Seguindo o panorama mundial, consequência da guerra russo-ucraniana, os aumentos de combustíveis decretados em 05/08 pelo governo de Bangladesh, fez com que se realizassem manifestações massivas, como as do Equador, Panamá, Sri Lanka, etc…. Somente medidas anticapitalistas podem enfrentar a crise energética e as consequências econômicas da guerra.

Por Augustín Sena

Na sexta-feira (05/08), o governo anunciou um aumento de 42% para o diesel de 51,7% para a gasolina. Os protestos não se fizeram esperar. Milhares de trabalhadores e estudantes invadiram as ruas do país.

O preço da gasolina passará de 0,91 dólares para 1,37 dólares por litro. A mídia já chamou a medida de “o maior aumento da história”. De fato, desde a independência de Bangladesh em 1971, os preços dos combustíveis nunca subiram tanto.

Ecos da guerra

A Primeira Ministra Sheik Hasina justificou a medida pela crise energética internacional gerada pela guerra na Ucrânia. Nas últimas semanas, a falta de combustível provocou apagões de até 13 horas em várias cidades. Dez por cento das usinas elétricas do país foram desativadas.

O aumento dos preços internacionais fez com que a Bangladesh Petroleum Corporation (o importador estatal de petróleo) perdesse 84 milhões de dólares desde que a guerra começou. E o déficit externo está começando a pressionar a moeda nacional (o taka) a desvalorizar-se. Com o aumento, o governo espera equilibrar a balança comercial, mediante ataque direto ao bolso da popuação.

Mas as consequências de tal política recessiva podem ser catastróficas. O aumento atinge duramente uma classe trabalhadora já empobrecida. São esperados colapsos no transporte público e paradas na indústria de Bangladesh, uma economia fortemente dependente de importações de energia.

A resposta popular foi quase instantânea. Poucas horas após o anúncio da medida, dezenas de manifestações têm sido realizadas em todo o país. Houve protestos esporádicos em postos de gasolina na sexta-feira à noite. Marchas com lanternas varreram Dhaka, a capital, assim como os comícios de milhares de estudantes universitários.

As manifestações foram enfrentadas com forte repressão policial. Mas balas de borracha e gás lacrimogêneo não conseguiram deter os manifestantes, que construíram barricadas incendiárias nas ruas de Dhaka.

Como em Sri Lanka

Os protestos em Bangladesh parecem uma réplica da rebelião no Sri Lanka há apenas algumas semanas, em resposta a um aumento de combustível semelhante.

A verdade é que a guerra na Ucrânia está gerando tremores internacionais. A escassez de gás e a inflação estão provocando crises e greves em massa na Europa. E na periferia do planeta, a degradação das condições de vida está começando a desencadear revoltas populares.

Tanto Sri Lanka quanto Bangladesh, os vizinhos da Índia, são importadores líquidos de energia. O Sri Lanka depende quase exclusivamente do turismo para gerar divisas, o que explica facilmente a explosão popular diante da crise energética.

A economia de Bangladesh é um pouco mais industrializada. Três quartos de suas exportações provêm da enorme indústria têxtil, que é largamente monopolizada por empresas multinacionais que se aproveitam de mão-de-obra barata e de leis trabalhistas inexistentes. Este conglomerado de indústria e mão-de-obra precária emprega 3 milhões de trabalhadores de Bangladesh, 90% deles mulheres.

Mas, dois terços da população do país continua dependendo da agricultura, um setor marcado pela concentração da terra nas mãos dos latifundiários e pela dependência de combustível para irrigação. E com o aumento dos preços dos combustíveis, espera-se que a indústria têxtil encolha drasticamente. Isto poderia levar a milhares de demissões, além da já incessante queda dos salários. Somente durante este ano, a inflação ultrapassou 7%, a mais alta desde 2014.

Como no Sri Lanka, o governo de Bangladesh iniciou recentemente negociações de crédito com o FMI. Em julho, foi confirmado que o Fundo forneceria 4,5 bilhões de dólares ao país a fim de restaurar a sua balança comercial. Como sempre, o empréstimo tem cláusulas bem definidas, incluindo o corte de subsídios estatais de energia.

Como muitos governos capitalistas neste preciso momento, o governo de Bangladesh está em uma espiral interminável: escassez de energia, inflação, desvalorização, endividamento e crise social. Mas as medidas de recessão neoliberal só podem aprofundar o sofrimento do povo trabalhador. Somente medidas anticapitalistas podem enfrentar a crise energética e as consequências econômicas da guerra.