Por Víctor Artavia
Com a colaboração de Pedro Cintra
Há algumas semanas, por iniciativa da CSP-CONLUTAS, foi constituído o Comitê de Luta pelas Liberdades Democráticas e Direitos Sociais. Sem dúvida, é um espaço progressivo, já que possibilita um ponto de encontro entre setores da esquerda socialista para discutir a conjuntura política e, ainda mais importante, se coloca como uma ferramenta que facilita a construção da unidade de ação com independência de classe.
Embora fosse convocado emergencialmente para responder aos bloqueios das estradas por parte dos grupos bolsonaristas após as eleições, na última reunião, acontecida no dia 21 de novembro, houve acordo entre as organizações em manter o comitê de forma permanente para impulsionar ações contra possíveis ataques da ultradireita no próximo período.
Além disso, houve um diálogo fraterno entre as organizações de esquerda, delegados sindicais e ativistas antifascistas presentes na reunião sobre o caráter do espaço. Na ocasião, os companheiros do PSTU defenderam que o eixo do comitê seja a preparação da autodefesa operária e popular diante as ameaças dos bolsonaristas.
Nós da corrente SoB, ainda que tivéssemos acordo com essa tarefa, acrescentamos que o comitê não poderá ficar somente na oposição contra à ultradireita, pois diante da atual conjuntura, é preciso preparar a luta contra os ataques que o novo governo Lula-Alckmin vai implementar como parte de sua frente ampla com setores da burguesia. Um exemplo do que vem por aí é o apoio do PT e de outras legendas “progressistas” à reeleição de Arthur Lira, arquiteto do orçamento secreto e inimigo declarado dos trabalhadores. Além disso, colocamos para à discussão a necessidade de construir uma frente da esquerda revolucionária e anticapitalista, que, além de impulsionar as lutas cotidianas, abrigasse o objetivo de tornar-se uma alternativa política da vanguarda em um cenário caracterizado pela polarização entre dois campos burgueses (o bolsonarismo e a frente ampla chefiada pelo PT) e a reorganização da esquerda socialista no Brasil, marcada pela capitulação programática do PSOL e sua adesão acrítica ao frenteamplismo.
Durante a conversa, outras companheiras e companheiros trouxeram elementos valiosos para a discussão, por exemplo, o repúdio generalizado entre os professores estaduais diante do convite que Tarcísio de Freitas fez para que Renato Feder – reconhecido defensor da privatização e da militarização do ensino público – assuma a secretaria de Educação do Estado de São Paulo (uma declaração de guerra contra à educação pública!). Além disso, outros companheiros apontaram a difícil situação dos operários para garantir sua liberdade sindical nas fábricas devido aos ataques da burocracia sindical e das patronais. O episódio mais recente foi a demissão pela GM do companheiro Mancha, liderança dos metalúrgicos e da CSP-CONLUTAS.
O Comitê encaminhou um seminário de autodefesa para janeiro (em uma data a se definir proximamente), embora exista a possibilidade de ampliar a pauta de temas nas próximas semanas. Nós consideramos que, além da autodefesa, o seminário deve ser orientado para outros tópicos. Por exemplo, no caso de São Paulo é preciso discutir táticas para impulsionar um encontro estadual de todos os setores e entidades – centrais sindicais, movimento estudantil, movimento negro e de mulheres, etc.- com disposição de preparar a luta contra o governo de Tarcísio.
Se o Comitê liga a tarefa da autodefesa com a tática da unidade de ação com independência de classe, pode tornar-se um espaço de referência para outros movimentos e fortalecer suas fileiras (por exemplo, estender o convite a representantes das torcidas organizadas ao seminário) e, mais importante, ser uma ferramenta para superar a fragmentação que impera nos movimentos sociais. Embora em São Paulo o bolsonarismo tenha obtido uma vitória importante com a eleição de Tarcísio, no cenário nacional houve uma mudança de qualidade com a derrota de Bolsonaro, pelo qual a situação apresenta melhores condições para impulsionar a luta contra os ataques da burguesia.
Temos que aproveitar a derrota tática de Bolsonaro nas eleições para construir uma maior unidade para lutar. Só assim será possível mudar a correlação de forças adversas em favor da classe operária e o conjunto dos setores explorados e oprimidos no Brasil.