Após 15 dias de uma greve massiva, trabalhadores dos Correios decretam fim de um importante movimento em defesa do salário, dos direitos e do caráter público da empresa. A grande lição desse processo é que com uma direção à altura da luta se poderia avançar muitos mais em conquistas materiais e organização de base.

DANILO MOREIRA* 

Há anos estamos sofrendo com o sucateamento da empresa, assim como com a retirada de direitos dos trabalhadores pelos governos Temer e Bolsonaro. Agora, diante do governo de conciliação de classes de Lula/Alckmin, que também ataca os nossos direitos, estamos tentando recuperar o que foi perdido e avançar em nossas reivindicações. 

Foi por essa razão que no dia 7 de agosto aprovamos, em assembleia com grande participação da categoria, a greve dos trabalhadores dos Correios. 

Não aceitamos a vergonhosa proposta da empresa/governo e lutamos por reajuste salarial e benefícios, redução no pagamento do convênio e realização de concurso público – que não acontece há 13 anos – para a contratação de novos funcionários, suprindo, desta forma, o quadro deficitário da empresa.

No dia 15, houve a segunda assembleia onde decidimos a continuidade da greve. No dia 19, com grande participação dos trabalhadores, a assembleia avaliou um pedido de mediação do TST. Por não haver avanço na negociação, foi estabelecida uma reunião de mediação do TST para o dia 21. No dia 22, a assembleia aprovou a proposta da mediação e decretou o fim da greve. 

O nosso movimento ocorreu desde o início com grande mobilização e adesão da categoria, 70% do quadro de funcionários entrou em greve em 9 estados (Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraná, Piauí, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins), obtevemos a adesão de mais de 7.800 trabalhadores no primeiro dia só em São Paulo, com mais trabalhadores se somando à luta nos dias seguintes em todo o país.  

Mas, a direção lulista não apostou na mobilização da categoria e jogou a favor do governo e na divisão da categoria. A direção da federação trabalhou para que antes do término das negociações sindicatos da sua base saíssem da greve, foi o que ocorreu no dia 19 de agosto. 

A proposta saída da mediação está muito distante das nossas reivindicações, ficando de fora a redução do valor do plano de saúde, concursos públicos e reajuste em 2024.

A política dessa direção, que não tem independência alguma em relação ao governo e nem aos patrões, reduziu a capacidade de enfrentamento à empresa e redundou em um acordo rebaixado. A categoria não sai enfraquecida desse movimento, mas deve tirar as lições da necessidade de construir uma direção sindical à altura das demandas da categoria e da defesa do próprio caráter público dos Correios.

 

*Trabalhador dos Correios, estudante de Letras na USP e co-candidato da Bancada  Anticapitalista 16111.