Há mais de um ano e meio, estamos fazendo esforços para a construção de um projeto político socialista para o Brasil através do Movimento Pela Frente Socialista Revolucionária.
Para superar a crise de direção e de alternativa socialista no seio da classe trabalhadora e dos oprimidos, precisamos superar a fragmentação e dispersão das organizações que se reivindicam socialistas revolucionárias, e mais, precisamos urgentemente construir um bloco de independência de classes na esquerda socialista, na classe trabalhadora e juventude.
Não queremos ser, sozinhos, a única organização socialista e revolucionária para o país e o mundo, pois seria um absurdo tal autoproclamação, mas é evidente que pelas dimensões continentais que tem o país, pela dificuldades que as maiores organizações socialistas têm apresentado em suas estratégias e táticas e pela necessidade de construirmos experiências comuns entre as organizações existentes; precisamos somar esforços socialistas para conseguir dialogar com milhares de militantes, ativistas e combatentes sociais que lutam contra o capitalismo, os patrões, os governos burgueses, os governos de conciliação de classes e a extrema direita.
Sem um patamar maior de organização política que possa cumprir a tarefa de dialogar de forma socialista revolucionária com setores mais amplos da classe trabalhadora e dos oprimidos, continuaremos isolados e dispersos dando imenso espaço à esquerda da ordem, liberal e governista, que cria ilusões em sua política de conciliação com a burguesia e, pior, com setores da própria extrema direita bolsonarista, que estão dentro do Governo Lula.
Apoiar este tipo de governo que, não revoga nenhuma contrarreforma dos governos anteriores e aprova novas, como é o caso do novo teto dos gastos e da reforma tributária, é uma traição à necessária luta independente dos trabalhadores para conquistar suas reivindicações e, a partir de um processo de lutas mais radicalizadas, impor um governo efetivamente seu.
Para nós, este é o significado da independência de classe que queremos urgentemente defender e organizar. Precisamos nos colocar contra a conciliação que não é capaz de enfrentar a burguesia e o neofascismo bolsonarista que se mantêm ativos ameaçando não somente as lutas sociais, mas a própria integridade física da classe trabalhadora, da juventude negra e periférica, dos povos indígenas, quilombolas, ambientalistas e a população LGBTTQIA+ a partir do aparato policial, das milícias, dos latifundiários e governos estaduais e municipais.
A democracia burguesa, STF e o governo da esquerda liberal de Lula no seu afã de normalizar o regime não irão converter a burguesia e a extrema direita neofascista bolsonarista em democratas. Um neofascista golpista burguês será sempre um neofascista enfeitado e embelezado de “democrata” pela esquerda liberal, por essa razão, lutar nas ruas para prender e expropriar os bens de Bolsonaro e de todos os golpistas é fundamental.
É neste cenário da luta de classes que pedimos o seu apoio a essa iniciativa política da esquerda socialista. Se você é a favor da nossa existência política e concorda que tenhamos espaço para debater nossas posições no conjunto dos movimentos sociais, sindicais, populares e de juventude, pedimos seu apoio com sua assinatura e contato no formulário abaixo para que possamos preparar nosso lançamento público e dar outros passos no processo de construção e organização do Movimento Pela Frente Socialista Revolucionária. Contamos com você!
Apoie aqui: https://docs.google.com/forms/d/1BmXJJOkVaPXcRQbj-W0VIsVQKNnPmGKxg3tbKOdtrb4/edit
Carta do Movimento pela construção de uma Frente Socialista Revolucionária
Unidade para lutar contra o marco temporal, o arcabouço fiscal e pela prisão de Bolsonaro
Construir uma Frente de Esquerda de oposição aos governos burgueses e de enfrentamento ao bolsonarismo
Para começo de conversa
Esse manifesto tem o objetivo de traçar as primeiras impressões que esse coletivo de correntes, grupos e militantes têm da realidade e de realizar um amplo chamado à discussão sobre a necessidade de construir um processo histórico de reorganização da esquerda que se abre com a liquidação política do PSOL nos últimos anos e também uma resposta à fragmentação e isolamento político e social da esquerda anticapitalista.
