Superar a defensiva nas ruas e organizar no 10 de setembro atos anti golpistas em unidade de ação
ANTONIO SOLER
O 7 de setembro se configurou como uma importante demonstração de força bolsonarista. Movimento que se não pode dar um golpe clássico hoje, no segundo turno vai tentar impor o terror nas ruas para decidir as eleições pela força. Nesse sentido, é fundamental romper com a passividade imposta pela burocracia lulista e seus apoiadores e ir às ruas para dar uma resposta imediata aos atos golpistas e passarmos à ofensiva anti golpista de massas.
ANTONIO SOLER
Em mais uma manobra de cunho bonapartista (autoritário), Bolsonaro sequestrou politicamente a comemoração do bicentenário do 7 de setembro – a data que se comemora a pseudo independência do Brasil como país soberano. A tradição do desfile do 7 de setembro como parte da cultura militarista, que se fortaleceu durante as 3 décadas de ditadura militar e sua construção ideológica, em que as famílias iam com as bandeirinhas do Brasil acompanhar o desfile das forças, foi transformado em um evento abertamente de campanha para reeleição e estratégia golpista em Brasília, no Rio de Janeiro e em outras cidades pelo país com São Paulo.
Obviamente que essa usurpação não é nada republicana. Mesmo para os grandes limites da república burguesa, uma forma política que representa os interesses da classe dominante, essa usurpação política e financeira da maior data “cívica” do país é uma acinte. Não é a toa que o evento não contou com a presença de nenhum dos chefes dos demais poderes, certamente que, também, para o Presidente do Senado e para o Presidente da Câmara, em uma conjuntura eleitoral que Lula pode sair vencedor e que um ato como esse pode tirar votos e não se sabe quem será vitorioso de 2 de outubro, convém manter certa distância.
Os milhões gastos na preparação dos palcos para os desfiles oficiais foram apropriados diretamente pela campanha de Bolsonaro que se dedicou a destilar misoginia, fundamentalismo religioso, anticomunismo e ameaças golpistas… na verdade, anti tudo o que é alguma forma de progressismo, transformação social, modernização das relações.
Após o desfile em Brasília, Bolsonaro além da fala misógina, ao comparar a primeira dama às demais e que todo homem tem que procurar uma princesa para casar se quer ser feliz, faz mais uma ameaça golpista ao citar uma série de eventos golpistas da história do Brasil: ao colocar o Golpe de 64, o impeachment de Dilma e sua reeleição na mesma frase, disse que “a história pode se repetir”. Ou seja, todas estas são datas marcadas por um golpe tradicional e pela nova forma de golpe político que ocorre por dentro do regime, pois tanto o impeachment de 2016 quanto a eleição de 2018 foram profundamente marcados por manobras golpistas.
Em Copacabana (Rio de janeiro) à tarde, disse que se trata de uma disputa do bem contra o mal, chama Lula de quadrilheiro, afirma – como em Brasília – que os Ministros do STF serão colocados nas quatro linhas da Constituição e que a esquerda tem que ser extirpada da vida pública.
Além dos atos massivos em Brasília e no Rio de Janeiro, as manifestações Bolsonaristas na Paulista (São Paulo) e em outras cidades também impressionam pela quantidade de pessoas e pela defesa de pautas reacionárias e por vezes diretamente golpistas. Em que pese toda a estrutura oficial utilizada e o financiamento empresarial dos atos, de forma geral, as manifestações desse 7 de setembro proporcionaram ao bolsonarismo, além de fotos e vídeos para a campanha, a manutenção de um ativismo e da iniciativa política de rua, o que será decisivo para um eventual segundo turno.
Segundo turno e estratégia do medo
Em relação ao 7 de setembro do ano passado, em que Bolsonaro atacou diretamente o STF ao dizer que não cumpriria decisões da Corte, em um ensaio aberto de golpe, o evento deste ano tomou o cuidado de não ser tão explícito por motivação eleitoral – a avaliação da coordenação da campanha de Bolsonaro e os dados das pesquisas indicam, também, que ataques diretamente golpistas aumentam a rejeição de Bolsonaro que precisa cair alguns pontos para que possa se reeleger. No entanto, em seus discursos, Bolsonaro reconhece que foi alçado ao poder pelo golpismo – além de atentar cotidianamente contra os direitos democráticos desde que foi eleito -, anuncia para os seus eleitores e para a nação toda a sua estratégia de se manter no poder ganhando ou perdendo as eleições se mantém e vai procurar os meios para efetivá-la.
