Bolsonaro ordena celebrar aniversário da ditadura militar

Nós rechaçamos e dizemos: Ditadura nunca mais!

GABRIEL BARRETO

O governo do Brasil, através do porta-voz Otávio Rego Barros, declarou que “nosso presidente já determinou que o ministério da defesa que faça as comemorações devidas com relação a 31 de março de 1964” e acrescentou que a jornada contará com um documento patrocinado pelo ministério e com a supervisão de Jair Bolsonaro.

Bolsonaro é um ferrenho defensor do golpe militar que torturou e assassinou centenas de lutadores. É um negacionista que expressou em várias oportunidades que não houve um Golpe de Estado senão um acordo civil e militar contra o governo João Goulart e que, inclusive, a ditadura cometeu um erro ao “torturar e não assassinar”. Não dá para esquecer que chegou a reivindicar o militar, General Carlos Alberto Brilhante Ustra, encarregado de torturar Dilma Roussef e muitos militantes que foram parar nos porões do DOI CODI (órgão responsável pela repressão política na ditadura).

Em seguida da presidência, foi a líder do governo na Câmara, a Deputada Federal Joice Hasselman (PSL/SP) que afirmou que comemorar o golpe militar “é a retomada da narrativa verdadeira de nossa história”. Entretanto, há alguns anos atrás, essa Sra. publicava nas redes sociais artigos que denunciavam os crimes cometidos durante a ditadura, internautas atentos registraram as publicações que Hasselman apagou para disfarçar seu servilismo ao governo.

Sobre os “heróis” de Jair Bolsonaro, há uma lista enorme de milicianos, assassinos e torturadores que, dentre outras coisas, ganharam elogios públicos, a começar pelos acusados do assassinato político de Marielle Franco que aparecem em fotografias e boas relações com o presidente e sua família.

Há algumas semanas atrás, a cerimônia de posse do novo diretor-geral da hidrelétrica de Itaipu, hidrelétrica binacional na fronteira Brasil-Paraguai, não passou sem que Bolsonaro exaltasse o facínora e general Alfredo Stroessner, afirmando que esse foi um “homem de visão e estadista”. Na verdade, este esteve à frente da mais longa ditadura da América do Sul (1954-1989), período que esteve a frente da repressão, comandando o assassinato de 5 mil pessoas e mais de 18 mil torturados, e de um sistema de estupros em série, incluindo inúmeras crianças.

Continuando com outra declaração sobre outro país vizinho: “Pinochet fez o que tinha que ser feito, porque no Chile havia mais de 30 mil cubanos. Então tinha que ser de forma violenta para reconquistar o seu país”, frase dita por Bolsonaro, defendendo o ditador chileno, em um programa de TV. Após mais essa aberração, o presidente direitista do Chile, Sebastian Piñera, se afastou do brasileiro e afirmou que sua declaração foi “tremendamente infeliz” e completou dizendo: “Não compartilho muito do que Bolsonaro diz sobre o tema”.

Apologia da violência, tortura, ódio e repressão às organizações da classe trabalhadora diluídas sob o “anticomunismo”, apelo às formas mais autoritárias do regime burguês, essa é uma constante do atual presidente, o que não nos surpreende, mas que rechaçamos veementemente!

O golpe militar de março de 1964 é uma página nefasta da história brasileira. Foi instalado um regime no qual a liberdade de organização e de expressão foram suprimidas. Partidos, sindicatos, imprensa e todos aqueles que faziam oposição foram silenciados.

31 de março é um dia sobre o qual não há nada a comemorar. É necessário ir às ruas, organizar protestos, debates e panfletagens para denunciar o golpe militar e colocar na defensiva seus defensores e negacionistas alinhados a esses que hoje ocupam a presidência.           

A saída não está apenas em procurar “crimes de responsabilidade” em cada ação do governo, como fazem alguns setores da esquerda que há muito estão adaptados às instituições burguesas. Pois, ao invés de lutar pela organização mobilizações, protestos e greves, procuram “especialistas” de plantão para embasar com argumentos jurídicos conflitos que só se resolvem de fato através do fortalecimento da nossa classe na luta de classes.      

Em um país onde o golpe militar segue impune, há mais de 200 agentes responsáveis por violações aos direitos humanos caminham livres pelas ruas e as forças armadas e a polícia continuam com a mesma estrutura do período ditatorial, este chamado a celebrar o golpe militar busca alimentar os setores mais reacionários que querem reviver o regime ditatorial e silenciar as gigantescas reservas de luta entre a classe trabalhadora. Reserva que pudemos presenciar recentemente nas manifestações do 8M, nas paralisações do Dia Nacional de Luta em 22 de março e veremos nas próximas que virão para enterrar de vez todas as “reformas” e ataques às nossas conquistas democráticas, após anos de sacrifícios e lutas, que a esse governo e a classe dominante quer impor.