Milhares de pessoas foram às ruas contra o governo Bolsonaro nesse sábado (02) em diversos Estados. As manifestações do #02outubroforabolsonaro ainda que insuficiente para derrotar por si só o governo, foram muito importante. Ao menos 93 cidades do país, 26 Estados, além do Distrito Federal, mobilizaram-se. No entanto, a burocracia e opeleguismo de parte da direção da Frente Fora Bolsonaro colocam em risco a massividade da luta.
A política nunca se formula de brincadeira: se se faz uma proposta,
é para leva-la adiante. (Roberto Saenz, dirigente internacional da corrente SoB)
No momento de enorme decomposição das condições de vida dos trabalhadores, PT e centrais sindicais ignoram conscientemente a catástrofe social
ROSI SANTOS
A mobilização, como vem ocorrendo em todos os atos, é crescente e tem ajudado a aumentar a pressão e o tom da crítica sobre ao governo. Os atos do dia 2 ocorrem após o discurso irreal de Bolsonaro na Assembleia da ONU, a alta histórica do preço dos alimentos, a inflação dos combustíveis e produtos básicos, dentre eles o gás de cozinha e, por último, o escândalo das empresas offshore envolvendo Paulo Guedes, Ministro da Economia, em paraísos fiscais.
Uma temperatura política que manteve o povo na rua em manifestações, apesar de pouco convocadas as manifestações por parte importante de sua própria direção, como a CUT, que levou setores da direita tradicional e de centro a fazerem falas de apoio as manifestações contra ao governo.
A organização dos atos e direção da Frente ampla vêm colocando mais energia política para conciliar os interesses da representação de 20 partidos que a encabeçam do que com os interesses políticos das maiorias que já não suportam Bolsonaro, vide a queda vertiginosa da popularidade do governo.
Na avenida Paulista, em São Paulo, o protesto não andou apesar de tudo indicar essa necessidade. É fato é que ainda não estamos em plenas condições de mobilizar, mas não querer potencializar as massas que estamos colocando na rua, parece uma loucura ou crime político consciente.
Atos protocolares, como parece querer impor essa direção não derrotarão Bolsonaro, acabam por expor a militância ao cansaço e, principalmente, à desmoralização.
O ato foi marcado para as 13h na avenida paulista. Além do horário ruim, não houve a intenção dos organizadores em fazer um ato unificado de fato. Bandeiras, discursos, falas e colunas dispersas na multidão. Carros de som do PT tocando jingles apenas, despolitizando o caráter extremante político que deveria ter a ação, além de incentivarem aglomerações de pessoas dançando e cantando. Além disso, outro desconforto foi novamente a ausência de Lula, líder nas pesquisas para disputa da presidência em 2022, mas que não tem comparecido aos atos de oposição a Bolsonaro.
Diversos desses apontamentos fazem parte de uma série de discussões que estamos desenvolvendo em nossos materiais sobre o caráter dessa Frente e o papel do PSOL frente a ela. A luta contra o governo Bolsonaro coloca estratégicas e táticas próprias às mobilizações sociais que possam apresentar uma proposta política de país que resolva a crise social. Para isso, não pode conter um alinhamento eleitoral com o candidato de um partido que, além de possuir parcela de responsabilidade ao momento político, sequer aposta nas mobilização de massa. A unidade por cima das manifestações não pode representar as mobilizações e nem ampliar a participação nas ruas.
A manifestação em São Paulo tinha muito potencial, chegou a tomar ao menos 10 quarteirões da Avenida Paulista. Organizadores e alguns órgãos de impressa falam em 100.000 presentes, contra estimativa tendenciosa da Polícia Militar de 8.000. Boulos e o ex-pessolista Marcelo Freixo, deputado federal eleito pelo PSOL que migrou para o PSB, foram os mais aplaudidos pelos manifestantes.
Boulos pontuou que o Brasil real estava ali e não nas manifestações fascistas de Bolsonaro, governo que fez o Brasil ir para a fila do osso, referindo-se ao aumento exorbitante dos preços e a insegurança alimentar. Já Freixo, que subiu de mãos dadas com Fernando Haddad (PT), fez uma fala agitativa pela unidade.