Em que pese que não tem no quadro atual apoio suficiente para uma tentativa golpista direta, pois o imperialismo, a maior parte da classe dominante, do comando das forças armadas e da população estaria contra qualquer tentativa nesse sentido, o bolsonarismo é um perigo político-eleitoral real que merece toda a atenção e efetiva resposta política e prática. Isso porque, além da ligeira melhora econômica e dos auxílios eleitoreiros, que ainda podem ter efeito eleitoral, o bolsonarismo é um movimento político que consegue ocupar massivamente as ruas, conta com o apoio de setores da classe dominante e das forças repressivas – e das milícias.
Podendo, assim, em um eventual segundo turno, acionar de forma ainda mais ativa esses elementos neofascista e de violência política – tivemos ontem no interior do Mato Grosso mais um assassianto político cometido por um bolsonarista contra um apoiador de Lula – para instalar o terror nas ruas. Isso poderia trazer, em um cenário de medo, uma mudança substancial para o pleito eleitoral, pois teríamos um processo eleitoral em que eleitores de Lula ou dos demais candidatos não fossem às urnas pelo medo. Aliás, essa parece ser a estratégia de Bolsonaro no segundo turno para a qual a esquerda e a classe trabalhadora não estão preparadas devido à passividade que o lulismo – à esquerda da ordem ampliada com a traição histórica do PSOL ao entrar na chapa Lula-Alckmin – impõe ao movimento de massas.
Como já apontamos em várias notas anteriores e nesta, também, a presença de Bolsonaro no segundo turno das eleições é um perigo para os direitos democráticos, pois a estratégia de impor o medo será acionada com toda a força e para isso ele tem apoio de massas, de parte do grande capital e das forças repressivas. Por essa razão, pela necessidade de enfrentar essa força material de extrema-direita – uma força extraparlamentar que atua por dentro e por fora da institucionalidade – com a força material da mobilização das massas nas ruas, é que a estratégia do PT e dos seus aliados da direita e da esquerda da ordem, de resolver o pleito pela institucionalidade e sem se apoiar centralmente na luta direta, tem que ser caracterizada como tal: uma traição histórica.
Sem levar a luta para as ruas, tudo é mera ilusão
É preciso reverter essa situação. Ao contrário do que faz o PSOL e as correntes que estão em seu interior que, ao entrarem na frente eleitoral com a burguesia – Lula-alckmin, liquidaram toda a independência política de classe, parte importante da esquerda socialista independente mantém em pé o programa dos trabalhadores e dos oprimidos e as táticas de unidade de ação, de frente de esquerda e de denúncia e exigência na base para impulsionar a luta direta contra o neofascismo.
A esquerda socialista precisa, além de defender um programa anticapitalista para a situação e apontar para os perigos do golpismo bolsonarista, como tem feito, concretizar a linha da independência política, que é uma conquista mas que por si só está longe de dar conta dos desafios. Pensamos que isso se faz construindo efetivamente uma Frente de Esquerda Socialista Sem Patrões e Burocratas com a tarefa de organizar a luta direta contra o golpismo.
Nesse momento, a tarefa mais importante é colocar as massas antibolsoristas em movimento. Como o perigo neofascita é real e se fortalecerá no segundo turno a esquerda socialita – Polo e demais forças que se mantêm independentes – precisam imediatamente construir um acordo mínimo, uma frente política voltada centralmente para organizar e fazer uma exigência sistemática para destravar a unidade de ação de massas antibolsonarista na qual, obviamente, devemos atuar com programa e bandeiras próprias.
Nesse sentido, a tarefa imediata é convocar o ato organizado pela frente “Fora Bolsonaro” que ocorrerá amanhã em várias cidades do país. Em que pese que o chamado da direção desta frente – “a esperança vai vencer o medo” e “convidamos todas as pessoas que acreditam na democracia, na solidariedade, na convivência plural das diferenças, que almejam a superação da fome, do desemprego e das desigualdades e que tenham esperança e coragem de construir um futuro melhor para estarmos juntos no próximo dia 10 de setembro” – estejam muito aquém das necessidades, pois é a mobilização direta e auto-organizada das massas que vence o medo e é preciso um programa anticapitalista e independência dos patrões para lutar contra a fome, o desemprego e a desigualdade.
A esquerda socialista em unidade – em um só bloco da independência de classe – precisa convocar e participar desse ato para que possa se credenciar para continuar organizando de forma independente e exigindo que a burocracia da CUT, do PT, Lula e seus puxadinhos convoquem a mobilização para derrotar Bolsonaro. Todos ao ato do 10 de setembro para derrotar Bolsonaro nas ruas e nas urnas.