Michael Roberts
Apenas 56 milhões ou 1% dos 5,3 bilhões de adultos do mundo são milionários em termos de riqueza líquida. E eles possuem 45% de toda a riqueza pessoal global. Os outros 99% possuem o resto e há quase 3 bilhões de pessoas no mundo que têm pouca ou nenhuma riqueza (depois de deduzidas as dívidas).
Todos os anos eu escrevo sobre as conclusões do informe anual Credit Suisse Global Wealth Report. Produzido pelos economistas Anthony Shorrocks (com quem me formei na universidade), James Davies e Rodrigo Lluberas, é o estudo mais abrangente da riqueza pessoal global e da desigualdade entre adultos em todo o mundo.
No relatório de 2021, os economistas constatam que a brecha de riqueza global aumentou durante a pandemia de Covid, aumentando as fileiras dos milionários do mundo em 5,2 milhões, já que os ricos aproveitaram o aumento do valor das ações e dos preços das moradias. Cito: “Durante a pandemia, cortes emergenciais nas taxas de juros e medidas de estímulo do governo muitas vezes beneficiaram aqueles que menos precisavam do apoio público, ajudando seus ativos a crescer em valor apesar da retração econômica“.
O relatório conclui que os milionários em dólares representam agora mais de 1% da população mundial pela primeira vez na história: 56,1 milhões de pessoas tinham ativos no valor de mais de US$ 1 milhão (£ 720 milhões) em 2020. Compare-se isto com a média da riqueza media por adulto no mundo de pouco menos de US $80.000.
No total, a riqueza global cresceu 7,4% para US$ 418,3 trilhões em 2020, com estes ganhos atribuídos em grande parte ao crescimento nos EUA, Europa e China, enquanto que a riqueza global na América Latina e na Índia diminuiu.
Espera-se que a riqueza global aumente mais 39% nos próximos cinco anos para 583 trilhões de dólares até 2025, enquanto o número de milionários deverá aumentar em quase 50% para 84 milhões de pessoas. O grupo de pessoas suficientemente ricas para serem incluídas entre as super ricas também deve aumentar em quase 60%, para 344.000 pessoas.
A riqueza global total cresceu 7,4% e a riqueza por adulto aumentou 6% para atingir outro recorde de US$ 79.952. O relatório conclui que “em geral, os países mais afetados pela pandemia não se agravaram em termos de criação de riqueza. Em resumo, não há nada no gráfico que sugira que os choques econômicos de 2020 se assemelharão aos vividos em 2008. A riqueza doméstica parece ter simplesmente continuado em seu caminho, prestando pouca ou nenhuma atenção aos choques econômicos que deveriam ter impedido seu progresso“.
A riqueza global agregada aumentou em 28,7 trilhões de dólares para chegar a 418,3 trilhões de dólares no final do ano. Temos que comparar com um PIB global anual de cerca de 100 trilhões de dólares, portanto, é cerca de quatro vezes maior. Em termos atuais de dólares americanos, a riqueza total cresceu 7,4% e a riqueza por adulto aumentou 6,0%. No entanto, a depreciação generalizada do dólar americano foi responsável por 3,3 pontos percentuais de crescimento. Se as taxas de câmbio tivessem permanecido as mesmas que em 2019, a riqueza total teria crescido 4,1% e a riqueza por adulto 2,7%.
A riqueza global média por adulto em 2000 foi de US$ 31.378. Excluindo a inflação, a riqueza média é agora 2,5 vezes seu valor na virada do século. Onde esta riqueza adicional se acumula? A América do Norte e a Europa foram responsáveis pela maior parte dos ganhos de riqueza em 2020. A riqueza total mal mudou na África, e a apreciação da taxa de câmbio explica que houve pouca mudança. A Índia e a América Latina registraram perdas em 2020. A riqueza total caiu na Índia em 4,4%. A América Latina parece ter sido a região mais atingida, com a riqueza total caindo em 11,4%, ou US$ 1,2 trilhão. Dado que estas regiões são as mais atingidas pela pandemia, isto não é uma surpresa.
A mudança na riqueza por adulto é o melhor índice para comparar o desempenho de diferentes países. De acordo com esta metodologia, a riqueza média por adulto aumentou mais na Suíça e na Austrália. O aumento dos preços dos ativos desempenhou um papel em alguns desses países, especialmente nos Estados Unidos. Mas a valorização da moeda é a principal explicação para a maioria desses aumentos na riqueza média. Isto significa que as moedas nacionais se valorizaram em relação ao dólar americano para aumentar a riqueza em dólares.