Além do combate ao oportunismo, ao sectarismo e ao ultra esquerdismo, apostamos na construção de saídas políticas anticapitalistas para as necessidades dos explorados e oprimidos no Brasil e no mundo que sejam construídas centralmente pela auto-organização da classe trabalhadora e das massas e de forma independente da patronal e das burocracias colaboradoras dos governos e dos patrões.
Vimos somando, desde o ano passado, organizações, grupos e militantes oriundos de várias experiências e organizações políticas que, após traições, capitulações e sectarismos, com o apoio à chapa Lula-Alckmin e o ingresso no governo burguês de conciliação de classes liberal-social atípico, o Lula 3, rompem com suas organizações anteriores e se colocam a serviço da construção de um Movimento por uma Frente Socialista Revolucionária.
Para essa tarefa convidamos todas as organizações, ativistas e militantes que estão rompendo com o PSOL, que já romperam e que estão em vias de romper, bem como organizações e militantes socialistas revolucionários com outras trajetórias políticas e organizativas.
Crise global do sistema e tensionamento da luta de classes
Em que pese ser essa uma iniciativa de construção ainda em âmbito nacional, partimos da nossa análise do panorama internacional porque todos os países do mundo, e o Brasil não é diferente, sofrem influência cada vez mais direta da dinâmica política mundial.
A grande crise econômica de 2008 fez entrarem em colapso os governos de conciliação de classes do período anterior. Com isso, parte do imperialismo e das burguesias do mundo inteiro procuraram resolver a crise do capitalismo com a ampliação do apoio à extrema-direita, apoiados em medidas de intervenção militar, golpes de Estado e manobras reacionárias de todo o tipo. Por outro lado, além dos ataques neoliberais tivemos as rebeliões da “Primavera Árabe”, levantes populares em Hong Kong, Chile e Irã. Fortes mobilizações populares no Paraguai, Argentina, Peru e Colômbia e a retirada das tropas dos EUA do Afeganistão e de outras rebeliões em outras partes do mundo, que apesar das contradições, insuficiências e retrocessos, foram importantes levantamentos populares contra ditaduras, governos democráticos burgueses e suas políticas neoliberais.
São revoltas contra as consequências das crises econômica e social que produzem o aumento da fome, do desemprego e do trabalho precário, inclusive nos países imperialistas. Mas, também não podemos desconsiderar o atraso, os limites e os problemas da consciência da classe trabalhadora (tanto “de si” como “para si”), manifestados na ausência de organizações políticas revolucionárias com influência em setores amplos, em um sindicalismo combativo e outras expressões da consciência de classes. Esse é um elemento importante da realidade, abrindo assim espaço para a atuação das direções pelegas e traidoras desviarem essas lutas para o campo eleitoral (Chile, Colômbia etc.) ou mesmo forçarem a desmobilização, como é o caso mais atual da França.
A guerra da Ucrânia é o ápice, neste momento, do conflito Inter imperialista e da situação da luta de classes mundial a partir da crise do capitalismo mundial. Os povos e a classe trabalhadora enfrentam uma disputa Inter imperialista, um governo fantoche da Otan na Ucrânia, que é Zelensky, que permite a entrada em território ucraniano de inspetores, técnicos e agentes da OTAN e EUA e seus armamentos e uma invasão militar russa de ocupação territorial da Ucrânia com objetivos expansionistas de Putin na região de Donbass e Crimeia. Do ponto de vista das disputas geopolíticas e geoeconômicas, o velho e o novo imperialismo tentam avançar sobre espaços de dominação um do outro, em um novo momento da ordem mundial em que há uma tendência a uma nova bipolarização que leva no final a uma crise generalizada sem igual no planeta.
