A rebelião estourou no coração da Europa com uma greve geral por tempo indefinido. As mobilizações se estendem massivamente por todos os cantos e a greve paralisou o país. Se trata da maior greve nacional desde 1995, quando os trabalhadores franceses derrotaram a ofensiva neoliberal.
Socialismo ou Barbárie internacional 05/12/2019
Não a reforma das aposentadorias
Estima-se que há mais de 250.000 pessoas mobilizadas somente em Paris e é quase incalculável a quantidade de pessoas que lotam às ruas provenientes de todos os cantos da França. O total é de cerca de um milhão e meio de pessoas mobilizadas. Macron respondeu com uma repressão que tenta dividir a mobilização, prendendo “preventivamente” pelo menos 71 pessoas em Paris. Mas desde às seis da tarde de ontem, o número de pessoas nas ruas permanece imenso, com centenas de milhares de pessoas que não saem do seu posto de combate.
“A situação não é muito clara; depois que alguns manifestantes conseguiram avançar, foram recebidos com gás lacrimogêneo ainda atravessando a praça. Há gás lacrimogêneo por todos os lados da praça, ninguém pode avançar mais.”
#grevedu5decembre
– Cécile Bouanchaud prestigiada jornalista do Le Monde França
Não há dúvida de que a greve se estenderá nos próximos dias. As direções das centrais sindicais (CGT, FO, Solidaires, UNEF e UNL) já anunciaram que a greve continuará nos próximos dias. No entanto, as burocracias sindicais que mostram pouca disposição para levar a luta contra Macron até o fim mas a chave passa pela enorme disposição de continuar lutando nas bases de trabalhadores.
Os locais de trabalho tornaram-se um foco de discussão política.
Em milhares de locais de trabalho, foram realizadas assembleias de base nas quais foi decidido por unanimidade que a greve continuará até que a impopular reforma da previdência de Macron seja derrotada. A greve tem o apoio de mais da metade da população de acordo com pesquisas realizadas por setores contra a greve, o que sugere que a simpatia social pela greve é esmagadoramente majoritária.
A greve esta forte, com os trabalhadores de transporte e educação na vanguarda. As ferrovias SNFC estão praticamente paralisadas em sua totalidade, as autoridades governamentais reconhecem que apenas 10% do total nacional de serviços estaria funcionando, a maioria esmagadora esta sendo afetado pela maior greve em mais de vinte anos.
O metrô da região metropolitana de Paris tinha apenas duas linhas em operação, do total de treze, as que estão em funcionamento servem simplesmente para que os mobilizados chegassem ao centro da cidade. Os vôos e os transportes internacionais também foram paralisados, deixando a França praticamente desconectada do mundo tanto por terra, ar ou mar.
Hospitais e escolas também tem sido um centros de organização da greve. E já vinham de vários conflitos contra o governo Macron e agora aderiram à greve geral com suas próprias demandas.
Nos últimos meses, a França vem acumulando experiências de lutas, com marchas estudantis e climáticas, contra a islamofobia, o aniversário dos coletes amarelos e as greves por setor nos transportes, hospitais e educação. Combinada com recente manifestação de mulheres pelo o Dia Internacional de Combate a Violência a Mulher que foi muito massiva evento pouco visto antes nessa ocasião, e pode ser o prelúdio a dar impulso à greve geral que começou neste 5 de dezembro.
GRÈVE NATIONALE : Os bombeiros lideram a passeata parisiense, frente aos policiais, para fazer avançar a manifestação. #GreveGenerale #PompiersEnColerepic.twitter.com/1FIQ7iF5nF
— Infos Françaises (@InfosFrancaises) December 5, 2019
A reforma da aposentadoria é o grande compromisso do programa capitalista de Macron
Podemos resumir o grande compromisso do ” 2º ato ” do governo Macron como a vontade de passar do atual sistema solidário de repartição para um sistema universal de capitalização individual por pontos. Ou seja, atualmente são os trabalhadores ativos que fazem suas contribuições para que os trabalhadores passivos possam receber suas aposentadorias. O governo propõe acabar com isso na raiz, sob a lógica de que cada trabalhador contribua ao longo de sua vida para pagar sua própria aposentadoria individualmente.
