Cultura da pedofilia: A realidade por trás do padrão da estética feminina

Adaptação para cinema do romance “Lolita”, de Vladimir Nabokov

Jacqueline De Martini – Vermelhas

Todas nós mulheres, em dado período de nossas vidas, já ouvimos coisas do tipo: “use sutiã ou seus seios ficarão caídos”, ou: “não tome muito sol no rosto ou vai ficar com a pele toda manchada e envelhecida”, ou ainda: “compre nosso creme reparador de rugas, linhas de expressão, celulites e estrias”. Essa “estruturação” da beleza foi tão enraizada em nosso cotidiano durante décadas, que hoje muitas de nós não conseguem enxergar as problemáticas por trás desses preceitos: a cultura da pedofilia e a usurpação das inseguranças femininas impostas pelo patriarcado por parte da indústria farmacêutica. Para que esta nota não se alongue muito, hoje trataremos de aprofundar somente o primeiro tema.

A cultura da pedofilia é a influência que uma sociedade capitalista e patriarcal exerce sobre as mulheres adultas para que essas se pareçam e se comportem como crianças. Num primeiro momento, lendo esta frase, podemos até pensar que não faz muito sentido, mas trabalhemos aqui alguns exemplos.

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De uma forma geral e resumida, “a mulher ideal” reforçada principalmente pela indústria pornográfica, é aquela com seios e glúteos bem empinadinhos completamente livres de estrias e celulites, rosto sem nenhuma ruga, linhas de expressão ou olheiras e nenhum pelo em seus buços, axilas, genitais e pernas. Tal padrão não nos lembra algo? Claro! Uma criança!

Quantas de nós já não deixamos de usar um vestido por não estarmos com as pernas depiladas? Ou passamos o dia todo com medo de levantarmos o braço pois saímos com uma regata e esquecemos de raspar as axilas? E quando assim o fazemos, ou por esquecimento ou por empoderamento, quantas de nós não somos apedrejadas com insultos e ameaças?

Quantas mulheres são omissas e submissas em nome da “etiqueta”? Isso implica em um comportamento calmo, quieto e de quem precisa ser cuidada. Não obstante, esse tipo de comportamento nos leva a inúmeros casos de agressões domésticas — segundo uma pesquisa levantada pela Folha de São Paulo em parceria com o Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), somente no Brasil, é registrado 1 caso de agressão a mulher a cada 4 minutos — porque desde cedo é passado a muitas de nós que: é deselegante levantar nossas vozes e nossas ações contra nossos maridos, e quando assim feitas, se faz necessária uma punição. Exatamente como é ensinado às crianças para com seus pais.

Vamos voltar por um instante para o terceiro parágrafo da nota? Aquele em que citamos a influência da pornografia na infantilização da mulher.

Durante dois anos consecutivos (2013 e 2014), uma pesquisa dentro da plataforma do site pornográfico PornHub apontou que a categoria de vídeos mais popular foi “Adolescente” (Teen). Recentemente, em 2017, essa categoria caiu para o 7º lugar no índice de pesquisas — só no Brasil, essa categoria ficou em 9º lugar. Mas essa “decadência” na posição de procuras não melhora muito o cenário, levando em consideração que o site recebe cerca de 28,5 bilhões de visitas por ano. Atualmente, a segunda lista de reprodução mais aclamada do site é a “Teen Solo”, ou seja, adolescentes ou mulheres imitando adolescentes se masturbando.

As imagens pornográficas possuem uma capacidade enorme de impressão na mente, isso, juntamente com a falha na educação sexual, faz com que projetemos corpos e situações irreais referente ao sexo em nossas relações. Uma das maiores, como vimos acima, é a idealização de corpos e comportamentos infantis.

Todos nós já ouvimos alguma vez na vida o termo “chave de cadeia”, quando uma menina (lê-se “menor de idade”) é fetichizada ao ponto de sua existência enquanto vulnerável ser alvo da excitação de — na grande maioria das vezes — homens adultos, podendo causar punições judiciais a esses. No universo Geek, a fascinação por mulheres com aparência infantil (denominadas “Lolis”, termo proveniente do polêmico romance “Lolita”, de Vladimir Nabokov, obra essa com conteúdo extremamente referente e apologético à pedofilia) ou até mesmo por menores de idade em si, é assustadora.