A acumulação capitalista se faz cada vez mais às custas da superexploração da classe trabalhadora mundial, através da destruição das forças produtivas e dos ecossistemas, levando ao colapso climático que castiga como um flagelo os povos e o conjunto da classe trabalhadora mundial, com o incremento da fome, da carestia e da escassez. Essa crise sistêmica e planetária, que está levando ao colapso do meio ambiente, a níveis de exploração insuportáveis dos trabalhadores e a uma opressão cada vez mais bárbara, exige uma resposta política dos revolucionários. O caráter destrutivo da produção capitalista coloca em xeque qualquer possibilidade de recuperação ambiental sustentável enquanto esse sistema existir. É assim com governos de direita, de extrema-direita ou governos pretensamente de esquerda. O estabelecimento de uma relação harmoniosa entre a natureza e o ser humano só pode ocorrer quando as forças produtivas forem redirecionadas para a produção sob controle dos trabalhadores e para os interesses coletivos, para a superação da alienação do trabalho, do lucro e do capital.
As rebeliões populares, os levantes populares e a organização inicial dos trabalhadores mais precarizados ao nível mundial, podem colocar um terreno mais favorável para a reorganização mundial das forças revolucionárias sob a bandeira da revolução socialista. Esse é o grande desafio e condição para dar vazão aos processos ainda incipientes de organização de trabalhadores precarizados e da juventude que surgem nessas lutas, dos quais, podemos destacar o Encontro Internacional de Trabalhadores por aplicativos.
Também é parte da crise da alternativa socialista o avanço da extrema-direita que, diante da impossibilidade de solução das crises econômica e social por “vias normais”, vai ocupando espaços institucionais (Brasil, Itália, Peru, França, Argentina, entre outros) e ampliando a organização de grupos e ações tipo milícias. Como a luta dos trabalhadores não consegue encontrar ainda uma expressão política direta ou movimentos revolucionários que permitam a tomada do poder, o que fica desses movimentos pendulares é uma polarização política entre explorados e exploradores cada vez mais radicalizada, o que pode ser chamado também de uma situação de bipolarização, em que nenhum dos dois polos consegue se impor ao outro por muito tempo.
Em relação ao regime político, há dois processos importantes: o primeiro é a força política da direita e principalmente da extrema-direita que tem conseguido vitórias importantes pelo mundo atraindo simpatia inclusive de um setor da classe trabalhadora; e o segundo é o caráter cada vez mais autoritário da democracia burguesa que tem aperfeiçoado o aparato repressivo (policial e judicial) e restringido as liberdades democráticas, como a feroz repressão contra os lutadores pelo mundo afora. Neste sentido, governos de conciliação de classes, neoliberais e até extrema-direita se revezam sem conseguir resolver a crise.
Vêm sendo gestadas as condições para a iminência de uma nova época de crise global do sistema, da economia capitalista mundial, da crise ambiental e da crise geopolítica. Uma crise do sistema que coloca uma tremenda acentuação nas contradições do capitalismo em que pode eclodir uma nova etapa na luta de classes. As políticas de conciliação de classes receberam apoio dos dirigentes dos aparatos sindicais e políticos para administrar os interesses do imperialismo e da burguesia. Porém, estas medidas não são aceitas por muito tempo, o que torna as políticas de absorção pelos regimes democráticos burgueses cada vez mais difíceis de se efetivar, tendendo a tornar mais radicalizada a luta de classes.
Do ponto de vista político-organizativo temos de um lado a crise do velho movimento sindical, mas também há a formação incipiente de novas organizações internacionais dos trabalhadores, particularmente dos setores mais precarizados, e dos oprimidos. Por essa razão, temos o desafio de construir correntes socialistas revolucionárias dinâmicas que sejam capazes de tirar as conclusões dos grandes fatos da luta de classes e de inserirem no processo de reorganização das lutas da juventude e da classe trabalhadora.
Enfrentar o governo de conciliação de classes e a extrema-direita
No Brasil, o ascenso da extrema-direita bolsonarista, além da crise econômica que atingiu a América Latina a partir de 2012 e da ofensiva reacionária da burguesia, também foi facilitado a pelas políticas dos governos do PT no último período, pois estes constituíram alianças governamentais com a grande burguesia, com os banqueiros, com os latifundiários, das indústrias e exportadores.
Enquanto o PT e Dilma apostaram, em meio à crise estrutural, na recomposição de suas relações com a classe dominante, o imperialismo e a burguesia local articulavam a derrubada de Dilma para impor o governo reacionário de Michel Temer e, depois, da extrema-direita de Jair Bolsonaro, para levarem adiante um nível de ataques políticos, sociais e econômicos muito mais profundos.
