Segundo levantamento da Genial/Quaest, o início da campanha e a sabatina na Globo não foram ainda suficientes para alterar de forma significativa a corrida eleitoral, mantendo-se, assim, estável a polarização entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL). Porém, existem indicadores políticos, sociais e econômicos que indicam um possível segundo turno.
ANTONIO SOLER
De acordo com a mais recente pesquisa da Genial/Quaest, divulgada hoje e realizada entre os dias 25 e 28 de agosto, Lula tem 44% das intenções de voto e Bolsonaro 32%, Ciro Gomes (PDT) 8%, Simone Tebet (MDB) 3%, Vera Lúcia (PSTU) 1% e Felipe D’Avila (Novo) 1%. Os demais candidatos não pontuaram.
Mesmo com a perspectiva de que a melhora no cenário econômico e o desempenho nas entrevistas dos candidatos pudesse alterar a corrida eleitoral, a pesquisa não registrou nenhuma mudança significativa no cenário até agora e as oscilações para baixo ou para cima estão dentro da margem de erro – dois pontos para mais e dois pontos para menos.
A situação é de estabilidade quando se verifica que Lula e Bolsonaro oscilaram um ponto percentual para baixo e Ciro Gomes três pontos para cima. Além disso, em relação à última pesquisa da Genial, Lula se mantém com 12 pontos percentuais à frente de Bolsonaro. Lula tem 51% dos votos válidos e Bolsonaro 37%, essa fotografia eleitoral permitiria Lula ganhar no primeiro turno, porém não podemos esquecer a margem de erro.
Nesse cenário, Lula poderia se beneficiar do voto válido e ganhar a eleição em primeiro turno, porém há fatores que podem levar a disputa para o segundo turno: melhora do cenário econômico, maior destaque para os candidatos de “terceira via” e a dinâmica das ruas – ainda não deram as suas últimas palavras no sentido de resolver a situação – parece mais provável a Bolsonaro. Ou seja, todos indicadores, até agora, levam para o segundo turno, como é o mais tradicional no Brasil, aliás.
Um debate sem a esquerda socialista
O debate presidencial do último domingo, organizado por um pool de empresas e encabeçado pelo Grupo Bandeirantes, foi todo marcado pela tensão advinda da polarização eleitoral, pela misoginia de Bolsonaro e pela falta de uma posição de esquerda de fato. Até as tradicionais plateias que acompanham os debates foram excluídas do evento para evitar que a claque dos candidatos não atrapalhasse o debate, mas o evento teve, além do debate em si, violento bate-boca de apoiadores de Lula e de Bolsonaro em sala reservada.
Além do que era de se esperar em relação a dificuldade de Lula lidar com o tema da corrupção e Bolsonaro com o tema da pandemia, o debate sinaliza que a terceira via não irá ceder até o final do primeiro turno, o que é um fator a mais, como já apontado acima, para que a eleição se resolva no segundo turno. Vimos um Lula – que mais uma vez montou uma aliança burguesa de conciliação de classes com Alckmin e cia – totalmente na defensiva em relação aos ataques que sofreu sobre o tema da corrupção em seus governos, que não propõe nenhuma saída concreta para a classe trabalhadora e os oprimidos e querendo se apresentar ainda mais confiável à classe dominante.
Até aí nada de novo. Mas, mesmo quando teve a chance de se apresentar com algum verniz progressista ao ser perguntado por Tebet se iria compor seu ministério com paridade de gênero, negou fogo e saiu com uma evasiva de cunho meritocrático ao dizer que iria montar um ministério de acordo com a “competência”.
Apesar do vergonhoso desempenho de Lula, Bolsonaro foi o grande perdedor ao se destacar pela misoginia explícita. Perguntado sobre a política de vacinação pela jornalista Vera Magalhães, deferiu-lhe um execrável ataque misógino, dizendo como resposta que “acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão em mim. Não pode tomar partido num debate como esse. Fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”. Depois, como se não bastasse, voltou o seu ódio às mulheres contra Tebet ao dizer “para com essa mania, faz política, fala coisa séria. Não fica aqui fazendo joguinho de mimimi”.
