Balanço do ato antifascista liderado pelas torcidas organizadas

A importância da Unidade de ação nesse momento de escalada de polarização política

As manifestações ocorridas nesse domingo (31/05) levantaram debates nas redes sociais sobre a luta antifascista, parcialidade da polícia frente às manifestações em prol da democracia e sobre a emergência ou não de se adotar manifestações com distanciamento social. O fato é que os atos apontaram que a realidade vai estar a cada dia mais dinâmica e, sendo pertencente ou não ao movimento antifascista, o que não se pode ter é dúvidas de que lado estar nesse momento de acirramento político.

ROSI SANTOS

Depois de inúmeros eventos unicamente da direita nas ruas, nesse domingo, pelo menos cinco grandes capitais realizaram manifestações em defesa da democracia com distanciamento social em plena pandemia. Essas são as primeiras grandes manifestações desde o início da quarentena. No Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e, principalmente, em Porto Alegre e em São Paulo, as torcidas organizadas tem sido pioneiras; sendo as primeiras e únicas até agora a organizar manifestações de enfrentamento à direita bolsonarista.  

No Rio de Janeiro também houve uma manifestação organizada pelo movimento Vidas Negras Importam cobrando justiça pelo assassinato do jovem João Pedro, que foi assassinado pela polícia dentro de casa. O movimento também realizou solidariedade a George Floyd, homem negro assassinado por um policial branco. Fato que está motivando uma onda de protestos nos EUA com grande repercussão internacional.

Nós, da corrente Socialismo ou Barbárie e Esquerda Web, vinhamos apontando em nossos editoriais a inadiável necessidade de manifestações com distanciamento social diante da conjuntura dramática que nosso país se encontra. A constatação popular de que o governo Bolsonaro é representante apenas da burguesia e da direita ultraconservadora e que estes não estão dispostos a ceder nem um milímetro mesmo que isso custe literalmente à vida do povo.

A até então presença assídua da direita sozinha nas ruas foi quebrada no último domingo. Ato que deve ser continuo e ampliado, com manifestações amplas organizadas pela esquerda em unidade com o conjunto do movimento social. Porém, respeitando as normas sanitárias e de distanciamento social, coisa que a direita ignora.

Em nossa opinião, restringir a luta somente às redes sociais é um crime político porque as instituições do estado burguês não podem assegurar os direitos democráticos que estão sendo ameados por esse presidente neofascista e seu governo, além de ser um total descolamento com a realidade objetiva de milhões de brasileiros que não têm a opção de ter uma quarentena, pois não contam com garantias materiais mínimas para tanto.

É a juventude negra e periférica, os trabalhadores precarizados sem direitos, as mulheres em meio ao descaso institucional e outros grupos oprimidos, aqueles que mais estão sofrendo. Além disso, estão sendo bombardeados somente com uma narrativa e com um verdadeiro circo dos horrores, interpretado nas ruas pela direita, que falsamente se que apresenta como o “povo brasileiro”.

Por isso, saudamos todos os atos de domingo, pois foram os membros antifascistas das torcidas organizadas que souberam captar a necessidade do momento e se colocar à altura da urgência política, apesar das suas divergências futebolísticas.

A exemplo dos manifestantes negros e latinos, que nos Estados Unidos estão sendo categóricos contra o governo Trump e sua supremacia branca, no Brasil estas manifestações podem ser a ponta de lança de um movimento que, se bem canalizado, pode levar a uma forte reação popular contra a necropolítica desse governo frente à pandemia e da ameaça cada dia mais evidente de risco a democracia.

Companheiros e muitas companheiras em meio à pandemia do coronavírus foram às ruas como forma de contraposição aos atos dos bolsonaristas, unificando-se em uma única tática e entendendo o real significado da unidade de ação, muitas vezes ditas mas poucas vezes praticada nos últimos tempos, mas essa lógica está mudando.

O ato em São Paulo

Integrantes do Socialismo ou Barbárie e do coletivo feminista socialista Vermelhas se juntaram à convocação e estiveram na manifestação pela democracia em resposta ao ato da direita, nesse domingo. Aproximadamente 3 mil manifestantes compareceram à Avenida Paulista, dentre eles: torcidas organizadas, movimentos antifascistas e, em uma maioria esmagadora, sem denominação político-partidária. Foi um movimento que teve em seu interior um caráter extremamente antirracista e de defesa da democracia.

A polícia fez o seu papel de sempre. Por um lado, blindou os cerca de 60 bolsonaristas, muitos sem máscaras, em sua mini manifestação proto fascista que, apesar de pequena, não deixa de ser menos perigosa. E, por outro, reprimiu o ato em defesa da democracia.

A violência policial iniciou-se logo após 3 apoiadores do presidente passarem no meio da manifestação em defesa da democracia. Dois vestindo a camiseta da seleção brasileira e outro trajando roupas camufladas do exército com símbolos neo-nazistas, em uma nítida provocação aos manifestantes pró-democracia. Isso escancara o mais importante: o quão à vontade se encontra essa extrema direita para expressar o seu ódio e intolerância, pois tem a certeza de contar com a defesa do aparato do Estado.

Outro exemplo disso foi o ato, em claro saudosismo à Ku-Klux-Klan, liderado pela antifeminista Sara Winter no sábado a noite diante do Superior Tribunal Federal em Brasília. É inaceitável as seguidas demonstrações de permissividade e parcialidade das instituições com esses atos que, além de serem antidemocráticos,racistas e persecutórios, constituem crimes e não liberdade de expressão.

As polêmicas não devem estar acima da unidade na ação

Neste momento a pior coisa que pode acontecer é a esquerda socialista ignorar esses eventos, bem como a forma banditista que se organiza e se movimenta esse governo e seus funcionários. Para enfrentar essa situação, precisamos empregar a nossa maior força para derrotar o bolsonarismo, o que só pode ocorrer com a unidade de ação entre amplos setores do movimento social.

Não podemos contar com a boa vontade institucional que, apesar de importante, como as investigações do STF, os pedidos de impeachment e de cassação da chapa Bolsonaro-Mourão, tem seus limites e seu próprio tempo – muito mais lento do que requer a luta política atual. Além do mais, não podemos deixar a direita tradicional, atualmente personificada nas figuras de João Dória em São Paulo e de Wilson Witzel no Rio de Janeiro, apresentar-se cinicamente como defensora do povo, pois a falta de independência política só nos levará a um beco sem saída.

Por isso, acreditamos ser fundamental que os partidos de esquerda, movimentos sociais, coletivos feministas, juventude e aqueles que estão fora do quadro de risco do Covid-19, respeitando o distanciamento social, unifiquem-se nas manifestações no próximo domingo. Somente a solidariedade com os que mais estão sofrendo nesse momento e a unidade de ação podem ser capazes de derrotar o Governo e se apresentar como alternativa de esquerda, ou seja, real para atender às necessidades das massas populares.

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