Neste próximo sábado (23), mobilizações nacionais contra a carestia estão sendo convocadas em várias cidades do país pela articulação Povo na Rua. Centrais sindicais, partidos da esquerda institucional e todo o lulopetismo não convocam essa manifestação, mantendo-se coerentes com a política eleitoreira de jogar toda a saída para a crise política para outubro de 2022.
Renato Assad
O último dia 2 de outubro, data das últimas mobilizações nacionais pelo Fora Bolsonaro, ficou marcado pelo assalto político que as direções da esquerda institucional e a burocracia lulista cometeram. Apropriando-se de maneira extremamente antidemocrática das manifestações, estas velhas e esclerosadas direções transformaram as mobilizações em campanha eleitoral antecipada para Lula, sem Lula. Consequentemente, elas impuseram um freio à necessidade de colocar contingentes massivos de trabalhadores nas ruas para derrotar Bolsonaro e sua política criminosa.
O retrocesso das condições de vida das massas trabalhadoras são um reflexo de um governo ultra capitalista, neofascista e que não deve ser considerado cachorro morto. Isto é, existe a possibilidade de que Bolsonaro possa recuperar sua popularidade em 2022 através de medidas como o “Auxilio Brasil” e, a partir daí, alavancar de fato uma aventura golpista.
Está tudo por se verificar, mas um realinhamento eleitoral de Bolsonaro com os setores mais empobrecidos da sociedade, somado à adesão social do bolsonarismo, setores das forças militares, policiais e neofascistas dispostos a ações extraparlamentares de extrema direita, podem proporcionar uma relações de força na luta de classes que permita uma aventura golpista.
Toda a linha política levada à cabo pela esquerda da ordem faz uma aposta estratégica e tática que não podemos chamar de outra forma do que traição diante do perigo golpista que representa esse governo. No âmbito estratégico, temos justamente a abertura de um caminho para a recuperação política de Bolsonaro e, consequentemente, para a possibilidade de fechamento do regime – algo que configuraria uma derrota histórica para os explorados e oprimidos – ao apostar na estratégia de sangrar Bolsonaro até 2022 e não lutar efetivamente pelo impeachment. Do ponto de vista tático, temos a política deliberada de não organizar e mobilização setores das massas trabalhadoras – que carregam sobre os ombros o preço dos cálculos políticos eleitoreiros da burocracia com a fome, miséria, endividamento, desemprego e a carestia em geral – pela base e combinando a luta pelo Fora Bolsonaro com as suas reivindicações imediatas. Essa linha de desmobilização, também, contribui com a perversa construção da ilusão de que de um governo de extrema-direita ou de direita poderia suprir as necessidades básicas dos trabalhadores. Apesar de ser outro contexto, esse cenário de deslocamento das tarefas políticas é parecido com o que aconteceu a partir de 2015 – quando Dilma traiu as promessas eleitorais, aplicou medidas antipopulares e deixou a pauta das massas na mão da direita e acabou sofrendo o impeachment -, o que acabou redundando na eleição de Bolsonaro em 2018.
Com a necessidade tática e estratégica de aproximar setores da classe trabalhadora da luta contra o governo de Bolsonaro, a articulação Povo na Rua, da qual fazemos parte, acerta em convocar mobilizações independentes para o próximo sábado. Os atos estão sendo chamados para regiões periféricas das cidades. Essa proposta de mobilizações realoca nos sistemas de consignas e hierarquizam as pautas da carestia em geral, agindo como ferramenta de aproximação política com os trabalhadores e oprimidos. Esses setores, que passaram muito longe de estarem presentes nas últimas manifestações, são decisivos para impor uma correlação de forças mais favorável contra o bolsonarismo e o conjunto dos ataques neoliberais.
Contudo, é preciso ressaltar que a ideia de periferia como eixo de atuação, muito utilizada por partes da esquerda institucional, não configura social e geograficamente uma categoria em si, e tampouco oferece taticamente um terreno para a atuação política, pois trata-se, da forma como é utilizada, de uma categoria abstrata que não está ligada a setores concretos dos explorados e oprimidos e que serve apenas para a romantização das regiões mais pobres. Nesse sentido configuram, muitas vezes, uma política populista que transita entre a esquerda da ordem e a direita.
As abstrações normalmente surgem quando não há uma perspectiva clara de inserção da discussão política nas estruturas onde estão os trabalhadores e trabalhadoras. Assim, se configura a debilidade do trabalho de base que a esquerda tem com os de baixo. Conforme dito anteriormente, os locais dos atos devem partir de um critério objetivo de aproximação com setores mais dispostos à luta, inclusive como forma de colocar em prática o seu protagonismo e a sua intervenção política. Reivindicamos então, a necessidade de que, a partir de Povo na Rua, possamos materializar cada vez mais um trabalho político permanente nas estruturas onde está nossa classe – é preciso formular, intervir e construir cotidianamente nesses locais, para além de exigir sistematicamente das direções sindicais que mobilizem suas bases.
Por isso, neste próximo sábado, convidamos todos e todas às ruas, pois entendemos que os superar os desafios imediatos e históricos, enquanto esquerda socialista, passam pela necessidade vital de mobilizar nossa classe e alavancar um processo no qual ela seja protagonista. Esse processo, consequentemente, irá modificar categoricamente as relações de forças com Bolsonaro e abrir caminho político para derrotá-lo, impor o seu impedimento e edificar a pelas reivindicações mais sentidas dos trabalhadores e oprimidos e pela luta anticapitalista. Confira a programação dos atos nas redes sociais da Povo na Rua com os horários e locais nacionais.
Chega de fome, miséria e desemprego!
Fora Bolsonaro e Mourão!
Mobilizar permanentemente pela base o conjunto dos trabalhadores!