Corrupção é parte orgânica do capitalismo e dos seus regimes políticos

    No cenário nacional, após pouco mais de um ano de governo Dilma, podemos sem sombra de dúvida afirmar a continuidade total com o governo anterior e isso se dá em vários frentes. Vamos destacar aqui a questão de mais uma onda de denúncias de corrupção. Durante o primeiro semestre este tema ficou “restrito” ao governo.

    Em visita ao Brasil para lançar um protocolo de intenções em defesa da maior transparência dos agentes públicos – protocolo este com adesão de 55 países, e que não passa de uma ingerência imperialista nas questões políticas internas dos países com a intenção de se evitar conflitos políticos de massa contra governos corruptos -, a Secretária de Estado dos EUA declarou que o governo de Dilma Rousseff está “estabelecendo um padrão mundial” no quesito combate a corrupção. Mas, não parece bem isso o que está ocorrendo no governo e nem nas demais esferas de poder do Estado.

    Além da queda de sete ministros, seis por envolvimento direto em corrupção ou por corrupção em sua pasta, vem à tona o esquema que tem como um dos principais pivôs o empresário do jogo Carlos Cachoeira.

    Pelo até agora tornado público, o esquema envolve diretamente o deputado Demóstenes Torres e o governador do Distrito Federal, mas denúncias e suspeitas envolvem parte significativa de deputados da quase totalidade dos partidos que tem representação parlamentar. Mais uma frente de corrupção que envolve o governo e os partidos burgueses como um todo vem à baila. Esse “novo” episódio só reafirma o caráter do estado e da política burguesa em que a corrupção é um dado estrutural. As relações do estado com o grande capital são carnais.

    Além do revelado o escândalo envolvendo as ligações do Senador Demóstenes Torres (este se afastou do DEM após denúncias), de Marconi Perillo, governador, (PSDB) e de Sandes Júnior Deputado Federal (PP) – todos os três de Goiás -, há indícios de que centenas de parlamentares e  executivos de empresas estatais e privadas estão incluídos no esquema orquestrado por “Carlinhos Cachoeira”, empresário do jogo ilegal, que foi preso  após operação da Polícia Federal.

    O pivô deste esquema é a construtora Delta. Essa empresa recebeu na forma de contratos de prestação de serviços do governo 3,6 bilhões desde 2003. O esquema era basicamente o seguinte: senadores, deputados e o governo de Goiás usavam seus mandatos para que a empresa fosse favorecida em emendas orçamentárias para a construção de obras, principalmente ligadas ao PAC – menina dos olhos do governo federal. Empresas de fachada (como a Alberto e Pantoja) foram criadas com o objetivo de repassar a esses políticos contribuições eleitorais. Apenas nesse esquema Marconi Perillo recebeu R$450 mil, Demóstenes Torres 32.620,82, Sandes Júnior R$ 300,00 fora uma série de outras ramificações do esquema. Note-se que José Dirceu (ex Chefe da Casa Civil do Governo Lula) após deixar o ministério, pois era o chefe do esquema de corrupção dos parlamentares para votar com o governo o esquema conhecido como Mensalão, também pode estar envolvido. Logo após a sua saída do governo prestou serviços a Delta quando esta começou a fazer negócios bilionários com o governo. 

    O Senado e a Câmara dos Deputados instituíram uma comissão mista de inquérito (CPMI) para apurar a denúncia. A disputa política agora se dá em torno de quem comanda a CPI que vai ser composta por 15 deputados e 15 senadores. A posição terá 7 vagas e os líderes terão até a próxima terça-feira para indicar seus integrantes. Depois resistir a criação da CPI, pois certamente integrantes do governo e de sua base aliada estão envolvidos até o pescoço, o governo acabou apoiando a instalação da Comissão. Em um de seus típicos rompantes, Lula teria afirmado que a CPI tem que ser feita “doa a quem doer”, mas ao mesmo tempo para que a comissão não atinja o governo e nem seu partido (PT) trata de escolher a dedos os principais cargos da comissão com políticos de sua confiança, como Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Cândido Vaccarezza (PT-SP).

    As CPMI, como dezenas de outras, não tem poder de punição. Ela pode ouvir testemunhas, investigados e indiciados, requisitar informações e documentos sigilosos a instituições financeiras, além de quebrar os sigilos bancário, fiscal e de dados que depois é encaminhada ao Ministério Público para possível processo. Trata-se na verdade de um circo político em que ora a posição ora o governo procuram expor politicamente seus adversários. Neste caso as denúncias envolvem governistas e oposicionistas.

    Os governos ou parlamentares burgueses são diretamente financiados pelas grandes empresas; trata-se de um investimento em que o retorno financeiro é líquido e certo. Nenhum partido burguês foge a essa regra e mesmo os pseudo-operários como o PSOL também estão inseridos nessa lógica, basta ver o financiamento da campanha de Luciana Genro do PSOL-MES do Rio Grande do Sul que recebeu 200 mil da Gerdau, e considerando isso como natural.