Por Luz Licht
2 de agosto de 2022
“A solidariedade americana com os 23 milhões de taiwaneses é hoje mais importante do que nunca, pois o mundo enfrenta uma escolha entre autocracia e democracia“, disse Pelosi.
O governo chinês condenou imediatamente a visita, com o Ministério das Relações Exteriores mantendo num tom ameaçador que a chegada prejudica seriamente a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan: “tem um impacto severo na base política das relações China-EUA e viola seriamente a soberania e a integridade territorial da China“.
Em 02/08 cedo, antes da chegada de Nancy Pelosi, os caças chineses voaram sobre a linha que divide o Estreito de Taiwan. Enquanto isso, a mídia estatal chinesa disse que o Exército de Libertação do Povo realizaria exercícios perto de Taiwan de quinta-feira a domingo.
A atmosfera está tensa e escalando dado que no dia anterior se informou que um destróier do exército chinês foi estacionado a 80 quilômetros da costa da Ilha Lanyu, localizada a sudeste de Taiwan. Os dois lados realizaram manobras militares durante o fim de semana, reavivando o conflito histórico sobre a “questão taiwanesa”. Neste contexto, diz-se que a China usou “munição real” em um exercício ao largo da ilha de Pingtan – localizada no Estreito de Taiwan a apenas 120 quilômetros da ilha. Na segunda-feira, cerca de 4.000 tropas de Taiwan e dos EUA se mostraram realizando manobras conjuntas.
Foto: An Rong Xu/Getty Images.
Este novo capítulo do conflito, além disso, acontece num clima geopolítico já aquecido pela guerra na Ucrânia e pela disputa entre China e Estados Unidos sobre a hegemonia imperialista diante do declínio relativo desta última.
O governo de Pequim reagiu de forma ameaçadora, vigorosa e imediatamente após o anúncio da possível inclusão de uma visita a Taiwan como parte do itinerário turístico da Ásia-Pacífico de Pelosi. Durante décadas, a República Popular da China e o governo do PC reivindicaram a soberania sobre a ilha, que eles consideram uma província rebelde.
O anúncio foi visto pela China como um giro provocador por parte dos EUA em sua política diplomática de “ambiguidade estratégica”. Embora os EUA sejam o principal fornecedor de armas de Taiwan, desde 1979 decidiu não manter relações oficiais com a ilha. A última visita de um Presidente da Câmara dos Representantes dos EUA foi em 1997, quando o republicano Newt Gingrich viajou para Taiwan.
O clima de tensão é tal que na quinta-feira, 28/07, Xi Jinping e Joe Biden realizaram uma conversa telefônica na qual negociaram uma possível cúpula presidencial, na qual o líder chinês advertiu o presidente dos EUA “para não brincar com fogo“. Por sua vez, os Estados Unidos dobrou a aposta, com o porta-voz da Casa Branca John Kirby declarando que Nancy Pelosi “tem o direito de visitar Taiwan“.
O território de Taiwan separou-se da China após a revolução anti-capitalista e anti-imperialista de 1949. Chiang Kai-Shek e o governo do Kuomitang fugiram para a ilha e desde então, inclusive, reclamam o controle total do território chinês. Diferentes posições foram experimentadas pelos setores capitalistas da ilha, desde a exigência de independência até o apelo à reunificação e a política de “uma só China”.
A classe dominante da ilha tem laços estreitos com o imperialismo americano. Além disso, está longe de oferecer uma opção progressiva ou emancipatória da burocracia que comandou a restauração capitalista no país após a revolução. Tanto o chines quanto o americano são projetos imperialistas diferentes que se confrontam excluindo as massas trabalhadoras e camponesas da resolução do problema da unidade nacional e da direção de seus destinos.