Um governo ainda mais autoritário está se apresentando

Com a demissão de Moro, Bolsonaro acaba de fazer uma reforma ministerial reacionária para evitar linhas de investigação que o atingem e à sua família, torna o governo mais autoritário e voltado para a guerra contra os trabalhadores e oprimidos e polariza ainda mais a conjuntura  

ANTONIO SOLER

Em um ato que balança o governo Bolsonaro, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, acaba de fazer um pronunciamento público informando o seu pedido de demissão.

Essa situação já vinha se configurando há alguns dias por conta da determinação de Bolsonaro de trocar o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Valeixo, posto que é de competência de nomeação do ministro da pasta e não do presidente.

A gota d’agua, que levou ao desfecho da situação, foi o decreto de demissão de Valeixo publicado hoje no Diário Oficial em nome de Moro sem a autorização prévia do ministro. Esse gesto de Bolsonaro, além de ilegal, foi na prática uma exoneração de Moro do ministério, o que tornou a sua permanência insustentável.

Em um pronunciamento bombástico de demissão ainda pouco, Moro justificou seu pedido de demissão dizendo que Bolsonaro quer trocar o comando máximo da PF sem razões “aceitáveis”, parar ter acesso a relatórios “confidenciais” da inteligência e impor uma “interferência” política inaceitável ao órgão. Acusações gravíssimas que por si só são motivo para a abertura de um processo de impeachment ou cassação pelo STF.

Em seu pronunciamento informou, ainda, que procurou um acordo ao apresentar um nome alternativo para o comando, mas que Bolsonaro não aceitou. E destacou que em nenhum dos governos anteriores, de Temer, Dilma ou Lula, houve quebra da autonomia da PF.  

Rusgas entre Bolsonaro e Moro não são recentes. No ano passado o primeiro quis interferir na superintendência da PF do Rio de Janeiro devido à investigação de corrupção na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) contra o então Deputado Estadual Flávio Bolsonaro – hoje Senador da República.

No entanto, com mais um cercamento investigatório à família Bolsonaro, devido à autorização pelo STF de abertura de inquérito federal a pedido da PGR para investigar crimes contra a Lei de Segurança Nacional cometidos no ato de domingo passado (19). que envolvem diretamente Carlos Bolsonaro (Vereador pela cidade do Rio de janeiro e chefe do chamado “gabinete do ódio” – investigações que se somam a CPI que investiga fakenews -, Bolsonaro entra em desespero pessoal e político.

Isso porque se qualquer uma dessas investigações avançarem fará com que os crimes que envolvem somas milionárias de corrupção na ALERJ, os de utilização de fakenews nas eleições de 2018 e de envolvimento e financiamento nos atos em defesa de um golpe militar recaiam diretamente sobre os Bolsonaro. Sem falar que o avanço destas investigações pode destravar a investigação de quem foi mandante da execução política de Marielle Franco – todos indícios levam ao envolvimento direto de Bolsonaro e cia nesse crime político covarde.

A demissão do “Super Ministro” Moro, figura execrável, agente direto da ofensiva reacionária desde as manobras jurídicas, políticas e midiáticas contra Dilma e que condenou Lula sem provas para tirá-lo do jogo eleitoral, é um fato importante na escalada de crise política acabar retirando todos os pilares de sustentação de Bolsonaro.

À demissão de Moro se soma a demissão do Ministro da Saúde (Luiz Henrique Mandetta) – Bolsonaro quer impor a linha genocida diante da pandemia – e o isolamento de outro “Super Ministro”, o da Economia (Paulo Guedes) – governo sem a presença de Guedes colocou ministros militares para anunciar uma plano “desenvolvimentista” de 10 anos de investimentos públicos em infraestrutura. Ou seja, diante de uma iminente catástrofe sanitária, que irá gerar um caos sociopolítico que pode ser explosivo, Bolsonaro faz uma reforma ministerial que torna o seu governo ainda mais “sangue puro”, quer dizer, mais autoritário e mais afeito à sua própria imagem e semelhança.

Estamos assim diante de um governo mais bonapartista reacionário que se prepara para a “guerra” com o objetivo de barrar as investigações de terríveis crimes que levam diretamente a ele e a seus filhos, para avançar de forma autoritária sobre os demais poderes e, principalmente, para reprimir uma possível explosão social que esta por vir como avanço da catástrofe sanitária, social e política que se avizinha.

Diante de um governo mais autoritário – um perigo para os direitos democráticos dos trabalhadores -, mas que tem uma série de contradições e fragilidades (envolvimento em corrupção, crise econômica e perda de popularidade), é decisiva a construção por cima (com as direções) e por baixo (na base, que já está se desenvolvendo nas comunidades em solidariedade) da unidade com todas as forças que dizem defender a “democracia” para colocar em prática uma campanha pelo Fora Bolsonaro já!

Mas isso não basta, além de entender a gravidade da situação, no sentido de construir uma campanha unitária em defesa dos direitos democráticos e de medidas emergenciais para combater a pandemia, é necessário e urgente estabelecer um fórum/frente da esquerda que seja um polo anticapitalista e antiburocrático diante da falência política do lulismo. Espaço político que seja capaz de traçar uma tática comum para a conjuntura que vá para além do “Fora Bolsonaro” e um programa mínimo dos trabalhadores – que os ricos paguem pela crise – diante da crise sanitária, social e política.

Não aceitaremos que toquem em nossos direitos!

Fora Bolsonaro e Mourão!

Eleições Gerais para que o povo decida!

Unificar as lutas rumo a um calendário de Greve Geral!

Todo apoio aos Comitês de Solidariedade e de Luta!

Por um plano emergencial dos trabalhadores de combate à pandemia!