Triunfo eleitoral do PSOE, colapso do PP e fragmentação parlamentar
SOCIALISMO OU BARBÁRIE ESTADO ESPANHOL
Publicado originalmente em 29/04/2019
Com participação de mais de 75% dos eleitores, o PSOE de Pedro Sánchez ganhou as eleições de 28/04 conseguindo 123 cadeiras (28,7%), um significativo triunfo que somou 38 cadeiras às 85 que tinha. O segundo lugar, com distância do primeiro, foi para o PP que ficou com apenas 66 cadeiras (16,68%) em uma terrível queda em relação às 135 que obteve em 2016. Em terceiro lugar ficou Cidadãos – que tirou o posto de Unidas Podemos – com 57 cadeiras (15,84%). Perdendo posição e cadeiras, em quarto lugar ficou Unidas Podemos com 42 cadeiras (14,31%). Em quinto lugar e como novidade surge Vox no Congresso com 24 cadeiras (10,26%).
No entanto, os partidos regionais de alcance nacional, nacionalistas (Bascos cântabros, canários) e independentistas catalães fizeram um boa eleição com destaque para o caso catalão a vitória dos soberanistas republicanos do ERC ( Esquerda revolucionária da Catalunha, o partido de Oriol Junquera que se encontra preso e processado e que com 3 companheiros também presos foram eleitos deputados) que obtiveram 15 cadeiras em uma importante ascensão que o coloca como vencedor na Catalunha seguidos muito de perto em segundo lugar pelos socialistas do PSC e por Junts per Catalunya em terceiro lugar com uma queda de 7 cadeiras. No caso basco o PNV (Partido Nacionalista Basco) aumenta em 6 suas cadeiras e EH-Bildu duplica suas cadeiras chegando a 4.
Com estes resultados saltam aos olhos várias questões que consideramos relevantes para avaliação de eleições e do novo cenário político eleitoral que se abre partindo do inobjetável fato que o mapa do país mudou de cor, passando de azul popular ao vermelho dos socialistas do PSOE.
Uma primeira observação é que efetivamente nestas eleições a direita foi contida. As cadeiras das três forças de direita, PP, CS e VOX somam 147 ficando muito abaixo da maioria absoluta situada em 176 cadeiras. O bloco de direita não alcança os números para conformar governo uma vez que esta dividido e debilitado emocional e politicamente. Da mesma forma, ainda que não seja pouca coisa a entrada da ultradireita Vox no parlamento, o certo é que não será decisiva, não terá peso na hora da formação do novo governo. De conjunto para o bloco de direita não funcionou a tática de “Expulsar Sánchez de la Moncloa”.
A estrepitosa queda do PP mostra isso, o regenerado PP de Casado viveu a pior eleição de sua história, não apenas porque sofreu uma sangria dos postos no parlamento mas também porque perdeu importantes bastiões, como Galícia e Madri, depois de décadas de governo popular, desapareceu diretamente do País Basco onde não obteve nenhuma cadeira e esta a beira da extinção na Catalunha onde conta apenas com duas podres cadeiras. Parece que a estratégia de direitização de Casado não funcionou e dentro de Casado não funcionou e dentro do microclima da direita o PP perde espaço para Vox que soube se manter em sua linha e perde por ao centro para Ciudadanos, que soube se diferenciar de Vox e agora disputa com ele a liderança tanto do bloco como da oposição parlamentar a Sánchez.
Do lado do bloco da esquerda a soma da UP e dos grupos não independentistas não ameaça Sánchez e fica à beira dos 176 da maioria absoluta, necessária para a primeira votação de posse, porém não para a maioria simples necessária para a segunda votação de posse. Nesse sentido, tanto o PNV como Bildu já adiantaram seu apoio a Sánchez. E ainda assim, se Sánchez quer uma maioria folgada deverá conta com o apoio dos independentistas catalães, dos quais no momento ERC não negou seu apoio ao PSOE e sua vontade de diálogo.
Muito revelador foi o que aconteceu à noite quando Sánchez saiu na sacada de Ferraz depois do fim da contagem dos votos e a militância socialista lhe deixou claro que não lhe agrada nada um acordo com Ciudadanos através da palavra de ordem “Com Rivera não” e tão irônico com insólito que na própria sede do PSOE também se cantasse “Sim, se pode”, o slogan do Podemos, um claro, chamado para que Sánchez assumisse a conformação de um bloco e governo de “esquerda”.
Da parte do Podemos a avaliação de Iglesias foi clara, “queríamos um resultado melhor, porém é suficiente para construir um governo de coalizão de esquerda”. Evidentemente Podemos sai um pouco golpeado em relação a perda de cadeiras e da terceira posição no ranking dos mais votados, superado pelo Ciudadanos, porém pressionado e correndo “moderadamente” e tibiamente à esquerda do PSOE.
Irónico, insólito, porém também representativo da instabilidade e crise política e institucional desdobra o fato de que os presos catalães e o julgamento por sedição, como o de Oriol Junqueras, entre outros, tenham sido eleitos deputados e terão que se sentar no parlamento diante dos deputados do Vox entre os quais se encontra o advogado da parte acusadora no julgamento do processo, como disse Rufian (porta-voz do ERC), “bom momento para os companheiros presos do ERC, porque ganharam dos seus carcereiros”.
O que representa a vitória de Sánchez
A pesar de ser indiscutível a vitória de Sánchez, é necessário levar em conta o seguinte:
A participação no processo eleitoral foi enorme, e ainda que muitos certamente votaram com os olhos tapados, ou no mal menor, o certo é que se votou contra a direita e, evidentemente, esse voto anti-direita, anti-Vox, anti-bloco facho foi mobilizado, destacando-se o voto jovem e das mulheres. Como também se mobilizou o voto da “Espanha profunda”, onde parece que nem tudo são “touros e caça” e onde ganhou o PSOE e essa motivação se expressou eleitoralmente no voto no PSOE, que simboliza e capitaliza esse sentimento de recha à direita e seu avanço.
Por isso essas eleições mais do que confiança cega ou um cheque em branco ao PSOE denotam uma reação e mobilização do voto ao PSOE como uma expressão eleitoral, distorcida, de rechaço à direita, um reflexo mais do antifascismo do que de “voto útil”. Mescla do velho antifascismo das gerações mais velhas que o viveram e sofreram e novo antifascismo dos trabalhadores, das mulheres e da juventude que não querem ver seu futuro e seus direitos pisoteados e lutam.
Agora terá que esperar até 26 de maio para os possíveis, porém descartada pelo momento, mais do lado de Rivera do que de Sánchez, a possibilidade do pacto com Ciudadanos. Teremos que ver se Sánchez se inclina pela variante do governo solitário, como se tinha rumor em Ferraz, se opta pela variante de posse sem necessidade de apelar ao voto independentista catalão ou se finalmente buscará seu apoio.
O PSOE a tem fácil para resolver o quebra-cabeças e formar governo, o que não é o mesmo que governar já que teria que fazê-lo com um Congresso de Deputados fragmentado e convulsionado, em uma constatação mais do fim do bipartidarismo e das maiorias absolutas no estado espanhol.