Apoiar a mobilização das mulheres para esmagar o neofascismo nas ruas
RENATO ASSAD
Chegamos ao período decisivo na polarização política e eleitoral entre o reformismo sem reformas e o neofascismo. Derrotar Bolsonaro nas ruas é a tarefa mais decisiva hoje. Deve-se tomar atenção que nenhuma vitória eleitoral contra Bolsonaro – de nenhum campo – será suficiente para garantir direitos econômicos e políticos para a classe trabalhadora, mulheres, juventude e todos os oprimidos.
Ao mesmo tempo em que enfrentamos a ameaça fascista nas urnas e nas ruas, este é um momento para darmos um passo na construção de uma alternativa de superação ao lulismo pela esquerda. Essa é uma tarefa fundamental para que as lutas do presente e do futuro possam se desenvolver não apenas para garantir direitos ameaçados, mas também colocar em prática um movimento de superação do capitalismo – a fonte dos crescentes males e ataques da atualidade.
Nesse sentido, a postagem de Valério Arcary no facebook, que é um importante dirigente do PSOL e da Resistência (tendência interna de nosso partido), causa preocupação:
“A direção do PT fez uma aposta em uma estratégia eleitoral de alto risco ao manter a candidatura Lula até o limite máximo, para deixar bem claro que ele é um preso político. Esse cálculo estava certo. Era possível fazer a transferência dos votos para Haddad, mesmo com pouquíssimo tempo. Sempre apostando na amargura gerada pelo desemprego e pobreza dos últimos dois anos com Temer, em contraste com a nostalgia da vida durante os anos do governo Lula. Mas esta estratégia foi, eleitoralmente, correta somente para levar Haddad para o segundo turno. Derrotar Bolsonaro exige uma nova tática. Alertamos, há várias semanas, que o centro da tática tinha que girar para a denúncia do perigo do fascista.
O papel do Psol foi, portanto, muito importante. Demonstrou-se na prática porque a esquerda radical é útil.”
A tática eleitoral do PT no último período – que para Arcary é acertada – é a do esvaziamento da mobilização das massas, pois aposta mais uma vez na total capitulação aos ataques das instituições burguesas, desmobiliza o movimento de massas e refaz alianças com a corrupta e patronal elite política nacional visando a governabilidade. Nada de novo por parte da burocracia petista.
Tal posição de Arcary é preocupante porque nos parece uma grave capitulação à separação feita pelo lulismo entre eleição e luta nas ruas (típica da socialdemocracia) muito perigosa em um momento em que Bolsonaro se mantém em primeiro lugar nas pesquisas, com cerca de 30% dos votos.
Essa tática petista, de separar a luta eleitoral das ruas, sufocou a rebelião de junho de 2013, criou as condições para o impeachment de Dilma, desmobilizou a luta contra os ataques de Temer no ano passado, não fez a luta consequente contra o bonapartismo e agora não contribuí para derrotar Bolsonaro nas ruas, por isso o elogio a tática petista é um absurdo e perigoso.
Desconsiderar, como faz Arcary, que o único fenômeno capaz de mudar a correlação de forças – eleitoral e política – na atual conjuntura nacional é a capacidade de mobilização dos trabalhadores, das mulheres e da juventude é um erro grave.
Acreditamos que a luta contra o neofascismo exige de forma crucial a unidade de ação com a burocracia lulista e com todos os setores que defendem os direitos democráticos, mas não se deve, em hipótese alguma, perder a diferenciação política com esse setor, pois essa posição não serve para mobilizar e muito menos para construir superação estratégica ao lulismo.
Afirmar que a esquerda opositora ao petismo, o PSOL, “demonstrou-se na prática porque a esquerda radical é útil”, como faz Arcary em sua publicação, é declarar um esvaziamento estratégico total, é não apostar na superação do lulismo e em uma oposição ferrenha ao reformismo sem reformas.
Limitar a luta contra o neofascismo à unidade de ação com o lulismo coloca um patamar de capitulação grave que pode liquidar o caráter revolucionário de qualquer corrente política, pois não serve para impulsionar a luta, a organização independente e nem uma alternativa socialista revolucionária de massas. Ou seja, trata-se de uma falência política estratégica tal posição.
É preciso denunciar a corresponsabilidade do PT com o atual cenário nacional e que nos seus 13 anos de institucionalização da política deixaram de lado qualquer luta pelos direitos dos trabalhadores e exigir cotidianamente que mobilizem contra os ataques à classe trabalhadora, sejam eles econômicos ou políticos. Mas, a diferenciação fundamental hoje – tática e estratégica – é exigir que o PT, a CUT e a campanha de Haddad convoquem as lutas nas ruas para derrotar Bolsonaro.
Outro grande problema da narrativa de Arcary é de que numa eventual eleição de Haddad à presidência, a crise política, de alternativa e de direção é afirmar que irá, de certo modo, saciar-se. Já está claro que o PT não apostará na luta imediata e muito menos comprometida com a emancipação da classe trabalhadora, mas isso não significa diretamente mais um período de contenção da luta de massas.
Haddad eleito atacará os trabalhadores para manter a “governabilidade” calcada nas instituições burguesas autoritárias e em uma nova tentativa de pacto com a classe dominante, o que realimentará o descontentamento de amplas massas. Por outro lado, temos de considerar que a não vitória de Bolsonaro será de fato uma vitória parcial, mas de maneira alguma significa o afastamento do perigo neofascista que só poderá ser destruído com uma encarniçada luta de classes.
Por isso, agora é decisivo romper com o derrotismo, que nega a capacidade do movimento de massas de derrotar a ameaça neofascista, mobilizar e exigir com todas as forças que o PT, a CUT e Haddad mobilizem contra o neofascismo!
Hoje, apostar na construção do 2º ato das mulheres contra Bolsonaro é fundamental!