Isso implica o fim da aposentadoria com base nos melhores 25 anos do setor privado e nos últimos 6 meses no setor público. Com a nova reforma, toda a carreira de um trabalhador seria contada mediante a atribuição de “pontos” por uma certa quantia de euros cotada. Obviamente, o governo não diz quanto esses pontos valerão, nem quanto dinheiro seria retirado da reforma. Dessa forma, todos os trabalhadores estariam presos ao governo, com a possibilidade de decidir diminuir o valor do ponto de aposentadoria à sua vontade, sob qualquer pretexto que desejasse.
“Bicicletas, scooters e fogueiras na Place de la République. Logo depois, a polícia atacou. Por mais de uma hora, manifestantes e policiais entraram em luta, respondendo cada um por sua vez, com gás lacrimogêneo ou projéteis.”
#grevedu5decembre pic.twitter.com/qjPIlJbyFw
— Cécile Bouanchaud (@CBouanchaud) December 5, 2019
Outra intenção é que este novo sistema seja universal, para que “todos tenhamos os mesmos direitos“, como disse o primeiro ministro Philippe. Ou seja, suprimiriam os “regimes especiais”, as convenções coletivas que certos setores de trabalhadores obtiveram graça as lutas de décadas anteriores. Sem consideração a insalubridade de determinados trabalhos nem a idade de aposentadoria particular dos certos setores, e todos passariam a formar parte do sistema universal, e mantém algumas exceções e privilégios: ficam excluídos da reforma os policiais, os militares e os parlamentares!
Além disso, Macron pretende elevar de maneira enganosa a idade de aposentadoria para além dos 62 anos. Embora a idade legal para se aposentar siga a mesma, agora para se obter a aposentadoria integral deverá trabalhar durante vários anos mais. Fala-se de se impor uma “idade pívot” aos 64 anos ou de aplicar-se uma quantidade sideral de anos para se alcançar uma aposentadoria completa, porque como disse o presidente: “como vivemos mais tempo, temos que trabalhar mais tempo“.
O que o governo esconde é que a taxa de desemprego entre os maiores de 60 anos alcança mais de 50% na França, pelo que os “seniors” deverão escolher entre fazer frente ao desemprego, trabalhar até a morte ou conformar-se com uma aposentadoria de fome. Isso implica elevar ainda mais a correlação de forças a direita, desde que em 2010 Sarkozy terminou com o mínimo dos 60 anos, impondo dois anos mais ao final da carreira.
Com o critério do “equilíbrio”, o governo pretende aliviar completamente o déficit fiscal, para que não seja gasto mais nenhum centavo em pensões em relação às contribuições feitas no mesmo ano orçamentário. E, como se isso não bastasse, trata-se de impor um limite máximo de 14% do PIB para a aposentadoria. Com isso, as aposentadorias podem cair de forma automática e generalizada se esses requisitos forem impostos: por mais miseráveis que sejam as pensões resultantes. Em suma, os aposentados já eram um setor fortemente castigado, mas agora se dá um passo adiante. Esta é diretamente uma mudança estrutural que busca resolver a crise, pressionando cada vez mais os que estão abaixo. Uma medida que, sem dúvida, desperta bronca e deve gerar uma resistência capaz de enfrentar a reforma nas ruas até derrotá-la.
O feminismo dando o impulso para continuar a luta
Gostaríamos de parafrasear nessas linhas o que ouvimos sobre a rebelião chilena e dizer que “o feminismo na França acordou“. De fato, a manifestação de 23 de novembro, no âmbito do Dia Internacional contra a Violência contra as Mulheres, alcançou uma magnitude que não havia sido registrada em tal evento por um longo tempo. Estima-se que mais de 50.000 manifestantes estavam presentes na cidade de Paris e pelo menos mais de 100.000 mobilizaram-se em todo o hexágono.
A situação é insustentável em um país que já registra mais de 130 casos de feminicídio até agora, neste ano. As promessas do governo do presidente e da secretária de Estado Marlène Schiappa foram apenas fumaça pura, mas sem nenhuma medida concreta. Pelo contrário, o governo se dedicou a fazer ataques islamofóbicos contra mulheres com véu, o que mobilizou a população em grande número para expressar a defesa da coexistência e da tolerância, a população em grande número para expressar a defesa da coexistência e da tolerância.
