Depois de uma série de medidas econômicas que envolvem privatizações, cortes de subsídios e aumento de preços para “equilibrar” o déficit da balança fiscal do país, o povo equatoriano se rebela radicalmente contra o governo de Lenín Moreno.

ROSI SANTOS

O presidente do Equador, que vinha ignorando o poder de mobilização do movimento, foi surpreendido na noite de ontem (07) por uma gigantesca marcha indígena e teve que deixar a capital do país. Em sua “fuga”, Moreno chegou a acusar os manifestantes de seguidores do ex-presidente equatoriano Rafael Correa e do presidente venezuelano Nicolás Maduro de estarem por trás dos protestos. Quando, em realidade, o movimento indígena é oposição desde o início ao governo Moreno e vem repudiando categoricamente a intervenção imperialista através do Fundo Monetário Internacional (FMI) instalado no país.

Levantamento popular ou pagar pela crise dos ricos

O presidente Moreno é inimigo do povo equatoriano. Ha um ano, prevendo reação popular a suas medidas, passou por cima da Constituição e tratou de assinar um acordo com as forças armadas estadunidenses para atuarem livremente no país, o que representa uma afronta vergonhosa à soberania do Equador e à segurança de seu povo.

Por tudo isso, a bronca da população é gigante. O anúncio do pacote de medidas e reformas representam um crescimento impensável da desigualdade no país. A última medida de Moreno atendeu a um programa de redução de despesas exigido pelo FMI, que desembolsou dos cofres públicos – de uma economia estancada a no minimo a 3 anos, sem recuperação desde o terremoto de magnitude 7,8 em 2016 que deixou mais de 600 mortes – cerca de US $ 4.209, mas que, em contrapartida, isentou empresários. Como em todas as partes, o governo equatoriano quer que os trabalhadores paguem pela crise dos ricos.

Moreno, assim como todos os governos da região criou um relato para justificar o modelo de ajuste, esses governos querem impor como única saída pra a crise seus países a depender exclusivamente do mercado estrangeiro ou do FMI. Que no Equador em particular, levou a dolarização total da economia, perdendo sua própria moeda. O nível de imposição de dependência desse governo foi tanto que entregou as 11 hidroelétricas construídas no país ao setor privado, setor esse interessado apenas em lucrar as custas da economia fragilizada do país e da sua gente.

A exemplo de outros países que estiveram menos ou mais à direita na região, o governo equatoriano primou pela ausência de incentivos estratégicos à produção e, por último, tenta enfrentar a falta de competitividade econômica e liquidez do país dando incentivo a quem não precisa e retirando o pouco dos mais necessitados, aumentando consideravelmente o desemprego, o trabalho precário e informal. Uma matemática que, além de aumentar o risco país, leva penúria a milhares de trabalhadores, que hoje reagem categoricamente com absoluta legitimidade.

Trabalhadores não estão em uma luta improvisada

O Equador é considerado um país com a maior biodiversidade do mundo, possuindo universidades de estudos indígenas que exploram conhecimento de povos tradicionais de maneira séria e que sempre valorizou o caráter público de seus serviços. Mas há alguns anos vem sofrendo duros ataques devido à dolarização da economia nos anos 2000. Por isso o movimento indígena se levanta de uma vez por todas contra a principal fonte de coerção política do imperialismo, o FMI, e seu modelo econômico inviável para a América Latina e para independência de seus povos.

Centrais sindicais já vinham chamando a unidade dos movimentos contra o governo entreguista há alguns meses. Houve uma importante greve no início desse ano, mas os protestos se radicalizaram quando Moreno decretou, na quinta-feira, 3 de outubro, que removeria o subsídio ao combustível, fazendo os preços aumentarem em 123% e enviando à Assembleia Nacional um pacote de medidas e cortes em diferentes áreas essenciais para a população.

Os milhares de indígenas que marcharam até Quito, deixaram o enfrentamento com o governo aberto. Foi uma resposta impactante à falta de compromisso de Moreno para com o povo e não com o mercado estrangeiro. Por isso, apesar das desculpas do governo, a verdade é que sua política é a responsável direta pela a crise em curso.

A situação se complica a cada hora, o fechamento do Congresso imposto por apoiadores do governo dá legitimidade institucional para aumentar a repressão contra os trabalhadores nas ruas. O presidente, até momento, declara-se como governo interino, mas decretou estado de exerção e pretende retomar o controle da situação fora da capital. No entanto, a crise é grande, são mais de 600 presos políticos, três jovens feridos ao caíram de uma ponte, em Quito, enquanto tentavam escapar da repressão policial, e o registro de pelo menos um assassinado envolvendo a polícia, desde o início dos protestos.

Damos nosso total apoio ao movimento dos trabalhadores e dos povos indígenas do Equador, é precisa avançar no processo de mobilização unitária de todo o povo para organizar desde baixo a luta para derrotar definitivamente Moreno, expulsar o FMI do país e organizar uma Assembleia Constituinte Democrática e Soberana imposta pela força da mobilização popular.

Todo apoio à luta dos indígenas e da classe trabalhadora equatoriana!

Liberdade imediata para todos os detidos!

Que cesse a repressão à legítima rebelião popular!

Não ao decreto de estado de sítio de Moreno!

Repudiamos qualquer forma de violência contra a justa luta popular!

Fora Moreno e o FMI!

Por uma Assembleia Constituinte Democrática e Soberana!