Fragmentação do Centrão enfraquece Bolsonaro

É preciso unificar as lutas em defesa da vida, do emprego e dos direitos para derrotar definitivamente Bolsonaro

RODRIGO MAIA E JAIR BOLSONARO. FOTO: ADRIANO MACHADO/REUTERS

A anunciada saída do DEM e do MDB do “Centrão” nesta segunda-feira (27/07) reflete uma movimentação na superestrutura política ligada às disputas partidárias no interior da Câmara dos Deputados e aos interesses conflitantes das frações da classe dominante, mas também o isolamento do governo devido sua política genocida e o enfrentamento à sua escada autoritária desde a mobilização nas ruas.

ANTONIO SOLER

Este bloco parlamentar, que teve a sua primeira versão em 2015 sob liderança de Eduardo Cunha (MDB), ex-presidente da Câmara preso por corrupção, foi ampliado em 2019 para que esse grupo tivesse hegemonia na Comissão Mista de Orçamento (CMO) para controlar todas as votações, tendo papel fundamental na aprovação da “reforma” da Previdência Social e em outros ataques aos trabalhadores.

Além de ser essa máquina contra os interesses dos trabalhadores, com a política de Bolsonaro de romper pela extrema direita com o presidencialismo de coalizão, esse bloco agiu no ano passado no sentido de ampliar o seu poder de decisão sobre o orçamento federal, fator que levou a crises permanentes com o governo e a ameaças ao regime.   

O bloco congrega 9 partidos (DEM, MDB, Progressistas, PL, PSD, Solidariedade, PTB, PROS e Avante) e tem em sua base 221 parlamentares. Além de DEM e MDB, que somam 63 deputados, também cogitam sair deste bloco PROS, PTB e Solidariedade. Ou seja, estamos diante de um processo que pode resultar na fragmentação do bloco em três ou mais grupos.

Estes partidos já vinham tendo posições diferentes na Câmara, como foi o caso da votação do Fundeb (Fundo Nacional do Ensino Básico). Nessa ocasião, Arthur Lira (PP), líder do bloco, defendeu os interesses do governo ao apresentar requerimento para adiar a votação do fundo, o que era contrário à orientação do DEM e do MDB.

A retórica dos chefes destes partidos é a de que querem mais independência política para atuar, mas este processo de fragmentação – temporária, pois a natureza fisiologista destes partidos não tem retorno e irão novamente se reagrupar para servir ao poder em troca de cargos e outras vantagens nada republicanas – só pode ser explicado por dois fatores. Um mais aparente, as diferenças entre os “caciques” de qual será o sucessor de Rodrigo Maia (DEM), e outro mais de fundo, a aproximação a Bolsonaro pode tornar os nomes do bloco inapresentáveis a Presidência em fevereiro de 2021.

A aproximação de Bolsonaro – que comprou apoio colocando indicados dos líderes destes partidos em altos cargos do governo federal – fortaleceu o atual líder do bloco, Arthur Lira (PP), para a disputa da Presidência da Casa, nome que não é unanimidade entre os demais “caciques”.

Além da desavença em relação ao sucessor de Maia, com a sobreposição de crises (política, sanitária e econômica), cresce a tendência de enfraquecimento do governo com repercussões ainda difíceis de prever, o que torna a condição de base de sustentação do mesmo extremamente arriscada, pois quem aparecer ligado ao governo poderá não ter os votos necessários para assumir a presidência da Casa no próximo ano.

Independentemente dessa movimentação tática entre os podres partidos da classe dominante em sua disputa à chefia da Câmara, interessa notar que a tentativa dos últimos meses de Bolsonaro de constituir um base política solida diante de um crescente isolamento que lhe permitiria passar o rolo compressor regressista e se defender de possíveis processos de cassação, parece ter ido definitivamente para o espaço.

Esse isolamento político e a consequente fragmentação desse bloco é resultado da sobreposição de crises apontada acima, mas também, em grande medida, da resistência ao genocídio do governo, ao desemprego e à violência policial que vem sendo feita em vários âmbitos e que teve o seu ponto alto com as mobilizações antifascistas que começaram com as torcidas organizadas.

Neste sentido, a política majoritária da esquerda, principalmente a da esquerda liberal representada pelo lulismo, de não convocar ou de suspender o processo inicial de mobilização com segurança sanitária é criminoso, pois com a sua continuidade e a divisão da classe dominante, poderíamos estar em uma correlação de forças mais favoráveis para a luta. A fragmentação dos partidos da classe dominante é um importante sinal de que com mobilização é possível não apenas arrancar vitórias como a da votação do novo Fundeb.

É preciso, a partir das lutas dos trabalhadores de diversos setores, metalúrgicos, metroviários, professores e outros, fortalecer e apoiar estes processos de mobilização em curso. Além disso, devemos criar um movimento nacional por políticas efetivas de combate à pandemia, renda mínima para todos desempregados, combate à crescente degradação ambiental, contra a violência estatal e policial que criminaliza e extermina a nossa juventude e de defesa dos direitos ameaçados. Esse conjunto de demandas precisa estar conectado com a luta para arrancar esse genocida do poder, única forma de impor outra correlação de forças no país e nos colocar em outro patamar de lutas e de conquistas.

Unificar as lutas!

Plano emergencial dos trabalhadores!

Fora Bolsonaro e Mourão!

Eleições Gerais!