Um forte golpe contra Macri

Declaração do Nuevo MAS

12 agosto de 2019

Após vergonhosas cinco horas de espera depois do encerramento da votação, as 23 horas, a maior parte dos resultados finalmente apareceu: a chapa dos Fernandez[NT1] obteve 47% dos votos contra 32% de Macri: uma verdadeira cacetada no oficialismo.

A primeira coisa a se sublinhar é que este resultado demonstra o que, no final, era esperado, ainda que em maior escala: uma enorme punição aos 4 anos de gestão e ao ajuste macrista, um governo repudiado por vastos setores da população trabalhadora.

A segunda coisa a se notar é que a enorme votação obtida pela Frente de Todos significou, por si só, um elemento de enorme polarização, que somada à baixa votação oficial, levando 79% dos votos, deixando as outras chapas com baixas votações.

Uma forte polarização que se explica pelo uso, para punir o governo, da ferramenta que foi considerada mais à mão, mais “útil”: o Kirchnerismo ou o pós-Kirchnerismo.

Apesar da suposta “recuperação” do governo nos últimos meses e da fictícia “estabilização” da economia; apesar de, também, as centrais sindicais terem abrandado as lutas e reivindicações, o repúdio ao governo se expressou de forma esmagadora na votação da chapa dos Fernandez.

Desnecessário dizer que a votação em Fernandez não é um cheque em branco: é uma votação carregada de expectativas em torno daquilo que um governo de Alberto Fernandez dificilmente pode garantir.

As dificuldades econômicas e sociais que o país atravessa, juntamente com o contexto econômico internacional adverso, tornam muito difícil, se não impossível, adotar qualquer medida considerada progressiva no âmbito do acordo com o FMI e do pagamento da dívida externa.

Assim, e sem perder de vista o papel disciplinador do conflito social que certamente cumprirá a burocracia sindical, pode-se antecipar que, mais cedo ou mais tarde, haverá um choque de expectativas em relação ao novo governo.

Ainda mais: já podemos antecipar que amanhã será um dia difícil nos mercados[NT2}, que o Kirchnerismo terá que sair e jogar água no fogo de uma crise que certamente irá recomeçar agora.

Dentro deste panorama, e para além da votação “centrista” de Lavagna, o voto para a extrema direita e esquerda foi distribuído, de certa forma, pela metade. Se Gómez Centurión (claramente apoiado pela Igreja Evangélica e os celestes[NT3]) e Espert conseguiram algo em torno de 4% dos votos, a esquerda somados FITU e  nosso partido, conseguimos um pouco menos; uma eleição geral da esquerda dificultada pelo voto útil em Fernández (um voto conservador e possibilista nesse sentido).

Neste contexto, e para além de que estamos definitivamente longe de quebrar o piso proscritivo, os quase 180.000 votos obtidos por nós, algo em torno de 0.7%, significam ter quase dobrado os votos de 4 anos atrás, isto num contexto de polarização muito forte e competindo com uma frente de 4 partidos[NT4] que tocou os 730.000 votos, uma proporção de 4 para 1 entre as duas forças.

De resto, queremos destacar as conquistas construtivas de nosso partido: os eixos políticos de nossa campanha, o amadurecimento da figura de Manuela Castañeira como uma figura nacional à esquerda, o amadurecimento de nosso partido como tal, o progresso em nossa extensão e abertura de sedes, etc., o que nos permite adiantar um balanço muito positivo para além de que, obviamente, teríamos gostado de superar o piso proscrito.

A partir de agora temos que nos preparar para um contexto que certamente é instável. Uma crise nos mercados avançara nos próximos dias e, acima de tudo, um contexto complexo para o próximo governo, dada a deterioração da situação econômica e da política internacional.

Nestas condições, com os enormes ganhos políticos e construtivos alcançados pelo nosso partido nesta campanha eleitoral, preparar-nos-emos para as grandes lutas que seguramente virão em prol das reivindicações dos trabalhadores, mulheres e jovens; levantando um programa anticapitalista.

Comitê Executivo do “Nuevo MAS”, 23.30 hs., 11 de agosto del 2019.


[    NT1]            Chapa formada por Alberto Fernandez e Cristina Fernandez Kirchner, com o nome de Frente de Todos

[    NT2}            Na abertura dos mercados, as ações argentinas na bolsa de Nova York caiam 60% e o dolar na Argentina subia 33% chegando no valor de 60 pesos, elevando o risco país em 5% chegando aos 940 pontos.

[    NT3]            Grupo conservador contra o aborto que porta lenços azuis, em oposição aà “Marea Verde”, movimento feminista do qual faz parte Las Rojas e que porta lenços verdes.

[    NT4]            Frente formada pelo PTS, PO e Izquierda Socialista que nestas eleições uniu-se com o MST (Movimento Socialista de los Trabajadores), cuja votação agora foi menor que em 2015