A greve iniciada pelos estudantes ganha fôlego com a entrada dos professores e dos funcionários técnico-administrativos
Antes dos professores e funcionários das universidades federais entrarem em greve estudantes em alguns campi, como o de Guarulhos da UNIFESP, já estavam em greve desde março. A greve estudantil vem se configurando com um processo de radicalização da luta, já realizou duas ocupações da reitoria, várias assembleias e outras formas de manifestação.
A greve realizada por estudantes, professores e funcionários ocorre por plano de carreira, e o cumprimento de acordos firmados entre os docentes e servidores e o governo federal destinados à educação no mínimo 10% do PIB transparência da gestão fim das privatizações e terceirizações de serviços, fim do sucateamento dasuniversidades e dos hospitais universitários. No caso do campus pimenta da universidade federal de Guarulhos, onde a situação é deplorável: falta de salas de aula, meios de transporte, condições sanitárias no restaurante universitário e até espaço na “bibliotecas” para acomodar livros.
Essa situação se deve a política do governo federal para a educação pública. Atualmente, o Brasil investe menos de 5% do PIB em educação e parte significativa disso acaba indo para o ensino pago. No caso da educação superior o governo acabou priorizando um programa de bolsas para alunos pagas pelo governo em instituições privadas de ensino superior. Nas universidades públicas federais a expansão dos campi é desenvolvida pelo programa de Reestruturação das Universidades Federais (REUNI), caracterizado desde a sua concepção pela precarização em todos os níveis. O resultado é a redução da relação de professores por alunos, falta de infraestrutura básica, redução salarial e falta de políticas de carreira.
Nesse processo de mobilização está participando a quase totalidade (das 57 Universidades Federais, 54 estão em greve) das instituições de ensino público federal superior. Os professores foram atendidos pelo governo que não se comprometeu com nenhuma das reivindicações dos professores. Com a entrada dos funcionários a greve se fortalece e cria obviamente condições muito melhores para que o governo atenda as reivindicações dos setores em luta. Não podemos desconsiderar que “os professores (as) das Universidades Federais estão deixando o Governo Federal em uma situação difícil, principalmente se for considerado que este é um ano eleitoral e isto pode abalar a credibilidade da máquina de propaganda e marketing dos atuais donos do poder.” (Greve nas Universidades Federais 15/0612, www.cspconlutas.org.br).
Esse elemento superestrutural da análise não pode se desprezar, mas a condição necessária para que essa mobilização possa impor ao governo o principal da pauta é construir um processo de mobilização que unifique nacionalmente os três setores para que as reivindicações comuns ganhem força – além das reivindicações das categorias não faltam problemas comuns nas universidades, principalmente devido a política de precarização aplicada nos campus de expansão desde o governo Lula com continuidade no governo Dilma. Não são apenas as condições que são afetadas pela política de expansão universitária do governo, essa política afeta também os dos trabalhadores das universidades federais através da precarização do salário, da carreira e das condições de trabalho. Os trabalhadores entraram em greve pela elevação do piso salarial e por uma carreira com mais possibilidades de evolução.
Parte da luta é a elevação do percentual do PIB para a educação pública em 10%. Na verdade esse índice é parte de uma campanha nacional que envolve outros setores. Atualmente, o destinado a educação não chega a 5% do PIB. A questão da destinação orçamentária é fundamental, mas a luta em torna da educação tem que ser composta de reivindicações que passem pela questão orçamentária e vá até projeto de universidade pública. Mesmo a reivindicação de aumento de 10% do PIB que até os setores governista do movimento estavam levantando pode agora ganhar mais concretude. Para isso, construir uma campanha política nacional puxada efetivamente pela greve das universidades federais e pelas greves, como é o caso dos professores da Bahia em mais de 70 dias em greve, e da mobilização de docentes em outros estados é a única forma efetiva de fazer romper com a resistência do governo que dedica a maior parte do orçamento federal para os patrões.
CONTRA AS PRISÕES POLÍTICAS DOS ESTUDANTES DA UNIFESP A MANDO DE DILMA E ALCKMIN
A polícia a serviço da classe dominante e do governo Dilma prendeu na noite do dia 14 de junho 26 estudantes da Unifesp-Guarulhos. Depois de uma assembleia no interior do campus parte dos estudantes foram realizar um protesto político contra a posição de professores e funcionários que estavam furando a greve. Os estudantes foram enviados para a Superintendência da Polícia Federal e só liberados na noite do dia seguinte. A ação policial foi gravada por um dos manifestantes e não permitem dúvida sobre o que ocorreu de fato. “Em nota, a PM afirmou que foi recebida com pedras e pedaços de madeira. Disse que para garantir a segurança dos professores foi necessário o uso de granadas de efeito moral e de balas de borracha” (Folha de São Paulo, 16 de junho de 2012). Ao contrário do que cinicamente se lê ou ouve na grande mídia, que tenta justificar a ação policial por uma suposta violência dos estudantes contra funcionários os ou policiais, no vídeo amplamente difundido pelos meios de comunicação de massas se vê claramente que enquanto os estudantes cantavam palavras de ordem contrárias a presença policial no campus, um policial sequestra uma estudante e a leva presa, a partir daí outros polícias passam a atirar nos demais manifestantes, resultando em dezenas de estudantes feridos sendo que dois ficaram em estado grave Também não temos acordo com a avaliação de que ação policial tenha sido resultado da ação de “alguns grupos de ultraesquerda, porém, tentaram transformar o protesto em uma nova tentativa de ocupação da diretoria. O diretor do campus, Marcos Cezar, chamou a polícia, que já chegou de forma truculenta ao local. A PM, como mostra claramente um vídeo gravado por um estudante, reagiu com brutal violência.” (Polícia reprime manifestação na Unifesp-Guarulhos e prende 25 estudantes,15 de junho, http://www.pstu.org.br/juventude).
Não se trata assim de uma “reação” como afirma a nota da juventude do PSTU. Não que a ação dos grupos de ultraesquerda não sejam muitas vezes contraproducentes ou facilitem a repressão policial, mas esse não foi o caso. Não é verdade, a polícia não “reagiu” a ação dos estudantes, o se vê com clareza no vídeo foi justamente o contrário, a polícia agiu no sentido de prender e provocar os estudantes para levá-los presos. Assistimos aos estudantes se manifestando e um agente policial simplesmente sequestrar uma estudante em meio a uma manifestação.
Esse episódio é responsabilidade direita de Dilma Rousseff e Alckmin. A repressão movida pelo governo federal e pelo governo do Estado de São Paulo objetiva aterrorizar os trabalhadores e a juventude para que não aproveitem esse momento de aumento das lutas e unifiquem suas demandas em mobilizações coordenadas por todo pais. A ação da PM demonstra claramente como tem se colocado a ação das forças repressivas diante dos interesses dos patrões e do estado burguês, ou seja, há um claro endurecimento do regime,uma situação política reacionária onde a luta dos trabalhadores e dos estudantes é tratada com extrema dureza com o objetivo mais de fundo de desmoralizar os movimentos sociais.
Devemos dar uma resposta política contundente a esse brutal ataque. E necessário que o ANDES-SN, a CSP-CONLUTAS, o movimento estudantil combativo realizem uma ampla mobilização contra a criminalização da luta e pelo atendimento imediato das reivindicações dos estudantes, funcionários e professores das universidades federais.