Auto-organização e Solidariedade em Paraisópolis

A Comunidade se levanta para enfrentar a crise do Covid-19

Em dezembro do ano passado nos becos e vielas de Paraisópolis, uma criminosa ação da Polícia Militar do estado de SP assassinou 9 jovens que se divertiam em um dos mais famosos bailes funk do país.

RENATO ASSAD

Uma intensa e independente mobilização na favela de Paraisópolis (Zona Sul), segunda maior comunidade de São Paulo e a quinta maior do Brasil com cerca de 100 mil habitantes, vem tomando forma e ganhando força para enfrentar a crise do Covid-19. Um fenômeno que pode ser tomado como exemplo, podendo vir a se materializar em outras comunidades brasileiras devido ao criminoso papel que cumpre o governo federal, negando qualquer medida emergencial aos explorados e oprimidos (classe mais vulnerável).

Trata-se de uma parceria da União de Moradores com a Associação das Mulheres de Paraisópolis e o G10 das Favelas (instituição que reúne os líderes de 10 grandes favelas brasileiras). Uma impressionante auto-organização da comunidade coloca em prática o “Programa Socorro”.

Foram eleitos 420 presidentes de rua, responsáveis por acompanhar pessoas que possam apresentar sintomas do novo coronavírus e/ou se precisam de atendimento médico. Além dessa tarefa essencial, estes líderes de ruas devem identificar as famílias que apresentam renda reduzida, renda zero e que podem estar passando fome. Aos mais vulneráveis, uma equipe de 15 mulheres se mobiliza e prepara uma distribuição de cerca de 1.300 marmitas por dia.

Para que se possa realizar atendimentos médicos na comunidade, este programa contratou dois médicos, três enfermeiros, três socorristas e três ambulâncias. A equipe de trabalhadores se mudou para Paraisópolis, os profissionais estão morando há cerca de duas semanas em casas cedidas por moradores, onde relatam a impecável recepção da comunidade.

A grave situação da precariedade do sistema público de saúde nas comunidades demanda que estes profissionais trabalhem também atendendo casos não relacionados com o Covid-19, situação que pode trazer um intenso desgaste à equipe, com o aumento do número de infectados pela pandemia na comunidade.

O Programa Socorro hoje apresenta condições econômicas para a sua manutenção no período de um mês e por isso a comunidade se organiza também em uma campanha de arrecadação online (vaquinha) para poder arcar com os custos e dar continuidade a esta brilhante intervenção comunitária. Para fazer uma contribuição acesse o link: https://www.esolidar.com/br/crowdfunding/detail/3-g10-apoie-paraisopolis-a-combater-o-corona-virus?lang=br

O governador de São Paulo João Doria, hoje um lobo em pele de cordeiro, que quando prefeito investiu 53% do orçamento destinado à saúde para a rede privada e isentou a criminosa ação da PM que culminou na morte dos 9 jovens (presentes!), se apoia unicamente na repressão para garantir o isolamento social que hoje não chega ao 70% (cenário ideal segundo a OMS) e que não chegará se não houver a imediata implementação de medidas emergências que garantam a subsistência e condições dignas no período de isolamento social aos mais vulneráveis.

Todo apoio à comunidade de Paraisópolis!

Nenhum trabalhador e nenhuma Trabalhadora a menos!