Até mesmo a comunidade LGBTQIA+ não está imune a esse fenômeno. Setores sem nenhuma clareza sobre a pauta da pedofilia e as ramificações provenientes dela, acabam por relativizar e incluir pedófilos em seu interior. Isso vem ocorrendo mais especificamente no interior da comunidade Queer.
Esses indivíduos recebem até sua própria sigla, são os MAPs (Minor Attracted Persons – Pessoas Atraídas [sexualmente] por Menores de Idade) ou Pedossexuais. Dentre os níveis da Pedossexualidade estão: a Pedofilia (atração por crianças até o período pré-púbere); a Hebefilia (atração por crianças entre o período da puberdade e adolescentes); e a Efebofilia (atração por adolescentes pubescentes a pós-pubescentes). Não é de se assustar que essa cultura tenha ganhado até termos próprios?

Como se já não fosse o bastante, também temos a famigerada mão invisível do mercado farmacêutico dando-a um belo empurrão. Afinal, quantos bilhões não são gastos por ano, por mulheres desesperadas em parecerem mais jovens, com uma infinidade de cremes e procedimentos cirúrgicos?

Segundo o Estadão, somente em 2018, mesmo em meio a uma crise econômica, foram realizadas 1,7 milhão de operações no Brasil, sendo 60% para fins estéticos — estima o censo bianual da Sociedade de Cirurgia Plástica (SBCP), principal entidade do setor. Nosso país é um dos líderes em números de intervenções desse tipo.

Já perdemos as contas de quantas vezes fomos bombardeadas por celebridades nos mostrando orgulhosamente seus procedimentos estéticos: face lifts (para esticar o rosto), lipoaspirações, injeções de botox, silicones e etc. No entanto, gostaríamos de dar maior foco para a labioplastia (também conhecida como redução dos pequenos lábios vaginais, ou redução labial, ou ainda ninfoplastia… Esse último é bem sugestivo, não acham?) e a himenoplastia — essa que por sua vez tem o objetivo de restaurar o “aperto” virgin-like para as vaginas das mulheres.

De acordo com a Sociedade Americana de Cirurgia Plástica Estética, houve um aumento de 53% nesses procedimentos de 2013 a 2018 somente nos EUA. A Dra. Lih-Mei Liao, psiquiatra, consultora e co-autora de um relatório sobre cirurgia cosmética genital feminina (na sigla em inglês FGCS), comentou: “Podemos dizer com tranquilidade que há influência, porque os efeitos resultantes da labioplastia são muito similares à vulva da pornografia”. No mesmo relatório, é pontuado que muitas das mulheres que procuram essa cirurgia plástica têm lábios vaginais considerados normais. Isso, basicamente, e novamente, se resume à pornografia.

Parece óbvio reforçar isto mas aqui o faremos: corpos infantis, e a imitação desses por mulheres adultas, não são os corpos de pessoas que deveriam estar entrando em relacionamentos românticos!

E já partindo do princípio que você, caro leitor, não namora uma vulnerável, mas sim, uma mulher adulta, venho aqui lhe dizer que, se for este o caso: ela não deveria se parecer com uma criança.

Tendo em vista esses pontos, podemos facilmente chegar à conclusão de que temos mais de uma geração de pseudo-pedófilos impulsionados pela indústria farmacêutica e pornográfica, que inconscientemente (ou não), oprimem mulheres e fetichizam crianças. Não o bastante, tais fatos desencadeiam uma série de outros fatores que dão continuidade às opressões e violações exercidas contra nós mulheres, e nossas meninas.

Se faz necessária uma ampla conscientização a respeito do tema, para que a naturalidade em nós volte a ser naturalizada. Não é feio que uma mulher envelheça, não é feio que tenhamos estrias, que tenhamos pelos, que tenhamos celulites, que tenhamos rugas e linhas de expressão, que não pareçamos crianças. Mulheres adultas não deveriam ser induzidas a performar infantilidade para serem mais “atraentes”.

Educação sexual com perspectiva de gênero nas escolas já!

Chega de romantização da pedofilia!

Deixem nossas garotas em paz!

Deixem nós mulheres em paz!

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