DEBORAH LORENZO
Após décadas de negligência com o investimento em infraestrutura urbana e políticas públicas de habitação, que suprissem as necessidades de moradia segura da população petropolitana, o município de Petrópolis reviveu nesta terça-feira, 15 de fevereiro, uma dor já bem conhecida por seus conterrâneos. Estima-se que as chuvas atingiram a marca de 259,8 mm, equivalente ao período de um mês em apenas seis horas, deixando 117 vítimas fatais, 116 desaparecidos e 705 desalojados, acolhidos em postos de apoio, até o momento.
A Defesa Civil do Rio de Janeiro recebeu um alerta de possibilidade de chuvas isoladas com potencial para causar deslizamentos. As principais localidades em alerta seriam as regiões de serra e/ou densamente urbanizadas na região Serrana do Rio de Janeiro, onde localiza-se Petrópolis. O aviso foi emitido em 14 de fevereiro, segunda-feira, pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais). Contudo, nenhuma evacuação foi realizada na área.
Esta, contudo, não é a primeira vez que a população de Petrópolis e região sofrem com o período de chuvas intensas. Em 2011, 918 pessoas morreram após uma forte tempestade, na qual cerca de um terço da chuva prevista para o ano todo caiu em apenas um dia. Em 1988 o mesmo. Deslizamentos, desabamentos e enxurradas tiraram a vida de 134 pessoas. Apenas para citar 2 dentre os 36 casos que ocorreram na região entre 1991 e 2016, segundo dados de um relatório do estado do Rio de Janeiro formulado em 2018.
Segundo informações do Portal Transparência do governo estadual, o governo do Rio de Janeiro, gastou apenas 47% (R$ 193 milhões de um total de R$ 408 milhões) do previsto em orçamento no programa de prevenção e resposta a desastres em 2021. Uma política criminosa e genocida!
É insuficiente, no entanto, que as medidas pensadas para esta população sejam exclusivamente para períodos de catástrofe. Sem dúvida, é necessário um mapeamento das áreas de vulnerabilidade e um plano de infraestrutura que garanta mais segurança aos moradores. A ocupação desordenada, a falta de galerias pluviais ou em más condições, a falta de rede de esgoto, a densidade de construções (casas construídas/m2), topografia do local associada a desmatamento e crise climática, fruto do capitalismo predatório, são todos fatores importantes de se trabalhar em um projeto à longo prazo, em uma agenda de reformas associada à reivindicação, pressão e participação popular ativa.
Contudo, é importante entender que não são por si suficientes. É necessário lutar por mudanças estruturais mais profundas e entranhadas não sociedade de classes. É fundamental lutar por uma agenda antirracista, anticapitalista, classista e socialista, que, de fato, reveja as prioridades governamentais, a começar dos investimentos e reformas mais emergentes acima citados.
Solidarizamo-nos com a imensa dor dos milhares de petropolitanos que estão sofrendo com os impactos diretos ou indiretos desta tragédia evitável. Colocamo-nos fraternalmente ao seu lado na luta por políticas públicas não apenas circunstanciais, mas estruturais.
Referências: