Lula segue à frente na última pesquisa do DataFolha, mas o resultado eleitoral de outubro está longe de estar definido. Bolsonaro, a depender da evolução da conjuntura, pode ir ao segundo turno e a outro cenário mais perigoso depois de 2 de outubro.
ANTONIO SOLER
Dentro de uma margem de erro considerada em 2% para mais ou para menos, enquanto Lula (PT) se mantém estável com 47% das intenções de voto, Bolsonaro (PL) tem uma ligeira melhora e passa de 29% para 32%. Segue Ciro Gomes (PDT) 7%, Simone Tebet (MDB) 2% e Vera Lúcia (PSTU) 1%.
No retrato da pesquisa em termos de votos válidos, Lula aparece com 51% ante 35% de Bolsonaro, ou seja, a um ponto de se eleger no primeiro turno, mas é preciso considerar a margem de erro, ou seja, Lula pode estar com 53% ou com 49%.
Bolsonaro obteve aumento de apenas 3 pontos percentuais em relação ao mês passado, mas conta com uma redução percentual de 21 para 15 para o primeiro colocado nas pesquisas – Lula – desde março deste ano. Porém, em relação ao quesito rejeição, fator decisivo que impede qualquer possibilidade eleitoral, está com 51% e Lula com 37%.
Olhando a pesquisa mais de perto, vemos que no segmento de até 2 salários mínimos, que significa 51% da amostra, Lula tem 55% enquanto Bolsonaro 23%. Na faixa salarial seguinte, a de dois a cinco salários mínimos, Bolsonaro tem 41% e Lula 38%. Em relação ao evangélicos, 25% do eleitorado, Bolsonaro aumentou em 7 pontos sua vantagem e tem 49% contra 32% de Lula que caiu um ponto.
Em que pese a relativa estabilidade dos números, pois 75% dos entrevistados afirma que tem certeza do voto, e Bolsonaro ter que conseguir votos entre os mais pobres, público em que a popularidade de Lula é robusta, Bolsonaro mostra força em setores importantes do eleitorado, como nos evangélicos e na classe média. Dinamismo que pode levá-lo ao segundo turno e colocar um cenário eleitoral totalmente distinto a partir daí.
Um cenário ainda indefinido
É preciso considerar que a campanha recém começou, os beneficiários do Auxilio Brasil apenas receberam uma parcela da bolsa, o cenário econômico – inflação e desemprego – indica ligeira melhora – e Bolsonaro tem força nas redes e uma militância aguerrida entre os evangélicos, calcula-se que pastores que apoiam Bolsonaro tem 35 milhões de seguidores nas redes sociais.
Em resumo, temos uma situação de vantagem para Lula, mas ainda indefinida. O que demonstra que nada está resolvido do ponto de vista da necessidade de derrotar Bolsonaro – que taticamente deu um passo atrás depois das várias manifestações de desagravo através de manifestos de amplos setores da sociedade civil que teve peso negativo sobre a sua dinâmica eleitoral – nas ruas.
Não resta dúvida alguma de que o golpismo de extrema direita está no DNA do bolsonarismo (é uma estratégia inegociável para fechar o regime) e que assim que for necessário – se não conseguir os votos para ir ao segundo turno – Bolsonaro e seu movimento colocarão abertamente em questão a confiabilidade das urnas eletrônicas, mais uma vez.
Uma ligeira oscilação de Lula para baixo – o que é perfeitamente ponderável – permitiria que Bolsonaro vá ao segundo turno das eleições, o que abriria um cenário político-eleitoral totalmente distinto do atual. Uma vez que ainda há divisão na classe dominante, força de Bolsonaro entre as forças armadas e repressivas, na classe média e entre setores amplos da sociedade, um segundo turno com Bolsonaro significará um terrível embate.
A questão que se coloca não é apenas como derrotar Bolsonaro nas eleições, como faz a esquerda da ordem organizada dentro do PT, do PSOL e de outras organizações políticas, mas sim como derrotá-lo também nas ruas e mudar a correlação de forças para que possamos lutar efetivamente contra a fome, o desemprego, a violência…
Construir uma linha que mobilize
A derrota de Bolsonaro nas urnas, sem que haja um processo de mobilização independente, através de uma frente eleitoral de conciliação de classes, como a de Lula-Alckmin, não pode mudar a correlação de forças com a classe dominante para que possamos solucionar nossos problemas, como afirma mentirosamente Lula, PT, PSOL e cia. Isso, na verdade, depende de um intenso processo de mobilização dos explorados e oprimidos que arranque conquistas de qualquer governo burguês, de conciliação de classes ou não.
Aqui entra a discussão com qual linha política vamos encarar a situação. Vamos encará-la como correntes que capitularam ao lulismo, como faz o PSOL e suas correntes internas majoritárias (Primavera Socialista, Revolução Solidária, MES e Resistência) que de forma injustificável ingressaram na chapa burguesa Lula-Alckmin, ou como faz o PSTU, que tem a vantagem de não ter passado o rubicão – a linha de independência de classes -, mas que ao não ter uma política ativa não dialoga com setores mais amplos e não impactam a realidade, apesar de aparecer nas pesquisas eleitorais nacionais e em alguns Estados.
Em primeiro lugar, é fundamental esclarecer que ingressar na chapa Lula-Alckmin não é algo trivial (mera posição tática), configura-se como uma traição política sem igual. É uma traição imediata porque elimina de uma importante força política nacional – o PSOL – o programa para enfrentar a profunda crise e suas táticas (unidade de ação, frente de esquerda, exigências…). Fato que acaba fazendo com que a esquerda deixe de contribuir com a principal tarefa que é mobilizar para derrotar Bolsonaro, lutar contra a fome, contra o desemprego, contra a violência e etc. Do ponto de vista mediato, essa linha elimina a possibilidade deste partido construir uma alternativa partidária à esquerda do lulismo para a classe trabalhadora, o que coloca a necessidade de reconstruir com as forças que se mantêm independentes outro partido socialista revolucionário.
Em relação à outra política com a qual queremos demarcar posição, a do PSTU, apesar de se manter na independência de classe, ao colocar como alternativa à chapa Lula-Alckmin e ao campismo do PT e do PSOL apenas o voto em Vera e em um governo dos trabalhadores em abstrato e por fora da atual correlação de forças, acaba assumindo um viés sectário e maximalista. Isso porque a realidade exige fundamentalmente construir o destravamento da mobilização das massas para construir uma saída política independente e anticapitalista para a crise como estratégia. Para isso, são necessárias táticas adequadas, como a luta imediata pela unidade de ação nas ruas.
Precisamos, em primeiro lugar, que as massas se coloquem em movimento e para isso é necessária a mais ampla unidade de ação nas ruas: uma campanha de exigência para que as direções de movimento de massas, inclusive Lula, chamem à luta para derrotar Bolsonaro nas ruas com um programa para atender às necessidades mais imediatas dos trabalhadores. Outra tática que está ausente da linha dos companheiros, apesar de terem lançado o Polo Socialista Revolucionário, é a de juntar a esquerda socialsta em uma frente política com o objetivo de impactar com mais força a vanguarda, apresentar um programa mínimo comum e exigências a partir da base.
Enquanto de um lado temos uma linha liquidacionista dos princípios, das estratégias e das táticas revolucionárias, de outro temos uma linha que não atua com táticas que permitam desenvolver as estratégias que deveriam estar de acordo com nossos princípios.
Desse modo, insistimos com os companheiros do PSTU que enquanto chamamos o voto na companheira Vera e em toda a chapa majoritária do Polo, é muito importante nessa conjuntura impulsionar táticas de exigência e unidade de ação para construir um 7 de setembro com todos os setores que queiram realizar um ato para derrotar Bolsonaro, o bolsonarismo e abrir caminho para construir uma saída independente.
Também precisamos apostar em uma frente de esquerda socialista que não tenha como centro as candidaturas – não importa em qual candidato da esquerda independente irão votar nesse momento -, mas sim, a construção de um programa, táticas e organização comum que nos permitam lutar com mais força na base para derrotar Bolsonaro e para construir uma alternativa de esquerda à conciliação lulista que acaba de devorar politicamente o PSOL e pode engolir mais setores para, através da eleição de Lula-Alckmin, normalizar o cenário político de maneira conservadora, ou seja, liberal-social.