As manifestações organizadas por Bolsonaro e seus seguidores no dia 7 de setembro foram um ensaio golpista. Tiveram como objetivo testar a capacidade do governo impor um golpe antes, durante ou depois das eleições de outubro de 2022. Essas são ameaças que devem ser levadas a sério e respondidas com a mais ampla mobilização para impor a queda deste governo ultra reacionário antes que o mesmo possa acumular forças e impor um golpe de fato. Assim, a construção da mais ampla unidade de ação, com independência política, programática e organizativa, para derrotar Bolsonaro nas ruas é a tarefas mais importante que a classe trabalhadora deve se colocar na atual situação política.
ANTONIO SOLER
Além do golpismo que ameaça o direito de organização e luta dos trabalhadores, o presidente e seus aliados são responsáveis por milhares de mortes pela Covid-19, por graves crimes cometidos antes e durante o seu governo e pela catástrofe social – desemprego, arrocho salarial e miséria – em que está metida a maior parte da população. Por essa razão, aumenta a impopularidade de Bolsonaro que trabalha cada vez mais com a hipótese de se manter no poder através de medidas golpistas, tal como não respeitar decisões do congresso, da justiça ou o resultado eleitoral do próximo ano.
Como o ensaio golpista não teve ainda a adesão necessária e repercutiu de forma negativa no mercado financeiro, no empresariado, no congresso e na ampla maioria da população, o governo deu um passo atrás através da carta escrita por Michel Temer (golpista mor). No entanto, não é porque o golpe ainda não foi pra valer, foi um ensaio meio torto, e porque Bolsonaro deu um passo atrás, que as ameaças não sejam perigosas ou não devam ser levadas a sério por todos.
A repercussão negativa diante do ensaio golpista de 7 de setembro não significa que a maioria da classe dominante, da justiça e do congresso está disposta a depor o governo. Apesar de todo o ruído que causa Bolsonaro, este continua garantindo ataques aos trabalhadores, altas taxas de lucro e os privilégios da oligarquia política e do empresariado.
Por tudo isso, os únicos que podem criar uma conjuntura que possa tirar Bolsonaro do poder e impor um governo que não seja negacionista, liberal e que não esteja a serviço dos interesses da classe dominante são os trabalhadores em sua luta permanente.
Golpismo se derrota nas ruas
Apesar de uma forte mobilização que tomou as ruas neste ano pelo impeachment de Bolsonaro nos últimos meses, ainda faltam as condições necessárias para impor sua queda. E a principal delas é a ampla mobilização das massas trabalhadoras, oprimidas e empobrecidas por esse governo e pelos patrões.
A ausência ainda de um movimento capaz de derrubar este governo não ocorre apenas pela ação da classe dominante, da direita, das instituições ou da mídia. Ela tem a ver também com a estratégia eleitoreira da maior parte da esquerda, particularmente da esquerda lulopetista – a esquerda da ordem.
Essa estratégia consiste em colocar tudo a serviço das eleições de outubro do próximo ano, em tratar as mobilizações como meros pontos de apoio para a candidatura de Lula e em considerar que é melhor levar a disputa com Bolsonaro para o segundo turno do que derrotá-lo já nas ruas.
O lulopetismo quer sangrar lentamente o governo sem matá-lo. Essa estratégia é extremamente perigosa porque, apesar da queda de popularidade, Bolsonaro não é cachorro morto, tem base de apoio significativa em vários setores e instrumentos para recompor sua popularidade e chegar em outubro de 2022 em condições de disputar o poder, ganhando ou perdendo as eleições.
Nossa batalha hoje para derrotar o bolsonarismo passa centralmente pela mais ampla unidade de ação pelo impeachment e por organizar desde a base Comitês Anti Golpistas.
Nessa construção da unidade para lutar temos que nos separar tanto do sectarismo, que não aceita ações pontuais com todos que estejam pelo Fora Bolsonaro, quanto do oportunismo daqueles que querem diluir nossas colunas, nossas bandeiras e nossos palanques com a direita liberal. Já os Comitês Anti Golpistas devem ser organizados junto aos trabalhadores, juventude e movimentos como um todo e estar a serviço da agitação, propaganda, mobilização e organização da luta nas ruas, como da necessária segurança contra a violência da extrema direita.
Nós do Socialismo ou Barbárie, como tendência interna do PSOL, somos a favor de uma candidatura própria no primeiro turno das próximas eleições, mas não podemos desconsiderar a popularidade e liderança que o lulopetismo e suas centrais sindicais exercem sobre amplos setores de massas.
Porém, de nada adianta ter 44% de intenção de votos, segundo a última pesquisa DataFolha, se essa popularidade não é usada na tarefa central hoje que é colocar contingentes gigantescos nas ruas para derrubar Bolsonaro antes que possa se recuperar e efetivamente não permitir – através de um golpe – que o povo trabalhador possa decidir soberanamente. Por essa razão, Lula tem a obrigação política de convocar os atos pelo Fora Bolsonaro, a começar pelo próximo, que ocorrerá no dia 2 de outubro em todo o país.
