POR GABRIEL BARRETO
“É um recado político para o país todo, que tem que entender que isso aqui é importante. É um recado político também pro presidente mostrar que o carnaval é isso aqui, é a festa do povo, o carnaval é cultura popular, o carnaval não é o que ele acha que é.” (Fala do carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira, após a confirmação do título do carnaval carioca para a verde-rosa)
Numa festa com profundas raízes populares na cultura brasileira o repúdio ao governo foi massivo desde as ruas por todo o país e pelas passarelas onde passam as escolas de samba. Em São Paulo a Vai-Vai homenageou Marielle Franco, sua filha e a irmã desfilaram no sambódromo com um enredo que contou sobre escravidão e lutas do povo negro, com referências desde a revolução haitiana aos Panteras Negras. Na Sapucaí a Estação Primeira de Mangueira foi campeã pela vigésima vez interpretando como nunca a voz de milhões que não estão no retrato da “história oficial” levando à bandeira nacional “Índios, Negros e Pobres” ao invés da frase “Ordem e Progresso”.
O carnaval expressou um polarização profunda: de um lado a festa popular com forte engajamento político criticando abertamente e amplamente os escândalos de corrupção envolvendo o presidente e a família Bolsonaro, do outro, o massivamente rejeitado Bolsonaro tentando desqualificar o carnaval quando viu que sua rejeição tinha enorme repercussão. Mas fracassou completamente pois o que deu o tom foi a sátira e a crítica social.
Foram várias as referências políticas que embalaram as fantasias e as marchas carnavalescas: fantasias de laranjas associadas a Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, a presença massiva do azul e rosa saído da frase da ministra Damares nas fantasias de foliões. Na música da cantora Daniela Mercury e Caetano Veloso, que denuncia a retórica e política explicitamente homofóbica do governo e a adaptação de marchinhas carnavalescas clássicas, como “Doutor eu não me engano, o Bolsonaro é miliciano”, ou expressões de rechaço direto ao presidente, como “Ei Bolsonario, vai tomar no cu”, deram a tônica do carnaval. O vídeo com conteúdo pornográfico foi criticado por amplos setores, inclusive setores de direita que apoiam o presidente. No entanto, o twit de Bolsonaro não foi de todo ruim para alguns…Acabou repercutindo positivamente para sites pornográficos, um deles, inclusive, agradeceu pelas redes sociais o presidente pelo aumento nos acessos.
Não é de hoje que o Carnaval é o momento em que política, crítica social e festa se misturam pelas ruas e avenidas. Ano passado não faltaram “vampiros Temer” e carteiras de trabalho ameaçadas pela contrarreforma trabalhista. Mas, o de 2019, o primeiro de Bolsonaro no poder, acontece após intensa polarização da luta de classes que expressão os ataques aplicados pelos governos anteriores, passando pelas eleições manipuladas de 2018 e pelos primeiros meses de governos que colocam na ordem do dia uma série de ataques aos trabalhadores em todos os níveis, levando a um acúmulo de insatisfação popular com múltiplas expressões.
Indo para além do carnaval, a “reforma” da Previdência de Bolsonaro se configura como um dos maiores ataques à classe trabalhadora e aos oprimidos da nossa história, pois atinge as condições mínimas de existência dos mais pobres, retira direitos e aprofunda as desigualdades entre homens e mulheres. É ela que está na pauta e irá começar a tramitar nos próximos dias, é prioridade número um desse governo que tenta impor uma derrota estrutural e defensiva aos trabalhadores. Por isso, Insistimos que será necessária uma luta histórica dos de baixo para inviabilizar esse projeto, para isso o trabalho de propaganda nesse momento é decisivo.
Assim, não devemos nos perder nessa confusão em torno do vídeo postado por Bolsonaro, sobre o qual setores da esquerda se preocupam centralmente em ir atrás de “soluções jurídicas”, baseando-se na opinião de analistas que num passado recente estiveram na dianteira do impeachment de Dilma ou entrando com “representações” em instâncias como a PGR (Procuradoria Geral da República), em vez de apostar na organização direta da luta dos trabalhadores. Não será apostando nas instituições da classe dominante que iremos barrar a contrarreforma da previdência. A real preocupação da burguesia hoje é se Bolsonaro, que está encarregado de articular com o Congresso Nacional o “trabalho sujo” através da negociacão de cargos de segundo e terceiro escalão, além da compra de parlamentares, dará conta do recado, ou seja, aprovar a contrarreforma da Previdência.
As expressões de insatisfação massiva durante o carnaval e os atos massivos organizados pelo movimento de mulheres em várias partes do país demonstram que há um imenso espaço para mobilização pela base e coloca a necessidade das centrais sindicais, dos movimentos sociais e dos partidos que se colocam no campo da defesa dos interesses dos trabalhadores e dos oprimidos convocarem e organizarem uma Greve Geral contra a Reforma da Previdência que efetivamente coloque abaixo mais esse ataque. Quer dizer, uma greve que não seja igual a de 2017, quando CUT, outras centrais e o PT desmobilizaram os trabalhadores após a greve geral de 28 de abril. Recordando brevemente o que ocorreu nesse dia, há quase dois anos atrás, lembramos que os dirigentes sindicais fizeram de tudo para as mobilizações não saírem do controle. Em vídeo, a CUT orientava os trabalhadores a ficarem em casa, ao invés de paralisar em seus locais de trabalho e ir para manifestações, também propunham atos pontuais e dispersos e uma série de medidas que demonstraram que o papel dessas direções é conter a insatisfação que transborda desde a base.
Nesse momento a nossa principal tarefa é convocar e organizar o Ato Unificado contra a “reforma” da Previdência no dia 22 de março. Além da ampla convocação, com panfletagens, agitação e discussões nos locais de trabalho, estudo e moradia, cidades e regiões, é necessário organizar Comitês de Luta Contra a “Reforma” da Previdência para que se desenvolva um processo de mobilização amplo, pela base e livre das amarras burocráticas.