Por Gideon Levy, jornalista israelense
Haverá um resultado certo nas eleições de terça-feira [16/04]:Por volta de 100 membros do próximo Knesset [Parlamento] serão partidários do apartheid (sistema de segregação racial aplicado por colonizadores brancos contra os negros na África do Sul). Isso não tem precedentes em nenhuma democracia.
Dos 120 legisladores, cem; a mais absoluta das maiorias absolutas apoia a manutenção da situação atual, que é o apartheid.
Com tal maioria, no próximo Knesset será possível declarar oficialmente Israel como um Estado de apartheid. Com tal apoio, e considerando a duração da ocupação, nenhuma propaganda poderá refutar a simples verdade: quase todos israelenses querem que o apartheid continue. No alto da chutzpah [insolência], é o que chamam de democracia, apesar de que mais de 4 milhões de pessoas que vivem junto deles e sob seu controle não tem direito ao voto.
Ninguém está falando sobre isso. Mas em nenhum outro regime do mundo há uma comunidade junto a outra em que as pessoas residentes de uma, denomidada “assentamento da Cisjordânia”, tenham direito a votar, enquanto as pessoas residentes na outra, uma aldeia palestina, não tem. Isso é o apartheid em seu esplendor, cuja existência querem manter quase todos os cidadãos judeus e judias do país.
Serão escolhidos cem membros do Knesset dentre opções consideradas direitistas, esquerdistas ou centristas. Mas o que elas tem em comum supera qualquer diferença: nenhuma tem intenção de por fim à ocupação. A direita diz com orgulho, enquanto a centro-esquerda recorre a ilusões para escurecer a foto, enumerando propostas para uma “conferência regional” ou “separação segura”. A diferença entre os grupos é insignificante. Em uníssono, a direita e a esquerda cantam “diga sim ao apartheid”
Sendo assim não há razão para prender a respiração pelo resultado de terça-feira. Não fará nada para mudar a essência básica de Israel como um país colonialista
A extrema-direita quer a anexação da Cisjordânia, passo que faria permanente uma situação que já tem ocorrido na prática. Por fim cairia a máscara de democracia de Israel, e isso poderia gerar oposição tanto no país quanto fora dele.
Mas nenhuma pessoa com consciência pode votar pela direita fascista, que inclui pessoas que advogam pela expulsão da população palestina ou a construção de um Terceiro Templo no Monte do Templo e a destruição das mesquitas dali, ou que sonham com o extermínio. O partido Likud (supostamente mais moderado) do Primeiro Ministro Netanyahu deseja apenas manter a situação atual, o que significa um apartheid não declarado.
A centro-esquerda tenta enganar; nem o [partido] Kahol Lavan nem o Trabalhista dizem nada sobre o fim da ocupação, ou inclusive sobre o levante contra o bloqueio a Gaza.
O partido Benny Gantz tem planos ambiciosos de fazer história com uma conferência regional, e “aprofundando o processo de separação da população palestina junto com a manutenção incondicional (…) da liberdade de ação do exército israelense em todas as partes”
Fazia muito tempo que não era escrito um documento semelhante para encobrir a ocupação vergonhosa. E o Partido Trabalhista não fica para trás. O passo mais audaz que propõe é um referendo sobre os campos de refugiados que existem ao redor de Jerusalém…onde só votariam os israelenses, é claro.
Paz? Retirada? Desmantelamento das colônias? Não nos façam rir da esquerda sionista. E não sobra muito mais: os vacilantes de Meretz e Hadash-Ta´al, que apoiam uma solução de dois Estados – esse trem cambaleante que já deixou a estação – e Balad-Lista Árabe Unida, que está mais próximo de advogar pela solução de apenas um Estado – a única que permanece.
Votar pelo apartheid!
Tradução: Gabriel Barreto