O sucesso da marcha feminista do último sábado tem impacto em relação ao crescimento do movimento feminista internacional e, sem dúvida, está relacionado a esse momento particular da luta de classes no país. Para voltar a uma marcha desse volume em um 25 de novembro, é preciso voltar a 1995, pouco antes da histórica greve ferroviária que paralisou a França e derrotou a avançada privatização neoliberal. Esse paralelismo pode ser um bom sintoma para o que está por vir.
De nossa parte, observamos a presença de um grande número de organizações, partidos, sindicatos e associações de todos os tipos, mas acreditamos que eles mantêm pouca ou insuficiente coordenação entre eles. Um dos principais problemas é a falta de estruturas de auto-organização para o movimento politizar e desenvolver uma estratégia que sirva ao propósito de identificar inimigos e desenvolver os métodos necessários para vencer a luta.
Desde Vermelhas, fizemos uma intervenção junto a uma coluna de companheiras e companheiros que se uniram para levantar a luta contra o governo, contra toda a violência social, sexual e patriarcal. Nesse sentido, insistimos na necessidade de desenvolver a organização do movimento, como temos feito no interior de “On arrête toutes” e de contribuir com nossa estratégia socialista feminista na luta nas ruas contra o capitalismo e o patriarcado.
Vamos à greve geral! Há que se bloquear o país até derrotar Macron
A oportunidade que se abriu em 5 de dezembro é um desafio para derrotar o projeto de reforma da previdência, do qual depende fortemente o destino do programa do governo. Os elementos para construir resistência são visíveis nas assembleias e reuniões sindicais que estão sendo promovidas nos diferentes locais de estudo e trabalho. Greves por setor recentemente demonstram que a força dos trabalhadores está disponível para fazer uma entrada massiva e poderosa. E, além disso, exemplos internacionais contribuem fornecendo ferramentas para desenvolver a luta neste país.
É um ataque histórico e a resistência também deve ser do mesmo tamanho. A chamada incluirá a participação de trabalhadores ferroviários, transporte urbano, saúde, educação, estudantes, coletes amarelos, vários partidos políticos e grandes sindicatos nacionais: CGT, FO, SUD, FSU , UNEF e UNL. Espera-se uma paralisação generalizada de todos os tipos de transporte e, na educação nacional, haverá um grande número de escolas sem aulas ou fechadas diretamente. Por outro lado, os alunos acumulam uma bronca crescente contra a precariedade em que se vive, denunciada pelo jovem que se imolou em frente ao CROUS de Lyon, e entrarão no jogo com vários bloqueios em centenas de centros de estudos.
A tarefa é desenvolver a resistência até que a reforma caia, exigindo a retirada total do projeto, sem aceitar mudanças ou emendas perniciosas. Também devemos prestar atenção ao papel da burocracia sindical que poderia tentar fazer arranjos setoriais que enfraquecessem toda a luta. Nesse sentido, as declarações de certos burocratas sindicais e da grande mídia que aconselham que se manifestar durante um único dia seria a opção certa e razoável são eloquentes, porque se a greve continuar, daria origem à possibilidade de os sindicatos não poderem conter a massa incontrolável.
Desnecessário dizer que este é precisamente o caminho que devemos privilegiar: que a greve geral não dura nem um dia nem dois, mas até a derrota da reforma da previdência. Derrotar esta reforma é um passo fundamental para derrotar todo o plano capitalista de Macron e continuar a ofensiva com um programa dos trabalhadores. Para uma aposentadoria digna e completa a partir dos 60 anos e pelo menos 55 anos em empregos não saudáveis. Pelo fim da precariedade e pela melhoria das condições de vida. Para a crise ser paga pelos capitalistas. Vamos à greve geral ilimitada em todos os locais de estudo e trabalho! Vamos desenvolver as assembleias abaixo para superar as armadilhas das burocracias sindicais. O país deve ser totalmente bloqueado para enterrar esta reforma. Vamos fazer desta greve uma greve histórica para derrotar Macron!
Tradução José Roberto