Depois de quatro anos de um governo burguês de extrema-direita cujo objetivo era fechar o regime – o que tentou até o final – e que impôs um verdadeiro genocídio e ecocídio durante a pandemia e a contrarreforma da Previdência, os setores mais empobrecidos e oprimidos da classe trabalhadora votaram contra Bolsonaro nas eleições de 2022, apesar da política da chapa Lula-Alckmin, que se colocou contra as necessidades mais sentidas das massas,.
Da mesma forma que os anteriores governos do PT, o governo Lula-Alckmin se constitui como um governo burguês de conciliação de classes liberal-social atípico, pois reúne o apoio político quase absoluto das centrais sindicais da classe trabalhadora e movimentos sociais, com exceção da CSP-CONLUTAS que mantém uma linha de independência de classe. Tudo isso em aliança com a maior parte da burguesia tradicional e seus representantes – como José Múcio, ministro bolsonarista da Defesa – em nome da defesa da democracia burguesa e da normalização deste regime no país. Política essa que, inclusive, coloca instituições reacionárias, como o STF e as forças policiais contra as liberdades democráticas que podem atingir toda a classe trabalhadora e juventude no próximo período de lutas.
Sabemos que a vitória eleitoral contra Bolsonaro de 2022, não obstante sua insuficiência e parcialidade, tornou-se possível graças à experiência das massas com a política do presidente na pandemia que resultou em centenas de milhares de mortes, o desemprego e a crise social que se agravou nesse período. Esse fato, o resultado do processo eleitoral, colocou melhores condições para a luta e foi o que ocorreu durante o primeiro trimestre do ano. Mas, por enquanto, a maioria das experiências de luta estão sendo mediadas pelos interesses políticos – alinhados aos do governo – das burocracias que dirigem o movimento de massas. Ao não representar os verdadeiros interesses da classe trabalhadora e dos oprimidos, fazem com que essas mobilizações não tenham o alcance e o impacto na realidade que deveriam ter.
A aliança em torno da defesa do regime democrático burguês, particularmente em países periféricos do sistema, como forma de pacificação dentro do capitalismo nunca deu certo, pois a burguesia quando precisa impor condições maiores de exploração e de opressão, endurece ou fecha o regime político para impedir ou tentar neutralizar as lutas da classe trabalhadora. Por essa razão, a única garantia para preservar os direitos de luta e organização, os verdadeiros direitos democráticos dentro de qualquer regime burguês, é através da própria mobilização da classe trabalhadora.
No começo do governo Lula, enfrentamos a tentativa malfadada de golpe em 8 de janeiro que não pode se sustentar principalmente porque não tinha apoio da grande burguesia e do imperialismo, o que abriu uma conjuntura mais favorável para avançar em medidas democráticas fundamentais, como a prisão de Bolsonaro, o fim dos tribunais militares, o fim da polícia militar e outros. Mas, como esse é um governo de colaboração, inclusive com bolsonaristas em ministérios, nada foi feito nesse sentido. O governo preferiu a manutenção de todas as reformas neoliberais, privatizações, pagamento – sem auditoria – da dívida pública e a permanência da política econômica neoliberal de metas inflacionárias, câmbio flutuante e superávit primário.
Mas, não parou por aí, Lula 3 dedicou-se ao novo regramento fiscal, a primeira grande contrarreforma deste governo, o que comprova o seu caráter burguês para quem tinha, ou ainda tem, alguma dúvida. O novo marco fiscal e a reforma tributária foram aprovados em unidade com a burguesia na Câmara dos Deputados. Trata-se de um novo teto de gastos que limita o crescimento das receitas primárias a 2,5% para que mais dinheiro seja utilizado para o pagamento da dívida pública, o que levará, se for aprovado no Senado, à destruição dos serviços públicos, dos salários e empregos com direitos trabalhistas visto que os poucos investimentos do próximo orçamento poderão ser reduzidos caso não se atinja as metas de corte de gastos e arrecadação. Isso, em uma situação de recessão e inflação mundial, de guerras regionais e ameaça de guerra global, tornará o orçamento do arcabouço fiscal, pelo seu mecanismo de castigo, sempre menor e pela metade do que o anterior, sem tocar em um tostão dos bilhões dos lucros dos grandes capitalistas que ganham rios de dinheiro sem pagar impostos progressivos.
