BOLSONARO ATACA ENTIDADES DE DEFESA DOS INDÍGENAS E QUILOMBOLAS
LUCIANO MATHIAS
A posse do governo Bolsonaro já se mostra de grande perigo para o futuro socioambiental do país, concretizando o discurso de ataque aos povos indígenas e quilombolas durante toda a campanha do novo presidente.
Logo no primeiro dia de posse foi anunciada a medida que retira da FUNAI o papel de demarcações de terras indígenas, transferindo a atribuição para dentro do Ministério da Agricultura, instituição que representa os interesses do setor agropecuário no Brasil.
A FUNAI é um órgão de extrema importância para a manutenção e defesa do território indígena ha mais de três décadas, sendo responsável pela identificação, delimitação, demarcação e os registros das terras. Agora, passa por um esvaziamento e enfraquecimento com o novo governo, considerando que foi retirada sua principal atribuição.
Além disso, a equipe de Bolsonaro já havia declarado que a FUNAI seria passada do Ministério da Justiça para o Ministério de Direitos Humanos, comandada pela pastora evangélica Damares Alves. A mesma que pronunciou que “meninos vestem azul e meninas rosa”, e que já inferiorizou culturas não cristãs, também passa a ser responsável pelo órgão indigenista.
A nova reorganização das pastas governamentais além de representar um perigo claro aos povos indígenas, também, ameaça a preservação ambiental do país. Há tempos que o capitão aparece defendendo sem pudor a exploração dos recursos naturais, e flerta com a bancada ruralista considerada a mais poderosa do parlamento brasileiro.
Foi identificado na quarta-feira (2) um avanço de madeireiros na terra indígena Arara, no Pará. O cacique Xipaia classificou isso como uma aceleração de invasão de terras indígenas, como uma legitimação vinda do governo Bolsonaro em cima dos povos indígenas.
“O presidente só vive nos ameaçando, dizendo que vai tomar nossas terras. Isso nos deixa muito preocupado. Estamos preocupados porque ele mexeu na FUNAI, é o órgão que defende os índios. Como nós vamos defender a nossa área?”, disse o cacique.
O cacique também afirmou que um total de 600 pessoas dos povos indígenas do entorno estão se mobilizando para organizar um protesto em estradas da região.
A líder indígena Sônia Guajajara, candidata a vice-presidência pelo PSOL alertou, “ o desmanche já começou”. Também os povos Aruak Baniwa e Apurinã, do Amazonas, através de uma carta, pediram mais diálogo e respeito à democracia em resposta a nova medida e as declarações do presidente.
“Não estamos nos zoológicos, senhor presidente, estamos nas nossas terras, nossas casas, como senhor e como quaisquer sociedades humanas que estão nas suas casas, cidades, bairros”, diz o texto.
Resposta clara a postagem no twitter de Bolsonaro na quarta-feira (2); que descrevem os povos indígenas como pessoas isoladas que são “exploradas e manipuladas por ONGs” e que devem ser integradas a sociedade.
Nessa única postagem Bolsonaro, além de defender os interesses da bancada ruralista, também demonstra o menosprezo com as ONGs e sinaliza para o enfraquecimento das mesmas. Já no dia 2 uma medida provisória atribuiu a Secretaria de Governo da Presidência, comandada pelo general Carlos Alberto dos Santos Cruz, a tarefa de “supervisionar, coordenar, monitorar e acompanhar as atividades e as ações dos organismos internacionais e das organizações não governamentais no território nacional”.
É bem claro que as estratégias de ataques às minorias já começaram e que pontualmente os povos indígenas e quilombolas são foco desses ataques. Está nítida que a estratégia passa primeiro por enfraquecer as entidades que representam a defesa dessas minorias e, a partir daí, desmantelar todas as formas que garantem os direitos humanos dessa minoria.
É de extrema importância que o PSOL, os partidos políticos de esquerda e todos os setores de esquerda, que possuem a capacidade de mobilizar, saiam em defesa dos povos indígenas, reagindo a todos ataques às minorias e contribuindo para a unificação de todos os setores da classe trabalhadora e dos oprimidos que estão sendo atacados por esse governo. É fundamental ter a capacidade de resistir a todos ataques desse governo, o que só pode ser feito com a mais ampla unidade de ação, pela base e nas ruas!