Ciro Gomes, que foi considerado um dos melhores no debate, apresentou-se como um “pacificador”, uma alternativa à polarização, mas atacou com a mesma verve Lula e Bolsonaro. Ciro Gomes, um candidato burguês nacional desenvolvimentista que se diz ‘democrático”, ao estabelecer um sinal de igual entre Lula e Bolsonaro – da mesma forma que o fez na eleição passada – comete um enorme desserviço para o debate político nacional.
O debate até a pergunta de Magalhães a Bolsonaro estava em um rumo mais desfavorável a Lula do que a Bolsonaro. Mas, a partir da pergunta de Magalhães, Tebet (considerada por muitos analistas como vencedora do debate), candidata neoliberal de um partido historicamente fisiológico, assume maior protagonismo ao enfrentar a misoginia de Bolsonaro e ao colocar Lula na parede com a pergunta sobre se iria compor um ministério com paridade de gênero. A Senadora, que disse que “o feminismo não é de esquerda e nem de direita” (sic) e que se colocou como grande defensora das mulheres, foi a que deu voto favorável ao impeachment sem crime de responsabilidade de Dilma Rousseff em 2016.
Da mesma forma que Ciro, Tebet é candidata da classe dominante que não diferencia uma candidatura de conciliação de classes (Lula-Alckmin) de uma neofascista (Bolsonaro-Braga Neto) e que se for reeleita continuará a atentar contra os direitos democráticos mais básicos da classe trabalhadora. Isso vindo de setores burgueses, responsáveis diretos pelo impeachment de Dilma, contrarreformas, prisão de Lula e eleição de Bolsonaro etc., não é de se estranhar.
Sem mobilização direta, cresce risco golpista
Pela data em que foi realizada, a pesquisa da Quaest não pode captar possíveis oscilações na intenção de votos após o debate na Band, porém o crescimento de 3 pontos de Ciro e o destaque que teve Tebet no debate na Band demonstram que frações da classe dominante irão insistir na terceira via até o final. Dinâmica que contribui para levar a disputa ao segundo turno e a colocar um processo eleitoral ainda mais polarizado em um cenário como esse, o que reforça a sanha golpista de Bolsonaro.
O problema, dada a atual correlação de forças entre as classes, é que a derrota de Bolsonaro nas urnas de forma inconteste – que lhe iniba qualquer disposição golpista – depende de uma derrota de Bolsonaro nas ruas. Para isso, é preciso responder aos problemas da classe trabalhadora (fome, carestia, desemprego e violência) com políticas efetivas – políticas anticapitalistas – para que possam de fato serem resolvidos.
Essa perspectiva é justamente oposta a que anima a intervenção de Lula na sabatina na Globo, no primeiro debate presidencial e em sua campanha no rádio e na TV. Como candidatura de conciliação de classes que é, propõe solucionar os problemas voltando ao passado e não com uma política para mobilizar a classe trabalhadora e os oprimidos para lutar por suas reivindicações imediatas e para derrotar Bolsonaro e suas ameaças golpistas.
Desta forma, a Socialismo ou Barbárie e a Bancada Anticapitalista, insistem que não se pode derrotar Bolsonaro sem mobilizar em unidade de ação pela base a classe trabalhadora e os oprimidos através de um programa que atenda efetivamente às suas necessidades.
É decisivo nessa conjuntura de indefinições – em que Bolsonaro pode ir ao segundo turno, se fortaleça eleitoralmente e fortalece o seu golpismo – que a esquerda socialista, em que pese suas candidaturas próprias, atuem coletivamente através de uma frente de luta independente dos patrões e da burocracia para impulsionar desde a base a mobilização de rua. É preciso, além de organizar, exigir em cada local de trabalho, estudo e moradia que Lula, PT, CUT e todas as direções do movimento de massas convoquem o dia 7 de setembro nas ruas contra a fome, a carestia, o desemprego e o golpismo.