A votação do novo arcabouço fiscal limita os gastos públicos, a reforma tributária isentou os ricos, o marco temporal avança no Congresso sem resistência do governo, o salário-mínimo equivale a cerca de 20% do salário-mínimo do DIEESE.
Apesar dos discursos em defesa da Amazônia e outros biomas, o que tem prevalecido é a continuidade da destruição ambiental sem medidas efetivas de enfrentamento ao agronegócio e à mineração, que são os maiores responsáveis pela degradação do meio ambiente. Outro aspecto importante é a falta de combate à violência policial que dizima nossa juventude nas periferias do país. Inclusive, a polícia baiana, liderada há muitos anos pelo PT, é a que mais mata no Brasil.
Esse conjunto de elementos apenas confirma que esse é um governo incapaz de atender as necessidades estruturais da classe trabalhadora porque, como é um governo burguês de conciliação de classes, é gestor do neoliberalismo e do capital. Por esse quadro entendemos que devemos ampliar de forma sistemática as denúncias de tudo que o governo Lula está fazendo contra os interesses da nossa classe, mas, principalmente, queremos também fazer fortes exigências através da mobilização e da luta para colocar nas ruas amplos setores da classe trabalhadora e juventude que ainda confiam em Lula para que se exijam o veto do Marco Temporal, a revogação do NEM (Novo Ensino Médio) e o encaminhamento da prisão de Bolsonaro e outros genocidas milicianos, sem dar apoio político algum a Lula e ao seu governo.
As lutas de mulheres, negros e LGBT+s como parte da luta contra o capitalismo
O Movimento pela Frente Revolucionária e Socialista tem como pressuposto a que na luta contra o capitalismo é fundamental incorporar o combate a todas as formas de opressão (racismo, LGBT+fobia, machismo, etc.), entre outras muitas razões, por essa parte da classe trabalhadora ser submetida a níveis muito maiores de exploração.
E é uma luta do conjunto da classe trabalhadora, a qual os partidos de esquerda, os sindicatos (e a nossa central), etc. incorporando as pautas dos movimentos negro, de mulheres e LGBT+ nas lutas políticas gerais e nas campanhas salariais garantindo direitos (como salário igual, mecanismos de proteção, etc) nas Convenções e Acordos Coletivos das categorias.
Outra questão importante é que o machismo, o racismo ou a LGBT+fobia é mais um instrumento utilizado pelo capital para subjulgar pessoas e enquadrá-las em padrões definidos pela ideologia burguesa.
Para nós, o movimento contra as opressões deve ter: a) uma atuação prática na realidade, pois só a luta direta pode conquistar direitos; b) antigovernista; c) superar os limites do identitarismo, ser formado por trabalhadores/as e defender os interesses da classe e dos setores oprimidos; d) socialista, que luta pela Revolução e por uma sociedade sem classe social.
– Contra o machismo e o capitalismo
Discutir gênero partindo da nossa classe social significa compreender que as relações em que as mulheres estão inseridas na sociedade capitalista são marcadas pelo patriarcado e pela apropriação do produto do seu trabalho. Essa relação começa nas relações familiares, espaço com uma divisão social do trabalho que penaliza a mulher com dupla e/ou tripla jornadas de trabalho, tarefas domésticas sem remuneração e, não poucas vezes, a submissão a humilhações, agressões, assédios e até assassinatos.
Um movimento classista deve buscar a unidade da mulher trabalhadora, a solidariedade e ser formado por mulheres trabalhadoras para lutar contra o machismo, contra o capitalismo e por uma sociedade em que mulheres e homens estejam unidos contra qualquer forma de opressão e exploração.
