Juventude Já Basta!

Neste momento, estão acontecendo as eleições para os Centros Acadêmicos na História e na Letras. De forma insólita, as Comissões Eleitorais (CE) desses cursos estão sendo abertamente instrumentalizadas politicamente para favorecer as chapas majoritárias em ditas comissões. Essa atitude coloca um precedente político muito perigoso. Orgãos que supostamente teriam que garantir a lisura dos processos eletivos, de fato, estão se tornando instâncias de árbitro político parcial que, com métodos autoritários e burocráticos próprios do stalinismo, sancionam politicamente as chapas da esquerda independente que são opositoras das gestões situacionistas. 

No caso da História, a CE teve um comportamento abertamente parcial contra a chapa Intifada (impulsionada pela Faísca/MRT), a qual foi impugnada e retirada do processo eleitoral. Essa medida antidemocrática foi justificada a partir de uma denúncia feita há quase dois anos contra um integrante da Intifada por um suposto comportamento machista, mas tal denúncia até agora não foi apurada, o que deixa o caso em aberto. A partir daí, a  CE controlada por membros da atual gestão, que é encabeçada pela Correnteza (UP) e por militantes da UJC (PCBR), de forma oportunista e autoritária, não deu nenhuma oportunidade de defesa para a chapa. Como se não bastasse, companheiros do Correnteza avaliaram ser de bom tom provocar a base da Faísca perguntando se estava “caindo muito voto” a um companheiro da chapa impugnada.  

Por último, mas não menos importante, segundo publicação da Faísca, na hora de aprovar a impugnação, a CE acrescentou uma justificativa escandalosa: validou a denúncia de um estudante que sentiu-se ofendido porque o nome Intifida é uma reivindicação do “terrorismo”. Ou seja, além de antidemocrático, o comportamento da CE em História é reacionário e de direita, pois valida argumentos do sionismo contra a legítima luta do povo palestino pela sua libertação.

Já no caso da Letras, o comportamento da CE, hegemonizada pela Rebeldia/PSTU, não foi muito diferente. Em primeiro lugar, emitiu um comunicado abertamente parcial contra a chapa “Das Palavras à ação” (Correnteza), porque ao se inscrever não cumpriu com a proporção mínima de 30% de estudantes pretos, pardos e indígenas. Diante da sinalização do problema, a chapa em questão retirou vários nomes da sua lista para se enquadrar nos parâmetros solicitados. Apesar disso, a CE repreendeu publicamente a chapa acusando-a de não apoiar a luta contra as opressões, um juízo de valor desproporcional que excede suas atribuições regimentais que é garantir formalmente o processo e não atuar como caixa de ressonância da Rebeldia/PSTU. 

Junto com isso, amparando-se numa denúncia anónima, a CE sancionou a chapa que nós do Já Basta compomos junto com a Faísca, A Poesia Está nas Ruas. Diante disso, imediatamente solicitamos que se encaminhasse a solução do problema, retirando o nome da pessoa da lista de apoiadores da chapa que foi incluída por um erro de comunicação. Mas, um mal-entendido sobre um atestado de matrícula apresentado pela chapa foi transformado pela CE em “falsificação” e transformou um assunto administrativo num fato político, sancionando nossa chapa de forma arbitrária e sem direito à defesa para expor nossos argumentos; nem sequer foi chamada uma reunião da CE para debater o assunto! Toda a discussão foi feita por mensagens no whatsapp e a decisão da CE foi respaldada pelo Movimento Lá (Rebeldia/PSTU e UJC) e Correnteza (UP).

Essa foi uma atitude oportunista e irresponsável que valida o uso de métodos autoritários que historicamente foram criados pelo stalinismo para atacar adversários políticos. Cabe aqui ressaltar que também houve um caso de uma outra pessoa estar escrita em duas chapas diferentes, algo que sob a premissa dos companheiros do Rebeldia/PSTU não seria um erro de comunicação, mas uma ação de má fé. Não só isso, avaliaram ser correto impor de cima pra baixo, a partir da comissão eleitoral composta por 5 membros, determinações à todas as organizações do movimento estudantil, controlando a quantidade e dias que se pode passar em sala de aula ao invés de convocar o movimento como um todo para um acordo coletivo que permitisse o desenvolvimento da discussão política de base e o bom andamento das aulas

De fato, a chapa Movimento Lá está focando sua campanha na sanção da CE; uma manobra para evitar responder porque rejeitaram a proposta de unidade que apresentamos para eles desde a nossa chapa A Poesia Está nas Ruas e fazer o debate sobre os rumos do ME de maneira política, não burocrática.Também nos acusam de distorcer a política que levaram à diante em 2016 sobre o golpe parlamentar contra Dilma que deu início à ofensiva reacionária que terminou com a eleição de Bolsonaro e ataques brutais aos trabalhadores e oprimidos, assim como às liberdades democráticas. Avaliamos, sim, que a posição dos companheiros era desconexa e irresponsável frente a situação política concreta e que se tratou de um erro gravíssimo terem optado por chamar o processo de “farsa do golpe” e agitado o “Fora Dilma” e “Fora Todos”.

É particularmente vergonhoso o comportamento da militância do Rebeldia/PSTU, uma corrente que se reivindica trotskista, mas que em seu desespero por manter a hegemonia na frente do CAELL, utiliza uma série de métodos autoritários próprios do stalinismo para atacar nossa chapa, principal oposição de esquerda independente da sua gestão. Por exemplo, vários de seus militantes estão dizendo que nós “roubamos” atestados por causa da sanção imposta pela CE a partir de um erro de comunicação nosso, uma postura que não só rebaixa o debate político, mas evidencia a tentativa de colocar pechas às outras organizações ao invés do debate de ideias e posições programáticas. Um exemplo de atroz deseducação política para as novas gerações que forjam sua primeira experiência no movimento estudantil.

Por tudo isso, nós da Juventude Já Basta! repudiamos com veemência essa onda  de autoritarismo que se manifesta – não somente – nas ações das Comissões Eleitorais da História e da Letras. Chamamos o conjunto das correntes que fazem parte do movimento estudantil a uma reflexão, pois não se pode naturalizar que as Comissões Eleitorais sejam instrumentalizadas como órgãos autoritários contra determinadas chapas e/ou posições políticas.

Isso é particularmente nocivo ao movimento estudantil, um espaço que deveria ser formativo para as novas gerações militantes e não se tornar um “ringue” despolitizado e burocrático. Essa é uma prática de “vale tudo” por alguns votos a mais, inclusive atacar militantes jovens que estão fazendo as suas primeiras experiências com métodos destrutivos que não são próprios do marxismo revolucionário. Os métodos stalinistas não devem ter espaço nas entidades do movimento estudantil!

Notas

  1. Por outra parte, é inadmissível manter aberto um caso desse tipo por tanto tempo, pois isso permite uma re-vitimização da pessoa que interpôs a denúncia, sendo um tema que apenas tem sido usado como discussão para cada novo processo eleitoral de maneira oportunista. 

2.  Além disso, deve-se acrescentar que antes das eleições, em reunião aberta, o Rebeldia estabeleceu como critério de unidade uma exigência de autocrítica pública das nossas posições durante a greve de 2023. Um critério abertamente stalinista! Na tradição do trotskismo revolucionário, os acordos políticos entre as correntes baseiam-se em posições e programas políticos, nunca na exigência à autocrítica sobre as diferenças políticas. Essa é a escola dos processos de Moscou (1936-38)! Sendo assim, nada melhor que sugerir fraternalmente que os compas do Rebeldia se apropriem dos escritos de Vadím Rogóvim publicados pela Editora Sundermann.