Ato em defesa da cultura é reprimido pela GCM em São Bernardo do Campo

SARA VIEIRA

Na última quinta-feira, 08 de fevereiro, os participantes da Batalha da Matrix, evento de Rap e leitura que acontece toda terça-feira à noite na praça da Igreja Matriz de São Bernardo do Campo e que reúne centenas de jovens da cidade, fizeram uma manifestação em defesa do direito à cultura e contra a cobrança de tarifas para o uso de espaços públicos no município.

A Batalha da Matrix vai completar cinco anos e para comemorar o aniversário em grande estilo, os organizadores da batalha solicitaram à Prefeitura o uso do Parque da Juventude, mais conhecido como “praça do skate” para a realização do evento. O lugar oferece uma infraestrutura mais adequada, uma vez que conta com uma concha acústica e espaço para a plateia. O evento todo seria organizado pelos próprios organizadores da batalha, não gerando nenhum tipo de ônus ao erário. Embora tenhamos o entendimento de que, caso houvesse algum custo aos cofres públicos, seria investimento e não gasto. A prefeitura respondeu que estava calculando o valor da taxa a ser cobrada para o uso do espaço.

Tal atitude demonstra o descaso do governo local com a cultura da cidade, e mais, mostra que esta gestão tem planos de cobrar o uso dos espaços públicos da cidade. Entendemos que os parques e praças são locais de livre acesso aos munícipes, cabendo ao poder público garantir os espaços necessários, as condições adequadas de uso e agendamento transparente dos eventos, de forma que todos que desejarem possam realizar suas atividades com segurança e organização.

Diante dessa resposta reacionária da Prefeitura do município, os organizadores da Batalha chamaram um ato público em defesa da cultura na cidade. A manifestação ocorreu de forma organizada e pacífica, visto que a violência nas manifestações na ampla maioria das vezes ocorre pela intervenção covarde das forças repressivas. Segundo uma das participantes do ato, a GCM (Guarda Civil Municipal) foi informada do horário e itinerário. Os manifestantes foram até o prédio onde mora o Secretário de Cultura Adalberto Dal Guazzelli, exigir que o mesmo resolva a questão dialogando com a organização do evento, autorizando o uso do parque e garantindo o direito da juventude à criação cultural na cidade.

Durante os protestos, a GCM fez diversas “solicitações” descabidas aos manifestantes, tais como: permanecerem na calçada e liberarem a entrada da garagem do prédio onde mora o secretário. Todas foram atendidas, pois o movimento queria abrir um canal de diálogo com o poder público. Mesmo assim, ao final, sem nenhuma necessidade pois tudo ocorria tranquilamente, a GCM fez uso de bombas de gás. Uma atitude desnecessária, truculenta e que demonstra a falta de diálogo do poder público (leia-se do prefeito Orlando Morando-PSDB) com a população trabalhadora da cidade – demonstrada também em vários outros casos, como na ocupação Povo Sem Medo, por exemplo -, em especial, com os jovens da periferia.

Nós, do Socialismo ou Barbárie-tendência do PSOL, responsabilizamos por essa odiosa repressão o prefeito Orlando Morando e manifestamos nosso total apoio e solidariedade aos organizadores e participantes da Batalha da Matrix. Não admitimos que a guarda municipal aja como força repressiva a nenhum movimento social da cidade ou luta da classe trabalhadora, que trate com violência a nossa juventude de origem operária que estava de forma organizada lutando pelo direito à cultura. Também defendemos o direito a livre manifestação e nenhuma forma de constrangimento policial previsto na Constituição Federal.

Além disso, faz-se necessário que atenda imediatamente à reivindicação da Batalha da Matrix, que atenda todos os movimentos culturais da cidade e, a partir daí, seja organizado desde baixo, desde os próprios movimentos culturais, um plano para a cultura que privilegie as manifestações culturais da cidade e região; que possibilite a produção e acesso à cultura nas regiões mais afastadas do centro; que coloque a pleno funcionamento os teatros, bibliotecas e centros culturais da cidade, enfim, que cumpra seu papel de facilitar as expressões culturais e garantir o direito dos cidadãos ao acesso à ela.