A isso se soma uma investigação que traz à luz um desvio de fundos de pelo menos 2 bilhões de dólares do fundo Petrocaribe, um programa com o qual a Venezuela fornece petróleo a alguns países do Caribe e da América Central a preços reduzidos e com condições favoráveis de crédito. Cerca de 15 ministros e altos funcionários foram identificados no relatório do Tribunal Superior de Contas e ligados a uma empresa, há época, liderada pelo atual presidente.

A situação econômica do país caribenho é sinistra e se expressa em condições sociais muito precárias. Desde que Moise assumiu, a inflação aumentou em 15% e há uma desvalorização acelerada do gourde[1], o que leva a um aumento nos preços dos produtos de primeira necessidade, que são principalmente importadas. Há uma escassez de gasolina e querosene – as principais fontes de energia – que também causou uma crise de eletricidade.

O crescimento econômico do país é um dos mais baixos da região, em 2018 era de 1,4%, segundo a CEPAL e a pobreza é generalizada, mais da metade de seus dez milhões de habitantes sobrevivem com menos de dois dólares por dia. A esses elementos acrescenta-se a pouca legitimidade que tem o presidente, um empresário bananeiro que venceu as eleições com 55,67% dos votos (cerca de 591 mil) em uma corrida onde a abstenção ultrapassou 80% dos 6,2 milhões de eleitores registrados.

O povo haitiano vem resistindo e lutando há meses. Em junho passado, um aumento nos preços dos combustíveis desencadeou manifestações que levaram à demissão do então primeiro-ministro Jack Guy Lafontant. Entre setembro e novembro, houve manifestações massivas nas rua s antes das primeiras descobertas do escândalo do Petrocaribe.

Essa ira legítima se expressa em um descontentamento contra “os de cima”, sejam eles funcionários públicos ou empresários. Declarações de manifestantes toamdas pela Agencia France-Presse o evidenciam: “Se Jovenel não quiser sair, faremos com que a burguesia que o apóia sofra, para que entenda“; Enquanto outra pessoa afirma: “Um governo que não pode dar comida e água a seu povo deve renunciar, mas também precisa que a burguesia decida parar de monopolizar toda a riqueza. Nos bairros populares somos mais “.

A saída para a crise do país, o mais pobre do continente, que sofre de uma crônica instabilidade política, econômica e social devido à pilhagem e à exploração capitalista só pode ser resolvida por aqueles de baixo, pelos setores operários e oprimidos decidindo seu futuro. A saída não passa por nenhuma das receitas que a burguesia promove. Não é suficiente mudar o presidente se ele continuar sendo um representante dos empresários e do imperialismo. É por isso que temos que rejeitar os golpes que alguns setores da oposição estão propondo

Devemos também rejeitar o intervencionismo e as declarações do “Core Group” composto por França, Alemanha, Espanha, Brasil, Canadá e Estados Unidos, bem como representantes da ONU e da OEA. Todos ilegítimos para ditar medidas sobre o curso do país. Não é com a intervenção imperialista que esta crise será resolvida, não é como está fazendo o governo que enviou seu ministro das Relações Exteriores Edmond Bocchit a Washington para discutir a situação com John Bolton, Conselheiro de Segurança Nacional do reacionário Trump que patrocina o golpe de Estado. na Venezuela.

Tradução: José Roberto

[1]NT.: moeda haitiana. 1 gourde equivale a 4 centavos e meio de real (R$ 0,045)