– Contra a LGBT+fobia e o capitalismo
Lutamos por uma sexualidade e identidade de gênero livres de toda forma de preconceitos que o capital impõe sobre a humanidade. Entendemos que a sexualidade é uma forma de prazer humano a que todes têm o direito de se desenvolver e realizar. Portanto, a sexualidade não pode, como querem os capitalistas, ser tratada como forma de reprodução da força de trabalho e nem com ódio, pois é uma expressão das mais importantes da humanidade. Por isso, o fim do capitalismo é um passo fundamental para a nossa sexualidade ser livre.
Também pela construção de uma identidade de gênero não-cisgênero, em que a pessoa possa constituir sua identidade independente dos padrões impostos, viver plenamente sua condição e livre da transfobia, tendo acesso aos direitos básicos de Educação, saúde, moradia e emprego.
Defendemos um movimento LGBT+ que paute a defesa do socialismo como o único sistema social capaz de garantir a mais ampla liberdade para a humanidade. Essa concepção também implica que a classe operária é a única que poderá levar adiante o projeto de ruptura revolucionária com o capitalismo. Portanto, impulsionar e ampliar a organização (reuniões, publicações, debates, etc.) de movimentos coletivos/grupos de luta contra a opressão em nossas frentes de atuação é um jeito importante de fortalecer a luta contra a LGBT+fobia e de ganhar a classe trabalhadora para lutar contra as várias formas de opressão que existem nessa sociedade.
– Contra o racismo e o capitalismo
A maioria da população negra continua ganhando menos, está nos trabalhos mais precários e nas periferias é o alvo predileto das forças de repressão com o constante assassinato de jovens negros, enfim, essa parte da população é duramente explorada pelos capitalistas.
Na crise estrutural do capital, negros e negras continuam representando força de trabalho barata, portanto, é imprescindível a unidade na luta contra a ofensiva global sobre direitos sociais e trabalhistas com a combinação de pautas do movimento negro e contra a ofensiva racista da direita e de grupos de extrema-direita.
Os ideólogos burgueses falam contra o racismo, mas as palavras deles são vazias porque, para existir, o capitalismo precisa do racismo (e de outras formas de opressão).
Por isso, necessitamos de um programa que parta da luta imediata pelas demandas do movimento negro e ao mesmo tempo combine essas reivindicações com as outras do conjunto da classe trabalhadora contra a exploração e o domínio do capital.
Para nós, se não dá para esperar a Revolução para lutar contra o racismo (a luta é agora e já) também não dá para lutar contra o racismo sem lutar contra o capitalismo. É como dizia Estephen Biko (militante antiapartheid na África do Sul e morto por torturadores em 1977) “O racismo não implica apenas a exclusão de uma raça por outra – ele sempre pressupõe que a exclusão se faz para fins de dominação” e “Racismo e capitalismo são faces da mesma moeda”.
Falência política do PSOL abre processo histórico de reorganização
Manter-se nesse governo, mesmo não tendo revogado as reformas da previdência, trabalhista e do NEM, com a aprovação de uma contrarreforma como a do novo teto de gastos e do marco temporal para demarcação das terras indígenas, só pode significar a perda total dos limites de independência de classe, uma traição à necessidade de apostar sistematicamente em táticas que levem à mobilização dos trabalhadores contra os ataques que estão em curso.
Para enfrentar e derrotar a extrema-direita e a direita não podemos cair no conto do vigário do campismo com a burguesia “democrática”: é preciso de forma independente chamar toda a unidade pela base para derrotar o neofascismo e a extrema-direita nas ruas. O adesismo ao campo democrático burguês só serve para que o governo Lula, governo de conciliação das direções traidoras da classe trabalhadora com a burguesia, aplique a política econômica do imperialismo, do capital financeiro, dos grandes bancos e do grande capital em geral, mantendo o pagamento da dívida pública e a alta de juros do banco central. Além disso, corrobora com a ideia de que a extrema-direita possa ser combatida por meio das instituições burguesas, o que é mais do que ingenuidade, é um desvio ideológico oportunista que pretende desacreditar a força das massas, despolitizar e diminuir o seu ímpeto de luta.