Mas o destaque, infelizmente, foram as manobras burocráticas que levaram, por exemplo, a direção do ato a negociar com a Polícia Militar a não saída do ato massivo na Paulista. Isso foi um enorme crime político que desmotiva a mobilização em um dos principais centros do país e no estado da chamada terceira via eleitoral, protagonizada primeiro por João Dória do histórico PSDB no estado. E em segundo lugar, pelo Movimento Brasil Livre (MBL) que vem acomodando sob seu guarda-chuvas setores cada vez mais amplos e dispersos da juventude.
De alguma maneira já conhecemos esse filme em que a proximidade com calendário eleitoral se intensificam as pressões eletoralistas. É nosso papel diante desafio da esquerda combativa se colocar a EXIGIR cada vez das direções cutista, CUT e PT a mobilização de base em locais de trabalho e estudo e se jogar de fato as mobilizações. Em um país em que 70% da população não dispõe de banda larga de internet era imprescindível políticas alternativas das diversas organizações. do PT e de seus aparatos na divulgação do ato. Tem sido a vanguarda lutadora, em sua maioria do PSOL, que tem realizado panfletagens e divulgações que convocam os atos.
Sobre a ausência sistemática, tanto na convocação quanto nas ruas, Lula diz querer evitar ser acusado de fazer campanha antecipada e que também se protege do contagio do Covid-19. A verdade é que o ex-presidente vem fazendo excursões no norte e nordeste do país, além de se reunir constantemente com nomes da política burguesa nacional para fazer acenos para 2022. Lula hoje não tem o que dizer a população brasileira e foge do ajuste de contas dos governos petistas e suas alianças, mas quer sim mais um novo governo de conciliação de classes como alternativa a Bolsonaro.
Nesse sentido, o bolsonarismo distorcidamente acerta quando diz ao seu eleitorado raivoso, desinformado em sua maioria e muitos rompidos pela direita com o PT, de que se trata de uma disputa eleitoral da esquerda. Ou seja, as burocracias cutistas e petistas não só não estão apostando nas mobilizações em primeiríssimo lugar, como engrossam a narrativa distorcida do bolsonarismo de uma esquerda oportunista, hegemonizada pelo PT e por Lula.
Enquanto isso, a classe dominante se aproveita para dar suas últimas facadas a classe trabalhadora brasileira, a principal delas a venda de nossas principais. O desgaste com relação ao governo é enorme, levando a graves problemas objetivos, como a volta ao mapa da fome, e subjetivos catastróficos da saúde mental da população. Mas tudo isso não parece sensibilizar as direções políticas que falam em nome da classe trabalhadora e não as fazem produzir nenhuma movimentação política para a luta real.
Por isso, insistimos no poder da educação das massas, pois sabemos que a política de resolver a situação por via meramente institucional, de derrotar Bolsonaro nas urnas é desastrosa. Pois. além de Bolsonaro ser muito pior que Michel Temer, que terminou o mandato mesmo sendo uma figura política nefasta, Bolsonaro insiste em levar o país até beira do precipício para salvar a si e sua família de crimes imperdoáveis.
Nossas divergências com o reformismo e com o petismo são conhecidas, mas independente disso, é preciso reconhecer que o fisiologismo político petista segue levantando muitas dúvidas, não só sobre o real programa do PT, bem como sua urgência para derrotar Bolsonaro parecer apenas discurso para 2022. Apenas sangrando o atual governo genocida até as próximas eleições para eleger Lula, enquanto segue esse projeto político miliciano, golpista e antipopular rejeitado pelo mundo todo.
A manifestação foi maior que o de 12 de setembro, organizado pelo Movimento Brasil Livre, e um pouco menor que o ato convocado pelo presidente no dia 7 de Setembro no mesmo local. Apesar dessas burocracias eleitoralista, é inegável que a mobilização tem dado a tônica na conjuntura política e que podem nesse momento emplacar uma derrota ao governo com uma luta mais massiva e ativa que pode ser puxada pela disparada da inflação.
Por isso, é parte da luta decidir como e para que se faz a mobilização. E isso passa pela construção e organização das mobilizações desde a base, de forma massiva e democrática, ou seja, com tudo e com todos contra esse governo de genocidas.
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