Um gráfico chave no relatório que eu sempre mostro é a pirâmide da riqueza. Ela resume a distribuição da riqueza entre todos os adultos do mundo. O relatório estima que 2,9 bilhões de pessoas, 55% de todos os adultos do mundo, tinham riqueza abaixo de US$ 10.000 em 2020. O segmento seguinte, composto de pessoas com riqueza na faixa de US$ 10.000 a US$ 100.000, viu o maior aumento em números neste século, mais do que triplicando de 507 milhões em 2000 para 1,7 bilhões em meados de 2020. Isto reflete a crescente prosperidade das economias emergentes, especialmente da China.
Em 2020, se você tiver uma riqueza pessoal (ativos financeiros + propriedade – dívida) de mais de US$ 129.000, você está entre os 10% maiores detentores de riqueza global e se você tiver mais de US$ 1 milhão de riqueza, você está entre os 1% maiores do planeta. Em outras palavras, existem bilhões de pessoas com pouca ou nenhuma riqueza (financeira e patrimonial) no mundo. A desigualdade na riqueza é extrema.
Os Estados Unidos têm de longe o maior número de milionários: 22 milhões, ou 39,1% globalmente, muito à frente da China, que ocupa o segundo lugar com 9,4% de todos os milionários no planeta.
E quanto aos super-ricos, com mais de 50 milhões de dólares em riqueza? Há mais de 215.000 pessoas neste grupo, aquelas que governam a 7,9 bilhões de pessoas. Eles experimentaram o maior aumento em sua riqueza durante a pandemia. Como dizem os autores do relatório: “Isto é particularmente marcante em um ano de convulsões sociais e econômicas. A natureza da resposta política à pandemia tem, é claro, desempenhado um grande papel neste contexto”.
Como já argumentei em várias notas, não se presta atenção suficiente à desigualdade de riqueza em comparação à desigualdade de renda, seja dentro de um país ou globalmente.
Como diz o relatório do Credit Suisse, a desigualdade de riqueza é muito mais desigual: “Por qualquer padrão, a desigualdade de riqueza é alta em todos os países e excepcionalmente alta em alguns. As taxas mais ou menos típicas seriam de 35% para a participação dos primeiros 1% e 65% para a participação dos primeiros 10%“. A medida da desigualdade de Gini é usada para medir a desigualdade geral na renda e na riqueza. Na riqueza, os valores de gini são muito superiores aos valores correspondentes de desigualdade de renda ou qualquer outro indicador padrão de bem-estar. Como observei anteriormente, Brasil, África do Sul e Rússia lideram o mundo na desigualdade de riqueza e, entre as economias avançadas, os Estados Unidos são as mais desiguais de todas.
Olhando para aqueles na base da liga da riqueza, os economistas do Credit Suisse estimam que os 50% dos adultos na base da distribuição da riqueza global juntos representavam menos de 1% da riqueza global total até o final de 2020. Em contraste, o decil mais rico (os 10% mais ricos dos adultos) detém 82% da riqueza global e o percentil superior, por si só, detém quase metade (45%) de todos os bens domésticos. Estas proporções mal mudaram em 20 anos.
A China fez de longe a maior contribuição para o crescimento da riqueza neste século. Os economistas do Credit Suisse estimam que “entre agora e 2025, esperamos que a China seja responsável por mais de um quarto do aumento da riqueza domiciliar registrado globalmente”. E isso significará que “a riqueza da China por adulto em 2025 a qualificará como um país de ‘alta riqueza’ em nosso esquema de classificação. A China começou este século com uma riqueza média de US$ 4.250 por adulto, na categoria de riqueza mais baixa do ranking por país. Subir para a categoria mais alta em um período de 25 anos é uma conquista extraordinária por qualquer padrão”.
A riqueza financeira global tem superado a riqueza não financeira a cada ano deste século, exceto em 2008. É a especulação nos mercados financeiros que tem enriquecido ainda mais os super-ricos. Por exemplo, o último número de desigualdade da riqueza financeira nos EUA é verdadeiramente espantoso. Os 1% mais ricos dos lares americanos possuem agora 53% de todas as ações e fundos mútuos detidos pelos lares americanos. Os 10% mais ricos possuem 87%!
De fato, como mostra outro estudo, o 1% do topo dos super-ricos mundial aumentou muito sua riqueza durante a pandemia, especialmente nos lugares onde as famílias foram mais afetadas pela pandemia, como Rússia, Suécia, Brasil, Índia e Estados Unidos.
É o mesmo em todo o mundo, para os ricos é o prazer, para os pobres é a culpa.
Tradução do inglês Simpermisso
Publicado em http://izquierdaweb.com/el-1-posee-el-45-de-la-riqueza-personal-del-mundo/
Tradução do espanhol José Roberto Silva