A ala “esquerda” da coalizão de classes, seja em setores minoritários do PT, direção do PSOL, PCB e UP e dos movimentos usa a velha ideologia reformista do “governo em disputa” e a carcomida política de “empurrar o governo Lula à esquerda”. A ala esquerda, ao dar cobertura e enfeite de “progressista” a Lula, coloca os setores mais combativos da nossa classe à mercê de uma desmoralização diante da necessidade crescente de reorganização das lutas sindicais, estudantis e populares no exato momento dos novos ataques. Por essa razão, chamamos os setores da esquerda socialista – tais com as que estão ainda no PSOL – a romper com esse vergonhoso apoio a esse governo e a organizar uma frente, real, de oposição de esquerda ao governo e contra o bolsonarismo.
Na atual situação política, a oposição de esquerda ao governo e de enfrentamento à extrema direita terá que combinar uma política de exigências e denúncias para desmascará-lo como um suposto governo da classe trabalhadora e juventude, pois as direções políticas e sindicais da classe trabalhadora e da juventude estão em peso apoiando o governo e transmitindo a ilusão de que esse seria da classe trabalhadora. Essa frente de oposição deve impulsionar a luta contra o novo teto de gastos, contra o marco temporal, bem como por salário, emprego e moradia, mas não pode secundarizar, como fazem algumas correntes, a luta pela prisão de Bolsonaro e todos os golpistas, pois essa é uma tarefa central para impor uma derrota fundamental à extrema-direita no Brasil.
Acreditamos que a falência política do PSOL abre a possibilidade de um novo processo de reorganização política da esquerda no Brasil. Por isso, vemos que as recentes rupturas do PSOL, bem como as anteriores com esse mesmo partido, de correntes, grupos e milhares de militantes socialistas honestos, são uma confirmação do acerto que tiveram muitos setores em se desligarem do PSOL desde que este resolveu fazer parte da chapa Lula-Alckmin e constituir a federação partidária com a REDE, fechando assim um processo de degeneração política que fez esse partido romper com a independência de classe. De outra forma, este processo se combinou com o rompimento, iniciado anteriormente, de muitos militantes com o sectarismo e o ultra esquerdismo do Fora Todos, em meio à ofensiva reacionária do impeachment de Dilma, ou o oportunismo de apoiar politicamente a Operação Lava Jato, que também estava a serviço da mesma ofensiva burguesa sobre a classe trabalhadora.
Da nossa parte, pensamos que é necessário lançar um movimento para formar um bloco da esquerda em uma frente socialista revolucionária independente com todas as forças políticas que se propõem a construir uma política independente do governo, da burocracia sindical e dos patrões. Pela atual acumulação política e organizativa da esquerda socialista no Brasil e pela necessária experiência comum não temos condições de ir imediatamente a um processo de enlace. Assim, esse movimento que estamos propondo tem o objetivo construir uma frente política socialista revolucionária em que todas as forças tenham total liberdade política e organizativa, mas que intervenha, conjunta e imediatamente, na realidade política, elabore um programa mínimo, fóruns de discussão e deliberação e instrumentos comuns de agitação e propaganda para fortalecer a intervenção nesta nova situação política que está se abrindo.
Estrategicamente, essa frente tem como desafio, além da intervenção imediata na luta de classes com o eixo da luta contra o novo teto de gastos, contra o marco temporal e pela prisão de Bolsonaro e todos os golpistas, impulsionar a construção de uma nova direção socialista revolucionária em diálogo com a vanguarda da classe trabalhadora e da juventude. Esta tarefa dependerá das lutas da nossa classe no próximo período, da nossa capacidade de estarmos aliados a estas lutas e de contribuir com a sua organização e politização, para serem cada vez mais independentes, democráticas e internacionalistas.
Precisamos recuperar e recriar os instrumentos de luta da classe trabalhadora, sindicatos, associações e movimentos para a luta imediata e para a luta anticapitalista, socialista e revolucionária. É para o desafio de iniciar a reorganização da esquerda socialista no Brasil, através do Movimento pela Frente Socialista Revolucionária, que chamamos todas as organizações, militantes e figuras públicas da esquerda com essa perspectiva.