A partir do O partido como uma força permanente organizada, vamos publicar, a cada semana, uma das treze notas do que estamos denominando como SÉRIE PARTIDO. Estes são textos de Roberto Sáenz (dirigente do Nuevo Mas e da Corrente Internacional Socialismo ou Barbárie) escritos com o objetivo de formar politicamente a juventude do partido e do movimento em geral. Trata-se de um conjunto de elaborações que vão desde a concepção mais geral do papel indispensável dos partidos revolucionários na luta de classes e nos processos autenticamente socialistas até notas sobre temas mais específicos, como trabalhar sobre uma lista de contatos políticos para captá-los, passando pela formulação marxista da politica, táticas de luta, trabalho com o jornal e outros desafios do trabalho revolucionário. Além de publicados separadamente a cada semana, em breve iremos disponibilizar esse conjunto de textos na forma de caderno político em PDF.

O primeiro texto da Série Partido, que é um fragmento de curso de formação intitulado “Lo que todo militante debe saber sobre la política revolucionaria” dado originalmente à militância do Nuevo MAS, parte do pressuposto leninista de que construir partidos revolucionários de vanguarda é indispensável ao processo revolucionário como um todo, ou seja, antes, durante e após a revolução – a quebra do caráter revolucionário do partido de Lênin durante os anos 20 do século passado provou isso de forma dramática. A nota continua demonstrando que a construção do partido revolucionário não pode ser realizada recrutando indiscriminadamente qualquer membro da classe trabalhadora ou dos setores explorados e oprimidos, mas sim a partir daqueles que atingem, em sua experiência na luta de classes e com as tendência politicas que atuam nela, a consciência politica revolucionária. Por fim, que esse partido para crescer e ter o papel histórico que lhe cabe na luta de classes, tem que saber combinar os interesses mais gerais dos explorados e oprimidos e a sua própria construção como partido revolucionário, desta forma, não pode ser internista e nem movimentista, sectário ou oportunista, ou qualquer combinação entres esses quatro elementos. Saber combinar a agenda geral da luta com a agenda de recrutamento, formação e elaboração política e teórica, ou seja, da construção do partido, é fundamental para formar os quadros que serão decisivos para a luta de classes, tanto os imediatos quanto os históricos.   

Redação

O partido como uma força permanente organizada

ROBERTO SÁENZ

A crise mundial em curso e a extensão universal de um ciclo de rebeliões populares estão criando melhores condições para a construção de partidos revolucionários internacionalmente. Aqui abordaremos apenas um aspecto do problema: aprender a afirmar os interesses do partido como um fator organizado permanente.

O partido não reúne todos os trabalhadores por sua condição material, mas apenas aqueles que avançaram na compreensão de que a solução para os problemas está na revolução socialista: o partido reúne revolucionários e não qualquer membro da classe trabalhadora (a maioria esmagadora dos quais é burguesa, reformista e não revolucionária em sua ideologia). Aqueles que se reúnem sob o mesmo programa constituem um partido. Mas se seus militantes não constroem o partido, ninguém o constrói: o partido é a coisa menos objetiva e espontânea que existe em termos de formas de organização dos trabalhadores. Pelo contrário: ele exige um esforço consciente e adicional, com suas próprias leis.

Um problema muito importante é o da combinação dos interesses do movimento em geral e os do partido em particular quando se trata de intervenção política. Um erro comum é sacrificar um no altar do outro. No caso das tendências (ou seitas) mais burocráticas, são os interesses mais gerais dos trabalhadores que são sacrificados aos do próprio aparato (Marx já argumentava que os comunistas só se caracterizavam como aqueles que, em cada caso, afirmavam os interesses gerais do movimento).

Mas também, é uma concepção falsa acreditar que os interesses do próprio partido nunca contam, que apenas o interesse supostamente “geral” conta, sacrificando ingenuamente os interesses do próprio partido em nome dos “interesses comuns”. Isso torna impossível construir o partido, cuja mecânica é no mínimo “natural”. Justamente por isso, é necessário aprender a apoiar ambos os interesses: as condições gerais da luta e a construção do partido com base nelas.

Além disso, é necessário saber como avaliar qual interesse está em jogo em cada caso. Nunca se pode correr atrás de cada luta, de cada evento; nenhum partido pode fazer isso, a menos que seja realmente um partido de massas (e talvez nem mesmo assim). Mas quando se trata de organizações de propaganda, ou mesmo de organizações de vanguarda, é preciso escolher. É preciso estabelecer uma hierarquia, levando em conta tanto o peso do fato objetivo, quanto às possibilidades reais do partido de responder a essa experiência e construir-se a partir dela.

Isso significa que a agenda do partido nem sempre é ordenada em torno da agenda “objetiva” da realidade. Também é necessário considerar a agenda da própria organização ao construir a si mesma, ter suas próprias iniciativas. É claro que isso tem certos parâmetros. Uma organização que define sua agenda exclusiva ou essencialmente de acordo com suas próprias necessidades e independentemente da realidade não seria mais um partido, mas uma seita (e há muitas delas). Mas também não será um partido (ou seja, nunca se tornará um) se, em todos os casos, juntamente com os interesses gerais, não conseguir afirmar seus próprios imperativos de construção.

Como já dissemos, essa construção é a coisa menos “objetiva” que existe mas,, no entanto, é a mais essencial na hora de se produzir os eventos históricos. Gramsci explica: “A observação mais importante que pode ser feita sobre qualquer análise concreta da correlação de forças é que essas análises não podem e não devem ser análises em si mesmas (a menos que um capítulo da história do passado seja escrito), mas só adquirem significado se servirem para justificar uma atividade prática, uma iniciativa da vontade. Elas mostram quais são os pontos de menor resistência em que a força de vontade pode ser aplicada de forma mais proveitosa; sugerem operações táticas imediatas; indicam como uma campanha de agitação política pode ser melhor planejada, que linguagem as multidões entenderão melhor e assim por diante. O elemento decisivo em todas as situações é a força permanentemente organizada e disposta há muito tempo, que pode avançar quando uma situação é considerada favorável (e só é favorável na medida em que essa força existe e está cheia de ardor militante); por essa razão, a tarefa essencial é procurar sistemática e pacientemente formar, desenvolver, tornar essa força [ou seja, o partido] cada vez mais homogênea, mais compacta e mais autoconsciente” (Gramsci, Antonio. La política y el estado moderno. Planeta-Agostini, Barcelona, 1585. cit., pp. 116-7).

Está se tornando cada vez mais claro que tempos de uma luta de classes mais feroz, mais dura e mais polarizada estão chegando. É para esse cenário que concebemos este texto que estamos disponibilizando para a educação das novas gerações. Pois o que está no horizonte é o ressurgimento da época de crises, guerras e revoluções, e uma lenta, mas sistemática, acumulação de condições para o relançamento da luta pela revolução socialista no século XXI.